Alguns dos privilégios de ser jornalista da MAGG incluem poder fazer reportagens em destinos paradisíacos, entrevistar atores de séries internacionais, conhecer restaurantes e hotéis incríveis, e ver Vasco Palmeirim a fazer a barba antes de uma maratona de gravações de "Joker", o concurso que a RTP1 emite em prime time durante a semana desde 2018.
O comunicador de 44 anos chega aos estúdios da Valentim de Carvalho, em Paço de Arcos, pouco depois das 11 da manhã, vindo dos estúdios da Sampaio e Pina onde, há 17 anos, faz as "Manhãs da Comercial". Este é o sexto ano de "Joker" para Vasco Palmeirim, depois de um hiato de cerca de um ano, em que esteve aos comandos do concurso "Porquinho Mealheiro".
"Acho que as pessoas sentiram falta do que eu gosto de chamar do ‘quentinho’ que tem o 'Joker'", começa por dizer o rosto da estação pública de televisão, enquanto mergulha a lâmina numa bacia com água morna. "É um estúdio mais pequenino, o público está lá. Eu senti muito a falta do público no ‘Porquinho’. A dada altura perguntei se não era possível ter lá público mas, tendo em conta que aquilo é tudo realidade virtual, era muito complicado", conta Palmeirim. Em agosto de 2023, a RTP fez a vontade ao público e o "Joker" voltou à antena.
Enquanto faz a barba (no mesmo camarim onde, noutros dias, João Manzarra se prepara para as gravações do programa da SIC, "A Máscara"), Palmeirim explica como é que a sua persona enquanto apresentador deste concurso foi mudando desde a estreia.
"Inicialmente eu queria fazer uma coisa diferente e, acima de tudo, não falhar em metodologia, em regra. Queria que tudo saísse bem e que não me apontassem o dedo", recorda. Com o passar do tempo, Palmeirim começou a deixar que a a sua interação com os concorrentes, com o público e com Patrícia Figueiredo, a voz off do formato, começasse a "fluir de outra maneira". "A minha persona lida muito melhor hoje em dia com os diferentes estados do programa e valores de cada pergunta. Naturalmente, já consigo perceber o que cada momento do programa pede de mim e quando é que o momento do programa não é meu", salienta.
E, mesmo esse alerta vermelho em televisão, o silêncio, é usado no "Joker" para imprimir ritmo e criar antecipação para a ronda final. "Eu adoro, a dada altura, estar caladinho da Silva. No início, no briefing que faço aos concorrentes, digo: 'é muito bom que fales comigo. Mesmo que saibas a resposta certa, deixa o tempo fluir. Fala comigo durante a resposta'. Às vezes, quando é uma pergunta para 50 [mil euros], o silêncio é espectacular. A minha persona evoluiu para um ponto em que já sei, naturalmente, o que tenho de fazer e o que não posso e não quero fazer", conta o apresentador.
O que também foi mudando deste o arranque do concurso é a intervenção de Patrícia Figueiredo no formato. E Palmeirim explica como é que essa dinâmica evoluiu. "Não sei como é nos outros países. Eu gosto muito de puxar a Patrícia quando ela não está à espera e transformá-la não só na pessoa que dá a resposta certa", explica Vasco.
"O que é que eu gosto na Patrícia: ela é muito rápida a responder. E nós não temos nada escrito. Nada! Eu nem sei quando é que ela entra. Dizem-me [a produção] ao ouvido 'esta é da Patrícia", revela o apresentador, sobre os diálogos hilariantes que acontecem nos intervalos das perguntas. "Eu adoro entalá-la porque sei que ela se desenrasca muito bem. Já a conheço há muitos anos e, por isso, esta nossa dinâmica muda também porque vamos tendo cada vez mais confiança um com o outro, somos muito amigos e, como ela é de resposta fácil e raciocínio rápido, adoro lançá-la aos leões porque sei que ela se desvia, vai domar os leões e ainda manda um leão para cima de mim", relata Vasco Palmeirim.
Dad jokes, piadas à la Ana Galvão, piadas secas (para quem não aprecia o género) ou apenas piadas. Em cada emissão, Vasco Palmeirim lança uma "Patrícia", um momento de pausa no jogo, em que se dirige a Patrícia Figueiredo e lança uma piada, geralmente um trocadilho, todos escritos pelo apresentador.
