Não podemos negar que temos uma tendência para procurar destinos de viagem lá fora e acabamos por nos esquecer de aproveitar o turismo em Portugal.

Para contrariar a norma, a MAGG pôs-se a caminho de Ponte de Lima na linha férrea, porque as pernas não chegavam lá (pelo menos de forma rápida). Mas há quem o faça: é o caso de milhares de pessoas que todos os anos percorrem o trilho do Caminho de Santiago, com destino a Santiago de Compostela, com passagem obrigatória por esta vila no distrito de Viana do Castelo.

E não pense que por ser uma vila tem meia dúzia de pessoas na rua ao fim de semana e idosos na janela a ver quem passa. São muitos os que se passeiam pela Avenida 5 de outubro — ou Avenida dos Plátanos, como é mais conhecida por quem lá mora, uma vez que as árvores ao longo da avenida têm mais de 120 anos.

Como uma escapadinha de fim de semana vem sempre a calhar, trazemos-lhe um roteiro completo onde não falta o que de melhor têm as viagens: a gastronomia, sempre acompanhada de um bom copo de vinho, e a história do local.

Sábado

Pequeno-almoço — Maria Rosa

Estava a ser preparada uma smoothie bowl de tons rosa, com um ar saudável que só de olhar já abria o apetite, quando Catarina Soares, 31 anos, responsável pelo espaço e pela ementa, ainda antes de rechear a taça com fruta e lascas de coco nos diz que a Maria Rosa abriu a 1 de fevereiro. Por isso, não é apenas a fruta das bowls ou das panquecas que é fresca, mas também o espaço instagramável que veio dar uma nova a uma vila habituada aos pratos pesados do norte.

"Estamos inseridos na zona do sarrabulho, que é um conceito completamente diferente, mas as pessoas estão a receber-nos muito bem. Temos desde os mais jovens aos mais velhos, porque temos também alguma pastelaria caseira", conta Catarina. E ainda que muitos venham pelos bolos acabados de fazer, há quem não resista às novidades que aquele menu traz à região, como é o caso dos bagels ou das tapiocas. "As pessoas de Ponte de Lima são muito recetivas", garante..

As panquecas são a especialidade da casa, e aqui a liberdade é total. É o próprio cliente quem compõe a panqueca, começando pela base cujas opções vão desde a normal (1,90€) à vegan (2,50€). Passa-se à cobertura, como a manteiga de amendoim (1,10€) ou iogurte (1,20€), até à escolha da fruta e aos ingredientes que dão textura como é o caso da granola (1,20€) e do brownie (0,80€). Por fim, pode ainda finalizar com gelado de morango, baunilha ou chocolate (2€).

Se as panquecas forem uma opção muito doce para começar o dia, pode optar pelo menu de brunch (14,50€) que inclui uma taça de ovos mexidos com bacon ou cogumelos e segue-se uma de três opções — que incluem tostas ou panqueca salgada com ovos mexidos. A segunda escolha é feita entre o pudim de chia ou as overnight oats e a terceira opção é feita entre as bebidas do menu de brunch: o batido de fruta, o sumo de laranja natural ou a mimosa. Por fim, ainda tem direito a café.

O espaço está aberto todos os dias das 9h30 às 19 horas. E se andar numa de visitar o Minho, pode ainda passar no Cantinho do Minimeu, uma espécie de primo do Maria Rosa, desta vez em Arcos de Valdevez, onde Catarina abriu também aquela que é a primeira mercearia moderna a granel e com produtos zero waste da região, a Pureza.

Visita —Museu do Brinquedo Português

Depois de um pequeno-almoço recheado, pode seguir para a primeira visita cultural em Ponte de Lima. Mas não será uma visita a sério, porque o Museu do Brinquedo Português, na margem direita do Rio Lima, é um espaço onde a brincadeira é o tema principal.

