Vamos começar por lançar uma pergunta: acha que os portugueses estão com receio de viajar devido às incertezas provocadas pela COVID-19? Nem por isso.
"Apesar de tudo, as pessoas continuam a querer viajar imenso. Tem sido uma corrida a marcar viagens. Tenho pessoas a pedirem já para marcar a passagem de ano", refere à MAGG Catarina Duarte, CEO & Travel Consultant da Free Mind Travel, que revela já a tendência para essa altura: o Dubai.
O destino, além de estar a ser procurado para transitar de 2022 para 2023 — e também pela Expo Dubai, segundo a agência Abreu —, ganhará mais uma atração no próximo ano: o comboio Orient Express La Dolce Vita.
Contudo, os sonhos, as poupanças, as redes sociais e os aviões vão ficar marcados em 2022 por dois destinos: Maldivas e Seychelles. Não são novos, é verdade, mas segundo os agentes de viagens, a procura vai continuar a ser alta este ano. Ainda assim, destacam outro destino que poderá tornar-se tendência. É uma ilha e não é daqueles sítios de férias para passar o dia estendido na toalha a pedir cocktails através de uma pulseirinha.
Saiba o que vai marcar as viagens em 2022.
Paraísos: Maldivas, Seychelles e Maurícias
O turismo continua a meio gás devido ao facto de alguns dos destinos mais concorridos ainda estarem de portas fechadas aos turistas. É o caso da Ásia, que reabriu recentemente apenas a Tailândia, e mantém algumas restrições de entrada. Por isso, em alternativa, os viajantes procuram o mesmo de 2021.
"Acho que os destinos que vamos continuar a fazer em 2022 vão ser os de 2021. As pessoas vão continuar a apostar muito em sítios seguros. Nomeadamente, Maldivas, o que se vendeu mais no ano passado, e Seychelles. Mas, para mim, a aposta que eu queria que as pessoas fizessem são as Maurícias", refere Catarina Duarte.
E a razão é simples: é o um destino igualmente de praia, como as Maldivas, mas capaz de proporcionar experiências diferentes. "É uma ilha pequenina que tem tudo: praias maravilhosas, cascatas, mergulhos com tartarugas, parques de zipline [cabo de slide]. É uma ilha muito verde e com muito para descobrir", explica, acrescentando que é o destino ideal para pessoas mais ativas. Contudo, apresenta a contrapartida: apenas aceita turistas que tenham o certificado de vacinação — algo que é cada vez mais comum, o que pode nem chegar a ser um problema.
As mesmas tendências são identificadas por Rodrigo Jesus, dono dos balcões de Porto e Sines da agência de viagens Bestravel, que está em sintonia não só quanto aos destinos repetidos, como aos que vão emergir. "Nas luas de mel, vendemos muito Maldivas, continuam a ficar no top. E depois também as Maurícias e Zanzibar são as grandes tendências para 2022", destaca Rodrigo.
Junto dos balcões desta agência, as viagens já estão a ser marcadas desde outubro do ano passado, com mais de 200 reservas feitas para 2022. Mais uma vez, o medo relacionado com a imprevisibilidade da pandemia não existe, neste caso devido a uma particularidade.
"Em todas as viagens que vendemos, não montamos nós o pacote, trabalhamos com um operador que é a TUI Portugal. Garante-nos que, com seguros de viagem e os seguros que têm, se acontecer algo em tempo de pandemia, os clientes ficam salvaguardados e podem remarcar as viagens ou ser reembolsados", afirma.
Quanto a programas, Rodrigo identifica uma outra tendência que transita dos clientes que estavam habituados a ir para as Caraíbas, México e Cuba e agora vão para os destinos da moda: viagens com regime tudo incluído.
Tendências fora da norma
Há quem ande desde 2021 a amealhar para ir para as Maldivas em 2022, mas quem já não pode nem ver mais uma imagem de praias de água azul. Para esses, que mesmo assim não querem perder o luxo de vista, a aposta para 2022 são os safaris, tal como aquele que Rita Rugeroni e Pedro Ribeiro fizeram em junho de 2021.
"Este ano já estou a começar a ter muita procura [para safaris] e estamos a apostar em setembro, porque é o mês das migrações do Quénia. Os animais saem de Masai Mara, a reserva no Quénia, e vão para Serengeti, que é a mesma, mas na Tanzânia", explica Catarina Duarte da Free Mind Travel. Ao safari junta-se o roteiro em Zanzibar, que, segundo a agente de viagens, tem um problema: apesar de ter resorts, "o serviço nem sempre é o que as pessoas estão à espera". Isto devido ao facto de algumas unidades terem falta de pessoal ou novos funcionários sem formação ou experiência na área.
Situação semelhante acontece em São Tomé e Príncipe, onde está atualmente a atriz Ana Guiomar, cuja oferta em termos de resorts é limitada, em particular no Príncipe, uma vez que o conhecido Bom Bom Príncipe está fechado e só reabre em 2023.
Apesar de tudo, Catarina Duarte deixa um conselho: "Agora é: sem expetativas. É ir de mente aberta. Há coisas que vão falhar, os serviços não vão estar iguais ao que estavam antigamente", remata.