"Eu recebo da produção as biografias dos concorrentes, vejo toda a ficha para que, quando entrar no cenário, já saiba coisas sobre ele e sobre a sua mulher, neste caso. Começo a ver tudo o que fez e faz e tento arranjar alguma coisa para fazer uma piada, um trocadilho, para apresentar à Patrícia", explica Vasco Palmeirim, que revela a dimensão do acervo de "Patrícias", uma enciclopédia que consulta amiúde para não haver repetições.
"Eu tenho todas as minhas piadas no computador. Imagine que eu quero fazer uma graça com informática. Vou às notas e procuro 'tapete de rato'. Se aparecer uma piada que já fiz, não vou fazer a mesma graça. A mesma coisa para o segundo concorrente. Já faço isto desde 2018. Eu comecei por fazer três piadas por concorrente. Estúpido, andei a queimar cartuchos, até que a Patrícia dizia 'três é muito, estás a gastar!'. Eu não comecei a fazer isto logo de início mas, tendo em conta que, na altura fazia três, depois passei a duas e, hoje em dia, é uma e está ótimo", explica.
O texto inicial do programa e as "Patrícias" são os únicos elementos guionados de "Joker". Os restantes 50 minutos do programa advêm do improviso, do conhecimento que o apresentador tem do percurso pessoal e profissional dos concorrentes (um trabalho feito pela produção do programa).
Desde a estreia, em agosto de 2018, até 15 de janeiro de 2024, quando a MAGG acompanhou as gravações, já tinham sido gravados 1035 programas (a contar com as edições "Kids"). Pelo plateau do concurso apresentado por Vasco Palmeirim já passaram 2070 concorrentes, divididos em pares.
O apresentador salienta o trabalho da equipa que produz o formato e que faz a selecção dos participantes, e que é realizado "pelo País inteiro". "O casting é muito importante. Já dei os parabéns pelo casting e já dei nas orelhas também. Isto é como abrir um melão. Há malta que vai ao casting sem nervos nenhuns e são incríveis e depois há malta que chega aqui e a produção diz 'não é a mesma pessoa'. Ficam nervosos, pessoas que, não sei se tomam qualquer coisa para acalmar e, quando chegam aqui, parece que estão completamente em estado de hibernação... às vezes acontece. E também já tivemos o contrário", conta.
Esta é a voz (do "Joker"). "É tudo muito orgânico e imediato entre nós"
"Frescura e leveza para equilibrar a tensão do jogo". A definição encaixa que nem uma luva ao papel que Patrícia Figueiredo tem no concurso da RTP1. Quando entra na emissão para interagir e soltar a sua cristalina gargalhada, é apenas a voz sorridente da comunicadora de 42 anos que se ouve. O que não se vê em casa é a sala, situada noutro piso, em que Patrícia está confortavelmente sentada, acompanhando a gravação através de ecrãs e de auscultadores nos ouvidos, pronta a entrar à chamada de Vasco Palmeirim, sempre atenta não vá o apresentador chamá-la 'à chapa'.
Formada em Ciências da Comunicação, Patrícia Figueiredo é também a voz de outro programa popular da RTP "100% Português". A relação profissional e pessoal com Vasco Palmeirim dura há vários anos o que, segundo a própria, contribui para as "brincadeiras naturais" que surgem ao longo de cada emissão.
Tal como Vasco Palmeirim revelou à MAGG, os diálogos com Patrícia Figueiredo não são previamente escritos. "Primeiro que tudo, props para o Vasco. Ele faz um trabalho absolutamente incrível de, todas as vezes que me apresenta, faz as chamadas 'Patrícias', isso é tudo autoria dele. Ele faz toda essa pesquisa de background dos concorrentes e do Super Joker para ter matéria prima para criar esses momentos. Eu sou-lhe muito grata por isso, porque foi uma forma que ele encontrou de me introduzir no programa. Foi muito generoso da parte dele, e conseguiu criar a personagem Patrícia", conta a comunicadora, acrescentando que os concorrentes já têm a expectativa de saber qual é a "Patrícia" que lhes vai calhar nessa emissão.
