O "Ídolos" voltou este sábado, 9 de abril, sete anos depois da última temporada, e foram várias as mudanças no formato (menos o logótipo, que parece ter sido feito no paint do Windows 2000). Há novos jurados — um quarteto fresco e com o reforço de Joana Marques, a "Extremamente Desagradável", candidata ao lugar de Manuel Moura dos Santos, mas com mais humor e menos sono — e nova apresentadora, Sara Matos, que foi mãe há quase sete meses e arrasa em cada outfit que apresenta no programa.
Podemos dizer que Sara Matos é uma nova versão dos cobiçados looks de Diana Chaves, sempre deslumbrante, mas Sara abusa mais no que está nas últimas tendências da moda, como as cores néon e calções estilo ciclista justos, tornando-se um ídolo do que vestir na semana que se segue à emissão do programa (que se repete todos os sábados). De todos os looks de Sara Matos escolhidos para a estreia, aquele de que gostámos mesmo foi do estilo tipo Barbie, com umas botas rosa, um conjunto em tons verde água e rosa a combinar com o calçado e o cabelo cujas ondas parecem ter sido feitas com uma prancha de brincar.
A brincar a brincar, Sara Matos é uma corajosa que se aventura sozinha, meses após ser mãe, na apresentação do formato que até aqui teve sempre duplas (exceto na última edição, conduzida apenas por Manzarra): Sílvia Alberto e Pedro Granger e Cláudia Vieira e João Manzarra. Só no primeiro episódio de "Ídolos", Sara Matos já mostrou que dá conta do recado, até porque tem dois braços calorosos sempre a envolver os concorrentes, quer tragam ou não o bilhete dourado para a próxima fase.
Uma porta separa a nova apresentadora do novo painel de jurados, que esperam os concorrentes na sala de audições, composto por igualdade de género: nas mulheres, temos Joana Marques, guionista, humorista e autora da rubrica "Extremamente Desagradável" da Renascença (veia que já começou a levar para o talent show da SIC), e a cantora Ana Bacalhau, sempre animada; e a dupla masculina é composta por Pedro Tatanka, fundador e vocalista dos The Black Mamba, que tem sempre uma palavra simpática para os concorrentes e só queríamos que fosse o nosso conselheiro em horas difíceis; e o maestro Martim Sousa Tavares, uma espécie de Pedro Boucherie Mendes, pela postura séria, que está sempre a tirar notas e a dar feedback técnico para que os concorrentes que saem de mãos vazias vão pelo menos com alguns ensinamentos.
Neste novo formato, com caras novas, o restante mantém-se semelhante — gira tudo à volta de audições e cortes para contar as histórias mais tocantes de alguns concorrentes — à exceção de um ponto que achámos positivo: menos ênfase nos cromos. É um facto que alguns até tinham potencial para tal, mas nesta nova edição reduziram-se as animações que ridicularizam os concorrentes, as repetições sonoras e visuais que sublinham os fracassos e todos os tipos de efeitos que pudessem estar no limite do bullying e causar danos colaterais aos concorrentes.
Mais saudável, mais fun e com potenciais vencedores, contamos tudo sobre o regresso de "Ídolos" que até mereceu um "ámen".
João, o filósofo que emocionou com “I wish you were”
João Marques, 20 anos, é de Mem Martins e foi até ao Parque das Nações, onde decorreram as audições, completamente às escuras. Não sabia para quem iria cantar, porque escolheu viver uma “bolha de realidade”, como caracterizou o maestro Martim Sousa Tavares, e não saber o nome dos jurados. "Eu gosto muito de filosofia, então escondi-me na caverna de Platão", disse o concorrente que gosta de tudo o que o faça pensar.
A entrada na sala da audição foi feita ao som de uma música ao estilo de circo que nos deu a impressão de tratar-se do primeiro cromo do programa, mas à medida que se apresentava, fomos percebemos que de cromo João não tem nada. Entrou no Conservatório com apenas 5 anos, é cantor, pianista, ator e o primeiro concorrente do Ídolos a conquistar-nos. Apresentou-se como showman e não fugiu à definição.
João perdeu o pai há sete meses, ponto sensível que nos tocou desde o momento em que antes de entrar na sala esteve em conversa com a mãe, a quem mostrou uma fotografia do pai que guarda na carteira. Longe, mas perto, o pai foi com João para a sala de audições onde cantou um tema simbólico: “I wish you were” ("desejava que aqui estivesses", em português traduzido e falado quando o concorrente explicou a escolha do tema). "É uma homenagem. Aliás, estou a tocar guitarra porque era o instrumento do meu pai [fadista], esta guitarra era do meu pai", revelou aos jurados que foram percebendo que esta não era uma atuação qualquer.
Apesar de inicialmente emocionado e de ter desafinado no primeiro verso, João cumpriu com a sua homenagem, emocionou os jurados, emocionou-nos e conquistou um lugar no programa. Pode não ter o seu maior desejo realizado, que o pai estivesse aqui, mas conseguiu quatro 'sim' e um quinto nosso.
A carrinha funerária do Dário que já ficou lendário no programa
Esqueçam os anéis de rubi, os beijos soltos da Ala dos Namorados, queremos mais "Vira-Vira", em particular cantado por Dário. Ouvir o chamado Dário Lendário (de nome verdadeiro Dário Gonçalves), 27 anos, foi uma lufada de ar fresco e a prova de que qualquer estilo musical cabe no "Ídolos".
Aos primeiros versos de Dário cantados à capela — "fui convidado pra uma tal de suruba/Não pude ir, Maria foi no meu lugar" —, os jurados começam a bater palmas, Pedro Tatanka dos Black Mamba levantou-se e nós em casa já tínhamos o pé a bater ao ritmo da música, isto antes de o refrão já estar ponta da língua para acompanhar a atuação lendária.