Aqui pode recordar a sua infância, porque os brinquedos artesanais em exposição foram produzidos no fim do século XIX e atravessam gerações até chegar a 1986. Foi também nesta data que, além de Portugal entrar para a Comunidade Económica Europeia (CEE), a indústria dos brinquedos sofreu a maior queda. Isto porque no período do Estado Novo o País esteve isolado das tecnologias que avançavam pelo mundo e as regras de segurança estavam já desatualizadas quando voltámos a entrar no mercado.

Das indústrias que fecharam, os brinquedos vieram para o museu de forma a que os mais velhos se relembrem das suas infância e possam mostrar aos filhos e netos quais eram os brinquedos que há décadas ocupavam os lugar dos nenucos ou das pistas de carros.

De terça a domingo está aberto entre as 10 e as 12h30 e entre as 14 e as 18 horas.

Almoço — Restaurante Açude

Uma vez do outro lado da ponte que atravessa o rio Lima, pode já ficar para almoçar junto ao rio. Encontrámos o restaurante Açude e logo à entrada fomos recebidos com um aperto de mão e um sorriso de boas vindas. Afinal, estamos no Minho.

Aqui não há missa cantada, está tudo de boca cheia, mas bem podia porque o proprietário é padre. "Costumo dizer: na igreja alma corpo, aqui corpo alma. É a mesma pessoa em vertentes diferentes", diz à MAGG o padre João Lima. Começou a ter contacto com a restauração na década de 90, altura em que teve um restaurante no Porto. Mais tarde, em 2003, abre o restaurante Açude em Ponte de Lima juntamente com outro sócio, apesar de atualmente ser o único proprietário.

E o padre não é esquisito: "Gosto de comer de tudo. Se ao almoço como carne, à noite é peixe, e vice-versa. Gosto de variar. Mas há uns pratos de que gosto mais, como a lampreia", que tinha ido apanhar nessa mesma manhã para trazer para a cozinha do Açude.

No meu tempo é que era. Ainda se lembra de decorar o caderno com Kalkitos?
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Aqui, além da lampreia servida por encomenda (1 dose custa 75€), a carta inclui opções como bacalhau com broa (27€) ou a posta à Açude, com carne minhota (24€). Mas a estrela dos almoços é mesmo o arroz de sarrabulho (21€), um prato típico da região do Minho, confecionado com o sangue do porco, cujo arroz é servido ao lado de uma travessa com diversos enchidos.

O padre João Lima admite que a comida demora algum tempo a chegar à mesa, mas é justificado: tudo aqui é feito na hora. O que chega mais rápido, para que não haja arrependimentos, são as sobremesas, como o leite de creme caseiro (2,70€) ou o pudim à prior de Miranda (2,80€).

Visita — Clube Naútico de Ponte de Lima

Depois de um almoço destes, o melhor mesmo é continuar o passeio. E porque não conhecer Ponte de Lima através de um passeio de canoa no Rio Lima? As canoas fazem parte do Clube Náutico de Ponte de Lima, que além de célebre pela canoagem, é conhecido pelo nome Fernando Pimenta — o canoista olímpico que já conseguiu várias medalhas pelo clube.

E é em Ponte de Lima que está o seu disciplino, Karim Emad Elsayed, melhor canoísta do Egito, acolhido pela família Pimenta em agosto de 2017. "No início fiz muitos treinos com ele [Fernando] e melhorei muito. Aprendi a ter mais disciplina e o máximo benefício do treino", diz à MAGG o atleta, que divide o tempo entre os treinos, o trabalho no supermercado, a licenciatura em gestão e o voluntariado nos bombeiros de Ponte de Lima.

Karim revela ainda que Fernando Pimenta é como um irmão e que um dia gostava de chegar ao nível do atleta olímpico.

