À vista desarmada, os dias de Palmeirim parecem ter mais horas do que as do comum mortal. "A quarta temporada de 'Taskmaster' está gravada", conta o apresentador da RTP à MAGG, durante a reportagem nos bastidores do concurso "Joker", que apresenta desde 2018 (com um interregno de um ano, em que esteve à frente de outro concurso, "Porquinho Mealheiro").

No calendário das festas para os próximos dias, o comunicador de 44 anos tem duas festividades de pequena monta: este sábado, 24 de fevereiro, volta a subir ao palco do MEO Arena para o "45 in the Night", espectáculo do coletivo das "Manhãs da Comercial" que assinala o aniversário da emissora (e que segue as pisadas dos já famosos "Xmas in the Night") e, a 9 de março, a final do Festival da Canção, que apresenta pela sexta vez ao lado de Filomena Cautela e Inês Lopes Gonçalves.

Começou em 2013 o percurso televisivo de Vasco Palmeirim na RTP, primeiro como jurado, depois como apresentador de "Feitos ao Bife". E nunca mais parou. "Sabe ou Não Sabe", "The Portugal", "Joker", "I Love Portugal", "Taskmaster" e "Porquinho Mealheiro" são os formatos regulares já conduzidos pelo comunicador, que mantém em paralelo a sua presença radiofónica nas "Manhãs da Comercial". Um dos segredos desta longevidade, como conta em entrevista à MAGG, é a "empatia".

Quando interrompeu o “Joker” para fazer o “Porquinho Mealheiro”, o que é que as pessoas lhe perguntavam?

As pessoas comparavam com o “Joker”, também gostavam do “Porquinho” mas.. eu acho que o “Porquinho” foi daquelas coisas que fizemos porque, a dada altura, sentimos que o “Joker” tinha de parar um bocadinho. Não porque estivéssemos cansados mas, de vez em quando, convém parar. É fixe sentir saudades e também quis, nos concursos, fazer uma coisa diferente. O que eu pedi à RTP foi ‘deem-me uma coisa radicalmente diferente’. Encontrámos aquela solução do “Family Pig Bank”, também tecnologicamente muito interessante, porque nada daquilo era verdade, as cápsulas não existiam.

porquinho mealheiro
porquinho mealheiro Vasco Palmeirim no "Porquinho Mealheiro" créditos: RTP

Acho que as pessoas sentiram falta do que eu gosto de chamar do ‘quentinho’ que tem o “Joker”. É um estúdio mais pequenino, o público está lá. Eu senti muito a falta do público no ‘Porquinho’.  Acima de tudo, acho que as pessoas afeiçoaram-se tanto ao “Joker” durante cinco anos que, depois, sentiram falta do formato. É mais fácil empatizar com o “Joker” do que com o “Porquinho”. É um programa que eu gosto muito de fazer, tal como gostei de fazer o 'Porquinho', dentro de um teste a mim próprio. E gostei muito de o fazer.

Como é que definiria a sua persona no “Joker” e como é que ela mudou desde o início do programa?

Eu tinha feito um concurso chamado “Sabe ou não Sabe”, que era um completamente diferente. Inicialmente, eu queria fazer uma coisa diferente e, acima de tudo, não falhar em metodologia, em regra. Queria que tudo saísse bem e que não me apontassem o dedo. Eu pensava imenso no início, pensava imenso no trabalho. Antes de chegar a um ponto em que tudo flui de outra maneira. Já não tenho de pensar naquilo que eu sou no “Joker”, já deixo que os acontecimentos fluam. Hoje em dia, a minha persona do “Joker” já flui e não tem de ser pensada porque, naturalmente, já consigo perceber o que cada momento do programa pede de mim e quando é que o momento do programa não é meu.

Imagina-se a fazer o “Joker” durante 20 anos, como o Fernando Mendes faz “O Preço Certo”?

(risos) Não sei se o formato dura tanto tempo. Acho que o “Joker” tem mais uns aninhos pela frente. Foi muito engraçado ver este regresso e a reação das pessoas, foi maravilhoso. Não esperava que, seis anos depois, conseguíssemos ter as audiências que temos. Não é o programa ser ou não ser líder de audiências que me faz fazer o programa, mas sabe bem veres que, depois no final, os números são ótimos. Não conseguíamos chegar aos 20 anos de “Joker”. Também tenho de perguntar a mim próprio: 'eu conseguiria aguentar como o Fernando consegue este barco durante tanto tempo?'. Acho que os formatos são muito diferentes, a forma de apresentação também. Adorava fazer o "Joker" muito mais anos, mas duas décadas disto, acho que não conseguiria.

E a televisão também está numa fase de transformação, ninguém sabe como vai ser daqui a 15 anos.

Precisamente. Eu nunca faço planos para onde vou estar daqui a cinco anos. Ninguém me disse, em 2017, que eu no ano seguinte ia fazer "Joker". Foi uma coisa que me calhou de repente e eu pensei ‘bora fazer isto’. Para já faço "Joker" e consigo imaginar mais uns aninhos. Agora não sei o que é que a televisão me vai trazer, não sei o que é que a RTP vai querer, não sei o que é que o público vai querer também. Não sei que outras coisas podem estar na manga. Mas em relação a um concurso de noite como o "Joker", acho que aguenta perfeitamente mais uns tempinhos.

Desde que se estreou como apresentador em televisão, nunca teve um formato que tenha sido um fracasso. Isso causa-lhe receio?

(pausa) Obviamente que sim. Tu nunca vais querer fazer uma coisa que, depois, olhando para trás, digas ‘isto foi um flop’.

