Há hotéis em todo o mundo sob suspeita de se envolverem em casos de violação que continuam a ser promovidos pelo TripAdvisor. A denúncia é feita pelo jornal britânico "The Guardian": mesmo depois de a empresa de viagens norte-americana ter sido contactada sobre alegadas violações, os espaços continuaram a ser anunciados na plataforma.

Duas mulheres, que alegadamente foram violadas por funcionários de dois hotéis atualmente promovidos pelo TripAdvisor, dizem que a empresa não está a agir corretamente no modo como está a encarar as queixas. De acordo com o site do jornal britânico, as mulheres receiam que possam existir outras vítimas, uma vez que as informações sobre os incidentes que aconteceram não estão a ser divulgados, nem estão visíveis no site de viagens.

O "The Guardian" teve acesso às comunicações via email entre uma suposta vítima que aparece com o nome de "K" e o TripAdvisor. A mulher revelou ao TripAdvisor que havia sido violada por um guia turístico, cujo hotel estava a ser promovido pela empresa. K entrou em contacto com o hotel em causa e denunciou o caso à polícia. O TripAdvisor sugeriu que a queixosa deixasse uma crítica no site, na primeira pessoa, detalhando tudo o que passou.

“Nem queria acreditar. A sério que estão a pedir para relembrar os detalhes humilhantes do meu próprio ataque sexual? Esta empresa global incentivou-me a reviver o meu trauma no seu fórum para todos verem e comentarem ou, pior ainda, que o criminoso que ainda está lá fora, possa responder-me e gozar comigo? Isto fez-me sentir despedaçada, sem esperança e sozinha", disse K, ao jornal britânico.

O TripAdvisor partilhou com K cinco links de comentários de pessoas vítimas de abuso sexual a relatar as suas circunstâncias, que supostamente foram cometidos por funcionários de vários hotéis. Eram exemplos que K deveria seguir.

Christine, de 44 anos, natural de Toronto, diz ter sido violada num hotel nas Caraíbas e decidiu contar a sua história ao 'The Guardian'. Entende que o TripAdvisor é 'uma plataforma importante'

O jornal "The Guardian" revela que num desses links partilhado pelo TripAdvisor, num email datado de novembro de 2018, uma jovem de 18 anos diz ter sido violada num resort na Jamaica e, mesmo depois de ter realizado um teste de violação, os advogados do hotel venceram o caso. Atualmente, no site do TripAdvisor, o resort está classificado em 4,5 estrelas em 5 possíveis e não há nada que sinalize que essa situação tenha acontecido.

O jornal britânico descobriu mais de 40 relatos de abusos ou tentativas de abuso sexual que foram cometidos por funcionários de espaços de alojamento e que estão bem classificados no site do TripAdvisor. Dos 40 comentários, só 14 é que receberam resposta do hotel, da empresa de viagens ou de guias turísticos.

K não quis publicar "experiências em primeira mão" com medo de ser identificada e contactada, nomeadamente pelo agressor. A "avaliação" de K ficou pendente pelo facto de não ter dado o seu testemunho na primeira pessoa e ainda não foi publicada.

Em 2017, numa tentativa de lidar com os casos de abuso sexual, o TripAdvisor acrescentou uma etiqueta de advertência — uma bandeira vermelha — aos hotéis onde fossem descritas situações como as de abuso sexual, entre outras. O distintivo está visível durante três meses, até uma nova reavaliação. Ainda assim, segundo o "The Guardian", esta medida é, para os queixosos, insuficiente, uma vez que não são tomadas medidas para se averiguarem os factos.

Christine, de 44 anos, natural de Toronto, diz ter sido violada num hotel nas Caraíbas e decidiu contar a sua história ao "The Guardian", pois entende que o TripAdvisor é "uma plataforma importante e com o dever de segurança pública". Considera que o método de deixar um comentário a contar o sucedido se revela "inútil", uma vez que são constantemente ultrapassadas por outras avaliações, o que torna difícil de outros utilizadores o verem. Do mesmo modo, acredita que comentários relacionados com este tipo de agressões não devem estar lado a lado com comentários sobre, por exemplo, os "lençóis da cama".

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"Definitivamente, o TripAdvisor deveria ter um sistema diferente de revisão e avaliação para este tipos de incidentes, de modo a que não sejam enterrados com as avaliações de todos sobre a qualidade das toalhas ou dos lençóis. Especialmente se for uma questão de segurança, como para as mulheres", disse.

Ao "The Guardian", o TripAdvisor disse que enquanto não tiver a certeza de que modo é que estes comentários podem afetar o negócio, acredita que o sistema de comentários e avaliações é "muito útil" para informar os viajantes sobre os locais onde ficar ou viajar e que possuem uma centena de pessoas a trabalhar na moderação desses conteúdos. Refere ainda que a maioria dos negócios que recebeu uma bandeira vermelha tomou medidas para resolver as denúncias.

O TripAdvisor é o maior site de viagens do mundo que, de acordo com o jornal "The Guardian", tem todos os meses cerca de 456 milhões de pessoas a aceder ao site à procura de avaliações de hotéis, restaurantes, entre outros que são realizadas pelos próprios utilizadores.

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