Quando fazemos scroll pelo Instagram, encontramos inevitavelmente aquele casal aparentemente mega apaixonado e a viver o amor em cenários idílicos, mas no backstage dessas sessões de meter inveja há histórias de amor que ficam por contar. É o caso da que juntou Raquel Janeiro, de 25 anos, e Miguel Mimoso, de 31, mais conhecidos como Explorerssaurus, que antes de partirem para o mundo tiveram o Algarve como cartão de visita.
"Conheci a Raquel durante uma saída de amigos numa discoteca no Algarve. Ela trabalhava lá e foi amor à primeira vista", conta Miguel, de Ponte de Lima e formado em Gestão, à MAGG. Raquel começou a trabalhar aos 15 anos para ter dinheiro para viajar e apesar de ser de Vila Nova de Gaia, era para o Algarve que rumava no verão para trabalhar em part-time nas discotecas de modo a suportar os custos de futuras viagens.
O agora Explorerssauru Miguel, conseguiu explorar no Instagram o nome de Raquel até encontrá-la e decidiu mandar mensagem. Contudo, habituada a ser abordada através das redes sociais dada a profissão que tinha, Raquel Janeiro não respondeu (ou pelo menos não imediatamente).
Esse dia acabou mesmo por chegar, mas só ao fim de oito meses. "Na altura do Dia do Pai havia uma promoção para fazer um salto de paraquedas que eu comprei e ofereci a mim mesma. Eu fiz stories [de Instagram] a dizer que ia fazer esse salto e o Miguel mandou-me mensagem novamente no Instagram porque, por sorte, 15 dias antes tinha feito a mesma coisa", conta Raquel. O salto foi então a oportunidade perfeita para Miguel perguntar como tinha sido o salto e tentar, mais uma vez, a sua sorte. E não é que resultou?
"Foi a primeira vez que lhe respondi porque foi a primeira vez que mandou mensagem sobre algo que era realmente interessante para mim. Começámos a falar e a partir daí desenrolou-se", diz Raquel. E apesar de ter demorado oito meses até aqui chegarem, o restante percurso não demorou assim tanto.
Começaram a viver juntos para facilitar a dinâmica da relação entre os dois, uma vez que Raquel, formada em
Engenharia Biomédica, tinha vários trabalhos e ainda estava a acabar o mestrado. A família e amigos acharam precipitado, mas nada demoveu o casal. "Se for para dar certo vai dar certo, se não for para dar certo vamos redescobrir mais rápido que não dá", respondiam.
A certa altura, Raquel partiu para Erasmus em Valência, Espanha e, mais uma vez, os amigos acharam que "não ía dar certo, é Erasmus, vida louca", diz Raquel. No entanto, mais uma vez, não foi o que aconteceu — bem pelo contrário. A distância de Portugal a Espanha não só os aproximou ainda mais, como foi reduzida através de um acordo. "Combinámos encontrar-nos uma vez por mês e passar dois a três dias juntos a conhecer uma cidade diferente", conta Raquel.
A primeira vez, como seria de esperar, foi em Valência, a segunda em Marraquexe e seguiu-se Barcelona, Milão, Veneza, Frankfurt e Paris. De seguida, o destino foi Portugal, com o fim do Erasmus, mas o mundo estava ainda por descobrir e foi aí que a aventura começou.
Miguel Mimoso, que já gostava de fotografia, começou a aplicar esse gosto nas viagens que faziam e Raquel era apaixonada pelas viagens — quando conheceu o Miguel já tinha passado por 50 países —, mas não tinha a aptidão necessária para as fotos. Resultado? Juntaram os interesses e daí têm vindo a sair imagens cheias de cores de um mundo que decidiram dar a conhecer através das redes sociais.
Porquê Explorerssaurus?
A conta de Instagram que hoje conta com mais de 900 mil seguidores começou em agosto de 2017 e desde então já lá vão mais de 700 fotografias inspiradoras, inúmeros países visitados e infinitas aventuras — muitas delas compiladas no livro que acabam de lançar: "As aventuras, dicas e segredos dos viajantes mais famosos do Instagram" (P.V.P 18,90€).