"Roda, roda e vira, solta a roda e vem" e Dário foi e vai voltar a estar em frente aos jurados. Apesar de Joana Marques ter sido, como habitual, desagradável e dar um não a Dário, foi a única e Dário Gonçalves saiu de bilhete dourado na mão e cheio vida. Por falar nisso, vida é o que este homem sabe dar, tanto que transformou uma carrinha funerária abandonada numa sucata, a que chamou "A Falecida", na sua melhor companheira para levar a música por toda a aldeia onde vive em Fafe.
Jurados ignorantes ou Adriano à espera de um milagre
“Girassol”, de Whindersson Nunes, diz-vos alguma coisa? A nós não, aos jurados idem, mas para dúvidas o brasileiro Adriano Santana, de 24 anos, dá uma ajudinha. "Está perdido? Eu posso encontrar", disse a Pedro Tatanka, após ficar surpreendo pelo facto de os jurados não conhecerem o tema original que interpretou.
Os jurados lançaram outras referências musicais como sugestão para Adriano cantar, mas esses já o concorrente não conhecia. Elis Regina, Ivete Sangalo, Seu Jorge foram alguns, e ainda Netinho, nome que, ao ser referido, levou automaticamente para "Mila" e um canto em coro do painel de jurados, ao mesmo tempo que na cabeça de Adriano só ecoava uma melodia: "cri, Cri", onomatopeia que representa o quão perdido que estava.
O que é facto é que jurados e concorrente não estavam em sintonia em conhecimento musical e a atuação ficou aquém. "A matéria prima pareceu-me pobre e ai fica difícil fazer um milagre, mesmo falando de Jesus e dessa luz", disse o maestro Martim Sousa Tavares sobre o tema com algumas referências religiosas. Contudo, de nada valeram a Adriano, que levou quatro 'não', mas mesmo assim saiu a cantar (só para o caso de haver um arrependimento dos jurados).
O pai, o filho e o Espírito Santo. Ámen, Miguel Pavia
Miguel Pavia. O alentejano de 17 anos que tem alma e postura de gente grande. Ao contrário do brasileiro Adriano Santana, a fé de Miguel Pavia não está nos versos do que canta, mas no espírito que bebe todos os domingos quando vai à missa em Beja. Até pode gostar dos cânticos religiosos e poderia ter escolhido algo como "O Senhor é Meu Pastor" a ver se o encaminhava para as próximas fases, mas não foi preciso nada disso.
O membro do grupo "Encantados", criado durante a pandemia, foi encantar para as bandas do programa da SIC, no qual compareceu acompanhado da família: o pai, o filho e o Espírito Santo. Foi o filho que entrou para a sala e esqueçam lá cantos religiosos. Miguel escolheu “Guarda-me Esta Noite”, de Válter Lobo, tema que cantou de olhos fechados como se estivesse a rezar (ou, nas palavras de Joana Marques, em transe para os menos religiosos).
No final até dissemos "ámen" pela intensidade da atuação que valeu quatro 'sim'. Miguel Pavia já foi apelidado de Ian Curtis do Alentejo por Martim Sousa Tavares e estamos ansiosos para saber o que nos guarda esta réplica do vocalista do grupo Joy Division.
A dançarina que foi ao "Ídolos" em vez de ir ao "Got Talent Portugal"
Das duas uma: ou enganou-se na audição e em vez de subir ao palco do "Got Talent Portugal" foi parar ao "Ídolos" ou Catarina Monteiro, de 24 anos, queria mesmo ser a versão 2.0 da Shakira que deixou Luís Jardim por volta de 2004 sem palavras.
Catarina entrou, anunciou a sua paixão pelo canto e pela dança, colocou a música no telemóvel, arranjou um microfone fictício, deu (bastante) movimento aos caracóis e à anca e cansou-nos só de a ver sem fôlego e a saltar alguns versos (agudos) que deixou para o áudio que a acompanhava.
Não fomos os únicos a ficar afetados pela atuação, Joana Marques até ficou tonta. “Confesso que fiquei tonta com tanto abanar de cabeça. Portanto, ao nível da anca estas igual à Shakira. Ao nível da voz não acho tanto. Penso que não seja o suficiente para estar no Ídolos", disse a jurada. Talvez no "Got Talent Portugal" até passasse, mas perante o título do tema, “Objection” (objeção em português), a avaliação só podia ser uma: quatro nãos.
Beatriz entrou a arrasar e saiu de mãos a abanar
"Deixa eu me apresentar, que eu acabei de chegar. Depois que me escutar, você vai lembrar meu nome". Foi assim, logo a cantar, que Beatriz Matos, 28 anos, entrou na sala da audição. Foi original, sem dúvida, mas só se esqueceu de uma coisa: do nome. Como é que os jurados poderiam lembrar-se do nome depois de a "escutar" se nem o disse. Não seja por isso, apresentou-se logo de seguida e afirmou de imediato que tem o que é preciso para ganhar o Ídolos: "Confiança, autoestima e vontade". "E um bocadinho de talento", lembrou Joana Marques. E bem.
Apesar de ter sete músicas escritas e produzidas, Beatriz escolheu o tema “Creep” de Radiohead e a verdade é que foi um quanto levado à letra. A concorrente, que desde início disse com confiança "eu vou ganhar o Ídolos de Portugal", estendeu demasiado o verso "I'm a creep", para tentar fazer um vibrato (sem sucesso), e a confiança, que mesmo depois dos nãos de todos os jurados não esmoreceu.
"Pessoas daqui não têm metade do talento que eu tenho. Quem me conhece vai achar estranho". Estranheza é com Beatriz, desde o tema apresentado à derrota.