Patrícia Figueiredo salienta que partilha a tensão e as emoções sentidas pelos concorrentes, não se sentindo como uma mera espectadora do jogo. "Eu estou genuinamente nervosa por eles, às vezes há um riso nervoso que se solta (risos)! Ou uma gargalhada porque é o Vasco e é impossível não estar a rir do início ao fim. É tudo muito orgânico e imediato entre nós. Se fosse guionado, não seria assim", afirma a voz do "Joker".
Apesar de só a sua voz aparecer no concurso da RTP1, Patrícia Figueiredo conta que já foi reconhecida na rua. "O que é curioso, porque eu já apresentei alguns programas, é certo que na RTP África, e já fui mais vezes pela voz do que pela imagem (risos)! As pessoas também reconhecem pelo nome. Também já me aconteceu, num Uber, estar a atender uma chamada e, quando desliguei o telefone, a senhora que ia a conduzir perguntar 'desculpe, é a voz do 'Joker'' (risos). É muito engraçado", relata.
João e Mafalda treinaram em casa as rondas bónus. "Agora vamos ver se não falha aqui!"
Já sabemos quanto é que João e Mafalda Lima levaram para casa, mas não vamos revelar. Os concorrentes do episódio do "Joker" a que a MAGG assistiu fizeram uma viagem curta, de Porto Salvo a Paço de Arcos, para participar no concurso da RTP1. Casados há 42 anos, o casal de reformados (ela contabilista e ele informático) formaram uma dupla dinâmica ao longo da emissão, proporcionando aqueles momentos fofinhos que os telespectadores de "Joker" tanto adoram.
João e Mafalda não são estreantes nas lides de concursos televisivos e já tinham tentado algumas vezes a inscrição no "Joker". A última, no verão de 2023, foi certeira. "Em setembro chamaram-nos para o casting e, em dezembro, disseram-nos que vínhamos a concurso", conta João Lima, de 63 anos. A partir da confirmação, o casal começou a preparar-se para a participação.
"Treinámos em casa as rondas bónus em todos os episódios que deram desde então. Tiro o som à televisão, vou lendo as perguntas e isso foi muito útil. Convém ler o mais rápido possível, mas chegámos à conclusão que, se tentasse acelerar muito, começava a comer as palavras e não era bem percetível. Agora sei até que velocidade posso ir", conta o concorrente. "Agora vamos ver se não falha aqui! Às vezes, em casa, funciona melhor do que in loco", acrescenta Mafalda, de 61 anos.
O concurso da RTP1 tem a particularidade de ter participantes com um perfil diferente dos restantes programas deste segmento. João Lima diz que, para tomar a decisão de participar num programa de televisão, que implica uma exposição pública, contou muito "o à vontade com que Vasco Palmeirim põe as pessoas".
"O casting também foi muito à vontade. Até mesmo aqui no acolhimento, as pessoas são muito cordiais e simpáticas. Não nos transmitem stresse", acrescenta Mafalda Lima. O casal preferiu manter em segredo os planos para uma eventual conquista do prémio final.
Após uma breve passagem pela sala de maquilhagem, Vasco Palmeirim chega ao estúdio, onde já está instalado o público. Atualmente são 40 pessoas que ocupam as cadeiras, já foram muito menos, sobretudo durante o período da pandemia, em que as restrições impostas pela DGS limitavam o número de pessoas em espaços fechados. No entanto, o programa nunca deixou de ter assistência.
Depois de cumprimentar todos os elementos da equipa técnica e de saudar a plateia, Vasco apresenta-se ao casal de concorrentes. Senta-se na cadeira de anfitrião, frente a frente com João Lima, com quem conversa durante alguns minutos, explicando a dinâmica da gravação e também abordando alguns temas do percurso do concorrente, para o colocar mais à vontade.
Depois de gravar um pequeno segmento de introdução à ronda bónus, Palmeirim volta ao seu lugar e tudo fica a postos para o início de mais uma emissão. Isto porque a gravação acontece live on tape, ou seja, praticamente sem interrupções. A jornada "Joker", que consiste na gravação de três programas por dia, termina às oito da noite para que, ao longo dos próximos meses, haja muitas "Patrícias", rondas bónus e 50 mil euros para entreter os telespectadores.