Parece que se está a criar uma espécie de tendência com séries de televisão que, depois de uma primeira temporada com um final coerente e fechado, se arrastam para uma segunda temporada sem necessidade ou propósito. Foi assim com "La Casa de Papel", "Big Little Lies" e, agora, "Por Treze Razões" — o drama juvenil que está a dar que falar desde que estreou pela primeira vez na Netflix em março de 2017.

Cinco meses depois da morte de Hannah Baker (Katherine Langford) e de as 13 cassetes que esta deixou terem sido tornadas públicas, a segunda temporada começa com o julgamento que opõe os pais de Hannah e a escola que a filha frequentava. A acusação? Que a escola nada fez para ajudar a aluna que, após vários meses de abuso físico e psicológico, decidiu pôr termo à vida.

A premissa é desinteressante mas, bem vistas as coisas, é a única possível quando a ideia era dar seguimento aos acontecimentos da primeira temporada. Na verdade, os problemas começam muito antes da estreia dos novos episódios. É que, nas várias imagens promocionais que foram sendo publicadas pela Netflix nas redes sociais, as ideias transmitidas eram duas: que ao invés das cassetes, seriam as fotografias Polaroid a ganhar relevo, e que para cada história havia sempre dois lados, ou duas versões dos factos.

Assim, os novos episódios de "Por Treze Razões" começam com a ideia base de que nós, espectadores, não conhecemos por completo a história que nos foi apresentada. Há muito mais a saber acerca da morte de Hannah, dos seus colegas e de tudo o que a levou ao limite. Na primeira temporada, porém, foi-nos dito que aquela era toda a verdade acerca do que tinha acontecido e que poderíamos fazer juízos de valor com base apenas nas cassetes.

Aparentemente não é bem assim e houve a necessidade de reescrever grande parte do passado da personagem principal — até porque esta segunda temporada nunca esteve planeada. Assim, à história de Hannah foram adicionados alguns elementos (como sexo e o abuso de álcool e drogas) com o único intuito de chocar e obrigar os espectadores a rever a primeira temporada com um olhar mais crítico, cientes de que agora há mais informação que antes não tinha sido disponibilizada.

Mas se a primeira temporada fez questão de nos apresentar a perspetiva de Hannah e reconhecer-lhe credibilidade, a segunda obriga-nos a duvidar dela enquanto narrador, já que são várias as personagens que contam diferentes versões daquilo que realmente lhe aconteceu. No meio desta confusão narrativa, onde está a garantia de que, desta vez, a história que nos está a ser apresentada é verdadeira?

A juntar a tudo isso, Hannah regressou muito diferente do que estávamos habituados: como fantasma, fruto da alucinação na cabeça de Clay (Dylan Minnette) cujo estado mental se tem vindo a deteriorar ao longo do tempo. Pior do que isso só se ambos tivessem longas e profundas conversas entre si e que, a certa altura, acabam mesmo por interferir com a ação que está a decorrer. "Agora falas?" pergunta Clay quando vê Hannah. "Sim", responde, e bom seria se se ficasse apenas por aqui. Não fica, e isto tem tanto de aborrecido como de clichê.

Nesta nova temporada há também fotografias Polaroid que vão sendo deixadas no cacifo de Clay, onde estão retratadas algumas raparigas da escola a serem vítimas de abuso sexual por parte de Bryce Walker (Justin Prentice), o grande vilão da história e o mesmo que violou Hannah e Jessica Davis (Alisha Boe). Mas se as cassetes tinham como função dar seguimento à narrativa, as fotografias parecem não ter grande propósito a não ser o de constatar o óbvio.

Hannah não foi a única a rapariga a ser violada, agredida ou assediada por Bryce e companhia, mas isso já o sabíamos desde a primeira temporada. Apesar disto, o julgamento chega ao fim com Bryce libertado após cumprir apenas um mês de pena pelo abuso sexual de Jessica. O desfecho assenta na dura realidade de que nem sempre tudo corre como é suposto — a justiça e os finais felizes são coisas da ficção e, por isso, faz algum sentido que tenha sido esse o final escolhido para a história do vilão.

Ainda se lembra do que aconteceu na primeira temporada de "Por Treze Razões"?
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Enquanto que na primeira temporada a polémica girava em redor da violência da morte de Hannah (que cortou os pulsos na banheira de casa), parece que a segunda temporada procurou exceder-se com o único objetivo de se superar ao nível do choque e do efeito surpresa nos espectadores. Depois de Bryce ser acusado por abuso sexual, a equipa de futebol perde a bolsa de desporto, o campeonato e todo o financiamento dado pela escola. Como consequência, são vários os atletas que procuram vingança daqueles que disseram a verdade em tribunal acerca da violência dos atletas sobre os restantes alunos.

Tyler Down (Devin Druid) é quem acaba por sofrer mais quando, na casa de banho da escola, é agredido de forma violenta por um dos atletas. Além de ser quase afogado na casa de banho, ou ter a cabeça rachada devido ao embate no lavatório depois de ser empurrado, um dos atletas introduz o cabo de madeira de uma esfregona pelo ânus de Tyler. Tudo isto é gráfico e, defendem alguns fãs, gratuito, e com o único objetivo de chocar e gerar reações naqueles que estão a ver a série.

E nem se pode justificar a inclusão desta cena como demonstração de como uma personagem "boa" pode ser conduzida a atos horríveis (Tyler prepara-se para assassinar todos os colegas no baile da escola como consequência da agressão de que foi alvo), visto que também já o tínhamos visto antes com o suicídio de Hannah.

Seja como for, "Por Treze Razões" parece ser o exemplo perfeito de uma série que não sabe quando parar e é provável que seja anunciada uma terceira temporada já que, desta vez, o final não foi nada fechado e deixa a porta aberta a um possível regresso. Vão ser precisas muitas mais do que 13 razões para garantir a atenção dos fãs — e as críticas são prova disso.

A segunda temporada estreou na sexta-feira, dia 18 de maio, e conta com 13 episódios.