Viajar cá dentro e pelo interior de cada um
Outro tipo de viagens, de grupo, são organizadas pela agência LEVA-ME, de João Cajuda, da qual faz parte Susana Ribeiro, que é também responsável pelo site Viaje Comigo e Mulheres em Viagem. A experiência na área do turismo faz com que consiga prever, como os restantes agentes, o que vai acontecer este ano. "A tendência de 2022 é tudo o que não se viveu em 2020 e 2021", refere Susana, que regressou da Tanzânia no início de dezembro com um grupo que se tinha inscrito no início de 2020.
Contudo, salienta alguns destinos que podem vir a ter mais procura este ano, como a tour na Islândia, que tem estado concorrida na LEVA-ME. "Não nos cruzamos com quase ninguém, é bom para estarmos isolados", justifica sobre a escolha que incide sobre um dos programas mais caros da agência e que, mesmo assim, tem mais de metade dos lugares preenchidos.
Ficam em suspenso as tours das Filipinas, Indonésia e Japão devido às restrições, e precisamente por dois anos com o mundo a fechar a abrir portas, criaram-se outras formas de viajar: cá dentro e aliar isso à autodescoberta e desenvolvimento pessoal. À boleia do projeto Mulheres em Viagem, Susana Ribeiro criou, em conjunto com Paula Matias, um retiro, intitulado "Metamorfose" que está marcado para de 25 a 27 de março, em Mafra.
"Fazer um retiro nunca me passaria pela cabeça se não fosse esta condição de 'o que nos espera para março, com o que é que podemos contar?'. E com Portugal contamos sempre. A não ser que tenhamos um confinamento, o que é pouco provável", refere. Assim surgiu o retiro, que é pouco espiritual.
"Há retiros muito mais espirituais. O nosso não é, é uma coisa pragmática. É responder a perguntas, às vezes dolorosas, e ir buscar as respostas através da escrita, porque conseguimos pôr por palavras. Não é preciso saber escrever bem", diz, referindo-se ao workshop de escrita pessoal criado por si e que faz parte do retiro (desde 350€ por pessoa, com estadia na Casa Shanti, em Mafra).
Ainda sobre as viagens no País, a agência Abreu destaca como destinos "Madeira e Porto Santo, mas também Açores", de acordo com Pedro Quintela, diretor de vendas e marketing da agência Abreu.
Ao analisar o panorama internacional e aquilo que já está a ser procurado, as reservas para as Caraíbas e ilhas espanholas estão em peso e estão a ressurgir os Estados Unidos, principalmente Nova Iorque, Miami e Orlando, bem como o Brasil.
Outros acontecimentos importantes também estão a ditar as viagens. A "Disneyland Resort Paris, que completa 30 anos este ano, já tem datas esgotadas para entradas nos Parques" e o "Dubai, pela realização da Expo Dubai e para onde a procura aumenta todos os dias", diz Pedro Quintela. À lista acrescenta a lengalenga de "Cabo Verde, Praias do Índico (Maldivas, Seychelles, Zanzibar", que mantêm o ritmo da procura, mas destaca uma tendência que não está relacionada com destinos.
"A segurança é uma das maiores tendências atuais, pelo que o interesse por viagens adaptadas a cada cliente tem verificado um interesse acrescido. Nesse sentido, temos vindo a desenvolver produtos dentro de conceitos que se têm estabelecido no mercado, como as slow travel, as viagens de experiência (na Abreu designadas por Viagens (Im)prováveis), as viagens com atenção à sustentabilidade", afirma o diretor de vendas e marketing da agência.
As redes sociais também ditam tendências
Só se não tem redes sociais ou efetivamente não lhes liga nenhuma, é que não viu nos últimos anos fotografias de influenciadores e celebridades a passear pelo mundo fora e a fazer sonhar quem por cá fica (mesmo que tenhamos visto anteriormente que há oportunidades para passear para sítios deslumbrantes em Portugal).
A Free Mind Travel e a Bestravel Porto e Sines trabalham com alguns deles e reconhecem que as redes sociais são, hoje em dia, quem dita parte das tendências.
"Não é imediato em alguns dos casos. Já trabalhámos com vários influenciadores — Sofia Ribeiro, Liliana Filipa, Cláudio, Cristina e Bárbara Guimarães — e dos que nos deram mais retorno, talvez por fazerem um destino mais na moda, foram a Cristiana Jesus e o Cláudio Alegre. A Liliana acabou por abrir portas a um destino completamente diferente daquilo que a massa dos clientes estava habituada, Zanzibar. Mas sem sombra de dúvidas que as Maldivas foram as mais reconhecidas", refere Rodrigo, da Bestravel.
Já Catarina Duarte, da Free Mind Travel, tem uma perceção diferente e diz o oposto: o efeito é imediato. "Mal eles começam a meter, é o que se começa a vender. Toda a gente quer ir para aquele hotel onde esteve x pessoa. Lembro-me que vendi à Inês Castel-Branco as Seychelles e de repente tinha não sei quantas pessoas a dizerem-me 'quero ir para o hotel onde a Inês esteve", conta.
A agente de viagens afirma mesmo que considera que "quem cria a tendência hoje em dia são os influenciadores".