Mas há uma questão que permanece no ar: porquê Explorerssaurus? "Na primeira viagem antes do Instagram, para a Indonésia, visitámos uma ilha que se chama Nusa Penida e tem uma praia super conhecida, a Kelingking Beach. Essa praia tem uma formação rochosa gigantesca em forma de dinossauro", explica Raquel, mas estamos longe do verdadeiro porquê do nome.
Na altura, há três anos, os acessos para a praia eram condicionados e feitos através de um penhasco bastante perigoso e Miguel, que tem medo de alturas, chegou mesmo a querer desistir. Contudo, sempre que a namorada dizia que não havia problema em voltar para cima, dizia: "Não, não. Eu vou conseguir", lembra Raquel. Chegados à praia e com o desafio ultrapassado, Miguel afirma: "Foi a primeira vez que me senti realmente um explorador".
É então da junção entre a expressão de alívio de Miguel e o local onde estavam, ambos convertidos para inglês, que deram início aos Explorerssaurus. Uma vez que percorrem muitos locais para os quais nunca ninguém olhou, pelo menos com os olhos que Miguel e Raquel olham, o nome não podia bater mais certo com aquilo que os move: "O nosso mote é de que os exploradores não estão extintos", brinca Raquel.
Miguel está encarregue da parte técnica, contabilidade, finanças, edição de fotos e vídeos, e Raquel dedica-se à parte criativa, como os sítios ideais para as fotografias e como serão tiradas, e às relações públicas. Já em conjunto, fazem de modelos de uma das páginas de Instagram de viagens com maior sucesso em Portugal.
Além de mostrarem o resultado final das fotografias, revelam também o processo para chegar aos cenários de sonho. Uma das razões para partilharem a edição está relacionada com o facto de os presets (filtros pré-criados) serem um dos produtos digitais que disponibilizam e, ao mesmo tempo, fonte de rendimento da página, e o segundo motivo deve-se à intenção do casal em mostrar a realidade aos seguidores.
"Já nos aconteceu várias vezes chegarmos a um sítio que vimos no Instagram e ficarmos super desiludidos porque percebemos que ou era photoshop, ou aquilo não existia, ou tinha uma particularidade diferente. Fazemos isso [revelar o processo] para não criar esse tipo de deceção nos nossos seguidores", explica Raquel.
Do lado de quem segue, há quem agradeça a sinceridade, para poderem perceber a realidade dos locais, mas também quem considere que o casal está a estragar as fotografias com a edição ou que devia captar momentos espontâneos.
"Para nós a fotografia é uma arte e, como qualquer artista, é normal que queira dar o seu cunho pessoal", diz Raquel, exemplificando que muitas vezes a câmara não capta aquilo que os nossos olhos veem, como as estrelas numa fotografia tirada à noite, mas defende que as fotos podem ser editadas à medida daquilo que os olhos registaram.
Como é trabalhar em casal?
Para quem estava habituada a viajar sozinha e num registo de viagem low cost (com os mínimos gastos possíveis), Raquel deparou-se com um contraste relativamente às viagens a Miguel estava habituado: ia para fora uma a duas vezes ao ano e ficava em resorts com tudo incluído. "Era exclusivamente lazer, agora é muito mais aventura", diz Miguel.
Já Raquel ficava em hosteis e andava em transportes públicos. "Eu dizia que ia ser solteira até aos 30 anos porque o meu sonho era dar a volta ao mundo até aos 30. E quando conheci o Miguel disse que não estava à procura de nada sério e expliquei-lhe o meu motivo", conta.
Contudo, Miguel começou a fazer parte das viagens e a primeira foi ainda antes de Raquel seguir para Erasmus, como forma de despedida. "Fomos juntos a Bali, ainda nem tínhamos criado a conta de Instagram. Dividíamos as despesas e em 15 dias eu gastei tipo 2 mil euros. E eu disse para o Miguel: 'Amor, desculpa, mas eu não consigo suportar estes gastos. Com 2 mil euros no ano passado visitei 24 países", conta. "Ela na altura ainda não me tinha explicado como é que se fazia isso", brinca Miguel, defendendo-se.
Mas não foi preciso explicar muito, bastou experimentar. Quando em 2017 largaram os trabalhos que tinham e começaram a viajar a tempo inteiro, já a receber algum dinheiro do Instagram, embora com a incerteza dos ganhos, o casal foi para a Índia durante cinco meses e foi Raquel quem planeou e geriu as contas.