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karim Karim Emad Elsayed

Contudo, não precisa de estar ao nível de Fernando Pimenta para aproveitar as atividades do Clube Naútico. Além do passeio de canoa, pode alugar kayaks (3€/hora), gaivotas (4€/30 minutos), pranchas de paddle (5€/30 minutos), ou deixar-se ficar em terra e alugar uma bicicleta para um passeio na vila (8€/uma manhã ou tarde).

Jantar — Tasca das Fodinhas

Numa das ruas de Ponte de Lima encontrámos um letreiro que chama à atenção: Tasca das Fodinhas. "O nome é diferente, tal como a imaginação para cada prato", refere Márcia Correia, proprietária e responsável da carta da Tasca das Fodinhas, que abriu em agosto de 2001.

Se o nome é peculiar, a ementa ainda mais e Márcia fez questão de explicar o significado de cada prato. Desde as fodinhas quentes na rachinha, que são pataniscas, passando pelo miolo de marmelaço, marmelada com queijo aos quadradinhos, até ao cú de galinha bem recheado, que são ovos verdes recheados com cebola, atum e salsa. De mais de 25 pratos, o mais procurado é a fodinha quente e as quecas grande, cheia ou meia, que é o vinho servido em malga.

Esta é uma opção para um jantar de petiscos, que mesmo com comida típica, pode ser mais leve para o fim do dia. O espaço está aberto todos os dias a partir das 21 horas entre julho e setembro, e fecha à quarta-feira de outubro e junho.

Alojamento

Guest House Vila de Ponte

Abriu em julho de 2018 e fica mesmo no centro de Ponte de Lima para que não tenha de perder tempo em deslocações. Antes de ser alojamento local, a ideia era construir uma clínica dado que o irmão de uma das proprietárias, Diana Cerqueira, é dentista. Entretanto, do conceito de clínica dentária a ideia passou para um espaço onde os cuidados estão focados no bem estar.

Diana e o namorado André Dantas, enfermeiros de formação, estiveram emigrados em Londres entre 2011 e 2017, mas foi em Ponte de Lima que decidiram ficar e criar o novo projeto: a Guest House Vila de Ponte. Colocaram um traço da vila em cada um dos quartos, como é o caso do quarto dedicado à Avenida dos Plátanos e de outro que retrata o Caminho de Santiago nome que é também a razão de um dos períodos de maior procura.

Dependendo do quarto e da época, os valores podem variar entre os 55€ e os 85€.

Quinta do Ameal

Mais afastada do centro da vila, a Quinta do Ameal, situada no vale do rio Lima, é o espaço indicado para quem procura mais do que passar uma noite. Aqui, durante o dia pode visitar a adega e estar em contacto com um conceito de que cada vez mais ouvimos falar: enoturismo.

A quinta com cerca de 30 hectares, é o local onde se produz uma parte dos vinhos verdes da região, afirmando-se na produção da casta Loureiro. Como não podia deixar de ser, o vinho também faz parte das experiências oferecidas neste espaço, que conta com dois tipos de alojamento com acesso à piscina e aos jardins.

Um deles são as suites da Casa Grande (entre 180 e 240€/noite), ideal para duas pessoas, e a Casa da Vinha (entre 300 e 350€/noite), que inclui uma cozinha equipada, sendo mais adequada para uma família. Na Casa Grande, que como o nome indica é bastante espaçosa, além de alojamento é também o local onde podem ser realizadas refeições e provas de vinhos.

Sabemos que era por esta parte que esperava: a prova dos vinhos. Existem dois pacotes disponíveis, todas com visita à vinha e adega, diferindo apenas no tipo de vinhos degustados. Enquanto a Prova Ameal (25€/pessoa) inclui a prova dos vinhos Ameal Loureiro, Ameal Solo Único e Ameal Escolha, na Prova Singular (valor sob consulta) são servidos vinhos de colheitas antigas.

Domingo

Visita — Eventos da Vila

Não há fim de semana em que Ponte de Lima não tenho um evento a decorrer. Isto porque há tanta gastronomia, vinhos e identidade cultural para promover, que é preciso estar sempre em movimento. Por, isso deve estar sempre atento aos próximos eventos da agenda cultura.