"Feitos ao Bife", 2013, foi o primeiro programa de Vasco Palmeirim na RTP créditos: RTP

A minha pergunta era mais ao contrário. Como é que o Vasco reagirá no dia em que fizer algo que seja um flop.

Não sei, mas obviamente que me passa pela cabeça. Não é uma coisa que me atormenta. Há muita gente que pensa ‘isto está a correr bem mas um dia vai correr mal’. Não penso, até porque eu gosto muito de fazer coisas que me vão satisfazer. A partir daí, eu penso ‘se eu gosto de fazer isto, se calhar o público também vai gostar de ver'. Isso aconteceu com o “Taskmaster”. Eu pensei 'eu vou gostar muito de fazer isto e se calhar há aqui qualquer coisa que o público também vai gostar'. Nunca pensei que a coisa corresse da forma como correu. O "Joker" foi diferente. Foi-me apresentado, ‘experimenta, se calhar vais gostar’. Foi uma coisa mais para mim, para eu experimentar para ver se conseguia fazer, do que a pensar em público. E depois pensei ‘o público também está a gostar’. Não é uma coisa que seja um farol ali a piscar, ‘um dia pode haver um fail!’. Se acontecer, vou ficar chateado, claro que sim, mas pode acontecer e não é algo que me tire o sono.

Nas gravações do “Joker”, partilha o mesmo camarim usado pelo João Manzarra durante as gravações de "A Máscara". O Manzarra tem duas características em comum com o Vasco. Tem o privilégio de só fazer formatos de que gosta e tem programas baseados num elemento contraproducente na televisão atual: a empatia. Sente que é algo se trabalha ou há um fator inato? É difícil ser-se um estupor e, depois, criar empatia com as pessoas.

Eu acho que tens que ter… Eu respondo a isso com rádio. Qual é a primeira coisa que faz com que o nosso programa [“Manhãs da Comercial”] funcione tão bem? A empatia entre nós. Nós temos de nos dar genuinamente bem, senão a pessoa nota. Eu gosto muito do [Nuno] Markl, do Pedro [Ribeiro], da Vera [Fernandes], nós gostamos muito de estar juntos e isso é muito importante. Quando estás a solo tens de ser aquilo que és. Porque se és alguém que não és não vai correr bem. Vai-se perceber que estás a ser fake e não é bom.

Acima de tudo, o que é a televisão? É tu seres aquilo que és e chegares à maior quantidade de gente, sendo aquilo que tu és. Apresentando o programa de formas diferentes, mas nunca podes deixar de ser quem és. Em relação ao Manzarra, concordo plenamente consigo, e o Manzarra fez tão bem a “Árvore dos Desejos”, completamente diferente, mas ele nunca deixou de ser ele próprio. É de extraordinária importância, para que um programa seja um sucesso, que quem dá a cara pelo programa tem de dar tudo, tem de saber tudo, tem de o defender ate à morte. E sem esquecer o mais importante: não faças uma coisa que não é o teu ADN. Ou seja, não penses ‘eu para este programa tenho de sair daquilo que eu sou’. É o primeiro passo para que a coisa não corra bem.

Taskmaster
Taskmaster Vasco Palmeirim e Nuno Markl são anfitriões de "Taskmaster"

Em relação ao “Taskmaster”, eu disse ao Markl: 'eu não posso ser para ti aquilo que o Greg Davis é para Alex Horne. Porque ele é mau, manda-o abaixo, goza com ele. Se eu fizer isso, as pessoas não vão achar graça. As pessoas não vão perceber'. Eu disse ao Markl e à RTP que a dinâmica tinha de funcionar como funciona na rádio. Por vezes gozo com o Markl como gozo na rádio, o bullying fofinho. Ele gosta também, se eu sou demasiado fofinho ele fica ‘o que é que se passa contigo?’. Gosto de ver aquele bullying fofinho, demasiado seria ser um Vasco que eu não sou. E tenho a certeza de que o programa não ia correr tão bem.

Olhando para o que tem sido feito nos últimos tempos na televisão portuguesa, há algum formato que veja e diga ‘gostava de fazer aquilo’?

Se o "Taskmaster" fosse feito por outra pessoa eu ia dizer ‘pá, cabrão, isto é muito giro!’. Respondo de outra forma: os programas que eu gostaria de apresentar na televisão portuguesa já os apresento. O “The Voice”: adorei fazer durante 10 anos, hoje em dia acho que parei na altura certa, para me concentrar em dois formatos que pedem muito de mim, o “Taskmaster”, até a nível de escrita, e o "Joker", que gravo três por dia. Além da rádio, é muita coisa. Olhando para o que esta aí… eh pá… há um programa que eu adorava fazer com o gajo, o Cândido Costa. O programa que ele faz no Canal 11 ["Cândido on Tour"], aquilo podia ser na RTP. Aquilo é serviço público no seu melhor. Aquilo é mostrar Portugal, com um toquezinho de amor às terras, às aldeias, ao futebol, que une as pessoas, e é tão bem feito pelo cabrão do Cândido Costa!

Gosto muito do Cândido e adorava um dia poder trabalhar com ele como trabalho com o Markl agora e nunca tinha trabalhado em televisão. Um programa que eu gostava de fazer um dia, era um programa assim. Tendo em conta a minha vida hoje em dia, seria muito complicado, mas viajar pelo País, pegando em alguma coisa, neste caso seria o futebol. No dia em que o Cândido Costa não puder e eu puder, agarro-me àquilo com unhas e dentes.