Foi em 2014 que se deu a conhecer ao público brasileiro. Com apenas 17 anos, Ana Clara Mello Lima já tinha uma legião de seguidores na rede social Vine (antecessora do TikTok, com um conceito semelhante), mas foi no "Big Brother Brasil 18" que começou o percurso em televisão — primeiro, como concorrente e, atualmente, como apresentadora.
O reality show aconteceu a meio da formação universitária em Jornalismo e o sonho da apresentação habitava dentro dela "desde criança". Participou com o pai, Ayrton Lima, a mãe, Eva e o primo Jorge, em 2018, e, ao fim de seis dias, pai e filha foram escolhidos pelo público para competir como um único participante — algo que nunca tinha acontecido no formato. Entre lágrimas, gargalhas, bebedeiras e discussões familiares, a dupla Lima não passou despercebida aos olhos dos telespectadores e ficou em terceiro lugar.
Segundo Ana Clara, a relação com o pai era "ótima" antes do "Big Brother Brasil", mas, desde então, começou a vê-lo "de uma maneira diferente" por terem vivido, em conjunto, "diversas situações com pressão". "Passar 24 horas por dia, por oitenta e oito dias, com uma pessoa da família, você com certeza enxerga qualidades, defeitos diferentes do que conhecia antes", contou, em declarações à MAGG, à margem da participação na "Comic Con Portugal 2021", em representação da Globo.
Participar no "BBB" foi "muito louco", mas apresentar o formato "é mais doido ainda"
Ana Clara não tem dúvidas de que o "Big Brother Brasil" é uma "super potência". "Os números não mentem", disse, divertida. Ter participado foi "uma experiência super especial", aliás, "a mais louca" que já viveu.
De concorrente passou a apresentadora do formato e hoje, aos 24 anos, é um dos rostos mais jovens e populares da Globo. À MAGG, contou que integrar a equipa do "BBB"é "super especial enquanto profissional". "Trabalhar com o programa é mais doido ainda. Todas as dúvidas, todas as curiosidades que eu tinha como participante, hoje eu já sei como tudo funciona."
A carreira no ramo da apresentação televisiva começou pouco depois da saída do "Big Brother". Ainda em 2018, fez a cobertura da etapa "Seletivas Regionais" do "BBB 19"— fase de pré-seleção dos concorrentes, realizada em várias cidades do Brasil — para as plataformas digitais, bem como conteúdos para o programa "VideoShow".
Ao fim de cinco meses, a experiência terminou para dar lugar a um projeto maior: integrar, oficialmente, a equipa da 19.ª edição do "Big Brother Brasil" e ser o rosto do programa "Rede BBB" — emissão diária que inclui reportagens de rua.
O sucesso foi tal que, em 2020, permaneceu no reality show. No início do ano, conduziu o "Big Data — Retrospectiva BBB", um spinf-off de dez episódios, transmitidos online, na plataforma GloboPlay e regressou ao ecrã televisivo no "BBB 20". A edição seguinte, em 2021, trouxe mais um desafio, o "Plantão BBB" — programa da Globo, também diário, no qual entrevistava os concorrentes, conforme iam sendo expulsos pelo público e ia recebendo convidados para falar sobre os desenvolvimentos no reality show.
A relação "maternal" com os concorrentes do "BBB"
Para a apresentadora, já ter entrado no "Big Brother Brasil" é uma "vantagem" no seu trabalho, por estar familiarizada com o que se sente e vive dentro da casa. No primeiro contacto que tem com os concorrentes, procura "acalmar, abraçar, trazer para perto", dando conta de que a euforia do público brasileiro "vai passar" e "vai ficar tudo bem". "Tenho um carinho por eles e um cuidado, justamente por entender o que eles estão passando e por saber o que está acontecendo aqui fora. Tenho esta coisa de ter uma relação maternal com eles, eu cuido deles dessa maneira."
Enquanto concorrente, as maiores dificuldades são a nível "psicológico", pela pressão do jogo e tudo o que lhe é inerente, mas Ana Clara garantiu que o trabalho durante os três meses de emissão do reality show também "é muito puxado". "É um programa que demanda muita atenção então a gente tem uma carga horária muito pesada. [O "BBB"] fica ao vivo 24 horas por dia, então a gente está 24 horas conectado com o nosso trabalho".
"Eu condiciono o meu corpo e a minha mente para poder ficar focada nesse período de trabalho."
Embora goste de ter "a rotina mais pesada" e os meses de emissão do "Big Brother Brasil" sejam um período "muito legal" do ano, as rotinas não são fáceis. "Muita loucura" e "poucas horas de sono" é como a apresentadora da Globo descreve os seus dias. "A gente tem que conciliar o trabalho com a família, com a academia [ginásio], com o tempo pessoal, com amigos. É bem puxada a rotina, mas eu fico muito feliz, eu gosto muito."