Março começa com o fim de semana gastronómico da carne minhota, dias 7 e 8, para dar a conhecer iguarias dos restaurantes da região como o naco de minhota e a espetada do brutus. Segue-se uma feira de educação, ciência e tecnologia, entre 12 e 15 de março, cujo público alvo são os mais jovens, mas da tecnologia voltamos à gastronomia a 28 e 29 de março, para comer outro dos pratos típicos da região: o bacalhau de cebolada.

Seja nos restaurantes ou no Pavilhão de Feiras e Exposições, o que é certo é que quase sempre há uma atividade a decorrer na vila.

Almoço — A Tulha

N' A Tulha todo o serviço é pensado ao detalhe. Basta sentar à mesa, que começa farta, para perceber o que nos espera. Logo nas entradas não falta o que há de mais tradicional na gastronomia portuguesa, como o queijo, os pastéis de bacalhau, o presunto, o pão e a broa.

Passando para os pratos, há medalhão à tulha (15€), bacalhau gratinado (13,50€), e algo mais leve como o peixe fresco grelhado na brasa (preço ao quilo). Se prefere um prato típico da região, tem ainda os rojões à moda de Ponte de Lima (15,50€) e, claro, o serrabulho (17,50€).

A travessa, essa, vem sempre servida em proporções que davam ainda para jantar. Ainda assim, não sai daqui sem sobremesa, que pode ser um pudim caseiro ou uma tarte de lima (3€).

O restaurante A Tulha está aberto de terça a sábado ao almoço e jantar e aos domingos serve apenas almoços.

Visitas — Centro de Interpretação e Promoção do Vinho Verde

No centro histórico de Ponte de Lima, fica um dos pontos que mostra parte da história da vila: o vinho verde. É aqui que conhece tudo sobre a produção de cada tipo de vinho e como a mesma foi evoluindo ao longo do tempo, desde a época contemporânea — chegando mesmo a prever o futuro.

Costuma-se dizer que somos aquilo que comemos, e o mesmo se aplica ao que bebemos. Isto porque o trabalho nas vinhas e as formas de produção do vinho foram também moldando aquilo que a população é hoje.

Toda a visita é interativa, o que torna a experiência mais apelativa, ainda que não seja só ao longo das salas que vai poder estar em ação. O momento de verdadeiro contacto com o vinho chega na última sala onde pode realizar uma prova (a partir de 30€).

O Centro está aberto de terça-feira a domingo entre as 10 e as 12h30 e entre as 14 e as 18 horas.

Jantar — Casa da Terra

A Casa da Terra é hoje um espaço moderno, com todos os produtos gastronómicos mais típicos da região, mas em tempos já foi uma cadeia, a Cadeia da Correição da Comarca, mais tarde designada como “Cadeia das Mulheres”, dado que na altura os prisioneiros eram separados por género e na torre onde hoje tem lugar a Casa da Terra era onde ficavam as reclusas.

Hoje, vende artesanato, produtos de fumeiro e serve petiscos, como a broa com azeite e alho (1,80€), a alheira assada (4,90€) e ainda o chouriço de cebola com broa frita e puré de maçã (3,80€). O espaço tem ainda uma particularidade de ter um candeeiro feito com 500 chouriças produzidas por quatro reclusos, que compõem uma criação de Madalena Martins.

O espaço está aberto de terça a domingo a partir das 9 horas, fechando mais tarde à sexta e sábado — às 00 horas.

A MAGG esteve acompanhada do Turismo de Ponte de Lima e do projeto Blueways, que promove o desporto náutico do Alto Minho. As experiências decorreram no âmbito do projeto Blueways4you — valorização e promoção de percursos azuis do Alto Minho, cofinanciado em 85% pelo Norte 2020.