Este sábado, 1 de outubro, celebra-se não só o início do mês, mas também, desde 2015, o Dia Internacional do Café. Para o comemorar, falamos-lhe d'A Brasileira, um dos cafés mais antigos do Porto, inaugurado em 1903 no mesmo edifício em que se encontra até aos dias de hoje.
O espaço da Rua Sá da Bandeira é hoje propriedade de António Oliveira, ex-jogador e treinador de futebol português que treinou a seleção entre 1994-1996 e 2000-2002. A exploração fica a cargo do grupo de turismo português Pestana, que transformou o edifício do café num hotel de cinco estrelas, o Pestana Porto - A Brasileira.
O café foi fundado por Adriano Soares Teles do Vale, um empresário que emigrou para o Brasil para se dedicar ao negócio do café, tendo acabado por enriquecer. Adriano apaixonou-se e casou com uma brasileira filha de fazendeiros. Não tardaria a regressar a Portugal, mais especificamente ao Porto, onde abriria, a 4 de maio de 1903, A Brasileira.
O empresário importava o café produzido no estado brasileiro de Minas Gerais e vendia-o, algo que se mantém até aos dias de hoje. Quando iniciou o negócio, não existia o costume de beber café em estabelecimentos públicos, algo agora tão popular no nosso País. Queria servir café à chávena, mas esta premissa pioneira não foi desde logo aceite.
A Brasileira era frequentada por pessoas de todos os extratos sociais, dos mais endinheirados aos mais carenciados, contou à MAGG o atual diretor do hotel Pestana Porto - A Brasileira, Daniel Mariz, que se recorda de frequentar esta cafetaria emblemática com o pai e o avô quando era jovem.
Como "havia uma falta de conhecimento do café do Brasil", servido sem açúcar, era comum os clientes classificarem-no como demasiado amargo. Tal opinião culminava muitas vezes no café a ser cuspido para o chão, como forma de desagrado. Esta reação era tão habitual que se viram obrigados a colocar um aviso: "Por favor: não cuspam no chão".
Esta tabuleta ainda se encontra na cafeteria, que, passado uns tempos, adotou uma nova estratégia: a de proporcionar aos consumidores um local próprio para o efeito (de cuspir, entenda-se). A cuspideira funcionou durante anos, mas atualmente apenas serve como decoração, embutida numa prateleira em mármore preto.
É possível tomar o café numa mesa mesmo à beira deste item histórico. Embora integre o Pestana Porto - A Brasileira, o público pode frequentar esta cafeteria, não existindo a necessidade de ser hóspede da unidade hoteleira. O mesmo acontece com o restaurante, que está interligado.
Ambos os espaços têm vista direta para aquela que é uma das ruas mais movimentadas do Porto, tal como para o Teatro Sá da Bandeira. A estação de São Bento fica a minutos a pé, assim como a Avenida dos Aliados. Poucos anos depois de abrir, a Brasileira acabou por se tornar um local de passagem obrigatória.
Era o ponto de encontro das elites. Artistas, políticos, escritores e jornalistas reuniam-se neste prestigiado local para debater os temas da atualidade. No entanto, esta glória não seria eterna. A Brasileira ficou degradada e acabou por fechar, tendo o espaço sido explorado por outros negócios.
Porém, em 2018, o mítico café do início do século XX foi alvo de uma reconstrução por parte do grupo Pestana, que sempre quis manter o esqueleto do edifício, bem como o legado. A fachada, feita em ferro pesado e com janelas de cima a baixo, foi preservada, bem como o chão original, construído com pequenos hexágonos. Hoje, detém uma convidativa esplanada.
A reabilitação profunda quer do prédio quer do café resultou na sua reabertura em 2018, agora com tons sofisticados de azul e branco e sacos de café decorativos. A torrefação do café de especialidade é feita no Porto. Provámos um expresso, que custa 1,30€ e é, de facto, outro nível.
Além d'A Brasileira no Porto, a original, Adriano Soares Teles do Vale abriu outros três cafés: "A Brasileira" de Lisboa, no Chiado, em 1095, "A Brasileira" de Braga, em 1907, e "A Brasileira" de Coimbra, em 1928. Esta cafeteria portuense está hoje integrada no hotel Pestana Porto - A Brasileira, que dedicou o primeiro piso ao café.
Desde as cabeceiras das camas ao cheiro que se sente assim que se sai do elevador no piso 1, é o paraíso para os amantes desta bebida. Todos os andares contêm uma estação de café para que os hóspedes possam produzi-lo, de acordo com as instruções fornecidas. As cápsulas foram abolidas, já que tal acabaria por desvirtuar o conceito, assim como explicou Daniel Mariz à MAGG.
Situado no coração do Porto, num local de passagem da baixa, A Brasileira é agora procurada por muitos turistas a cada ano. A célebre cafeteria tornou-se um ponto turístico imperdível para quem passa por esta cidade. Desde a reabertura, voltou a ser possível entender porque é que há anos se diz que "o melhor café é o d'A Brasileira".