Como faz a gestão do tempo? "É a pergunta de um milhão de dólares", brincou Ana Clara. "Não sei como faço, mas eu dou o meu jeito." Para a jovem, a principal estratégia de organização é "filtrar muito bem" os compromissos que vai aceitando no dia a dia. "Vou para a academia, vou para a Globo e leio, porque para a minha cabeça funcionar como apresentadora, isso é muito importante para mim."
Além da televisão, Ana Clara tem uma presença bastante vincada no mundo online e trabalha com marcas para as suas redes sociais. Para a auxiliar, tem uma equipa que garante o cumprimento dos prazos. "É muito importante a presença do digital para a minha profissão. (...) A gente fica um pouquinho mais afastada dos amigos, não consegue ver a família com tanta frequência, mas todo o mundo entende."
"Ser mulher e ser jovem é difícil" em televisão
O "Big Brother" é um sucesso entre os brasileiros que, segundo Ana Clara, são "um público muito fervoroso". "A gente tem uma reação em massa sobre tudo o que faz", explicou à MAGG. Na sua perspetiva, além da intensidade dos meses de programa, o mais difícil é "filtrar a opinião do público" e "lidar com as respostas inflamadas". "A gente não consegue mudar a opinião de ninguém, então tem que aceitar que não vai agradar a todo o mundo", sublinhou.
"Às vezes, a gente duvida da gente mesmo."
Apesar de garantir que não se deixa afetar pelas críticas, a apresentadora confessou "medo" de "não ser levada a sério por ser nova". Ana acredita que só "trabalhando em todas as idades" é que consegue alcançar a excelência. "Até eu me tornar uma pessoa mais madura de idade, eu tenho que viver, então eu preciso que as pessoas acreditem. E essa coisa de a gente ser mulher e ser jovem é difícil."
Ana Clara mostrou-se sem "inseguranças", segura do seu potencial e profissionalismo. "Estou sempre me preparando para o que pode vir para que, quando chegue a mim alguma coisa, eu esteja pronta para receber e fazer".
Se, por um lado, é nas reações do público que assentam as principais dificuldades de ser um dos rostos do formato, por outro, é precisamente por aí que passa, também, o sucesso do programa. Ana Clara explicou que os brasileiros "sempre assistiram" ao reality show, mas havia uma conotação negativa associada a quem participava. Hoje em dia, a perspetiva tem vindo a "mudar": o "BBB" "ficou na moda" e "as pessoas pararam de julgar". "Acho que virou um programa muito familiar e é muito especial porque as pessoas consomem mesmo e falam que consomem".
Voltar a entrar no "Big Brother" está fora de planos
Ana Clara esteve envolvida em diversos projetos da Globo ao longo de 2021 e, ao longo da entrevista à MAGG, falou como se o ano já tivesse terminado. "Foi um ano muito importante", disse, mencionando um "crescimento profissional muito grande". "Acho que amadureci muito também. Cresci muito mentalmente."
Participar novamente no "Big Brother" — seja no Brasil, Portugal ou noutro país — não está nos planos. "Agora é só do lado de fora", esclareceu, referindo-se ao seu papel como apresentadora.
A poucos dias de "Big Brother" português terminar, Ana Clara, ex-finalista da edição brasileira de 2018, garantiu que "não há forma de sucesso" para chegar à final, mas o que o público "mais gosta é de ver fragilidade". "Não adianta fazer estratégia, eu acho que eles [os concorrentes] têm que ser o mais verdadeiros possível. E aí é uma caixinha de surpresas: o público pode adorar ou pode não gostar."
Ana Clara esteve em Portugal em representação do "Big Brother Brasil", na "Comic Con Portugal 2021". A apresentadora e as atrizes brasileiras Déborah Falabella e Cláudia Abreu foram oradoras do evento, que se realizou de 9 a 12 de dezembro, a fim de divulgar a plataforma "Globoplay", o serviço de streaming da Globo que chegou a Portugal a 14 de outubro.
Em relação ao próximo "BBB", com estreia marcada para 17 de janeiro, sob a apresentação principal de Tadeu Schmidt, Ana Clara não adiantou pormenores. Revelou-se "muito empolgada" e garantiu que "vai ser muito legal", mas não sabe ao certo qual será o seu papel. Segundo explicou, vai ser a primeira edição transmitida na televisão internacional e a plataforma "GloboPlay" vai ter "todas as câmaras ativadas". "Tenho a certeza que o público português vai curtir muito o 'Big Brother'. (...) É muito diferente o nosso jeito de fazer o programa, é quase uma orquestra", disse a apresentadora.
Ana Clara mostrou-se grata pelo percurso profissional que tem vindo a construir nos últimos quatro anos. O futuro está em aberto, mas o "maior sonho de profissão" é ter um programa diário e estar "todo o dia ao vivo, na televisão".