"Lembro-me de um hotel que foi tipo de 4€ por três noites com pequeno-almoço. E o Miguel chegou a esse hotel e começou a fazer vídeos para os amigos e família a dizer 'vejam onde é que a Raquel me trouxe, nem tenho uma sanita, é um buraco no chão'. E foi aí que ele stressou", conta Raquel. Ainda assim, o namorado não resistiu a juntar-se às aventuras.
"Aconteciam coisas que se sobrepunham a esses detalhes. As experiências que ia acumulando, as pessoas que ia conhecendo. Com o passar do tempo dou mais valor a umas coisas do que a outras e esses pequenos detalhes não têm importância", afirma Miguel.
E foi assim que começaram a aprender a trabalhar em e como casal, a tempo inteiro. "Por um lado é bom, porque estamos sempre juntos, mas por outro lado é um grande desafio porque trabalhamos de formas diferentes", diz Raquel, e Miguel acrescenta: "Acho que quando trabalhamos com outras pessoas, podemos até chegar ao ponto de ter uma relação muito próxima, mas nunca a abertura de responder da mesma forma que fazemos em casal".
A confiança que têm enquanto namorados pode, por isso, ditar o caminho mais ou menos positivo das discussões quando as ideias divergem, mas ao longo do tempo foram aprendendo a gerir essas situações. No entanto, esta é viagem sem destino certo. "Ainda hoje não vou dizer que encontrámos um equilíbrio, é algo em que temos de trabalhar", afirma Raquel.
Para isso, estão a pensar fazer terapia de casal de modo que o trabalho em conjunto não se torne destrutivo a longo prazo. "Não por acharmos que estamos mal, mas porque normalmente as pessoas quando procuram este tipo de ajuda é numa tentativa de salvar uma relação que já está quase fracassada. E nós queremos fazer [terapia] quase como uma 'manutenção'", explica Raquel.
O boom no Instagram, nos bons e maus momentos
O sucesso nas redes sociais foi chegando aos poucos, mas em números astronómicos de cada vez. Logo passado sete meses de criarem a conta, uma foto tirada em Nova Iorque tornou-se viral e cresceram para cerca de 50 mil seguidores. Depois, já nas Bahamas, no Caribe, Raquel tirou uma fotografia a nadar com tubarões que ficou célebre e seguiu-se ainda uma fotografia num hotel sustentável no México que ajudou os Explorerssaurus a crescerem ainda mais.
As viagens tornaram-se virais através da partilha de outras pessoas — desde páginas de viagens, moda, hotéis ou de casais —, até ao dia em que chegaram à imprensa internacional, embora não pelas melhores razões.
"Tirámos uma fotografia no Sri Lanka, em que eu estou de fora no comboio, e essa foto foi a primeira vez que aparecemos nos media em Portugal e internacionalmente, mas por maus motivos. As manchetes eram todas com algo do género 'casal estúpido de instagramers põe a vida em risco por likes'", conta Raquel. Miguel ficou abalado com a forma como estavam a ser expostos, mas a namorada tentava ver as coisas de um ângulo positivo e transmitia-lhe que a exposição relativa àquela fotografia, sobre a qual estavam de consciência tranquila, ainda lhes ia trazer coisas boas. E o que é facto é que este foi um dos maiores booms da conta.
"Na altura, numa semana, crescemos cerca de 150 mil seguidores e recebíamos mensagens de imensas pessoas que diziam 'ainda bem que fizeram esta notícia a falar mal de vocês, senão nunca teria encontrado o vosso trabalho'", lembra Raquel. Além de terem ganho um grupo de seguidores bastante fiéis, a partir desse momento o crescimento dos Explorerssaurus tem sido sempre em sentido ascendente.
Depois de apareceram na imprensa internacional pelos piores motivos, se hoje pudessem voltar a ter destaque num jornal, sabem que este podia ser bem mais positivo. "Pessoas como nós, não necessariamente criadores de conteúdos de viagens, têm mostrado que há um outro mundo para lá do trabalho das 9h às 17h ou ter de trabalhar para outra pessoa numa empresa importante para ser bem sucedido", diz Raquel.
Quando começou, o casal de exploradores nem sabia que era possível receber dinheiro com o Instagram ao fazer aquilo de que mais gostam — e até fazer deste um trabalho mais rentável do que aquele que tinham anteriormente—, mas já lá vão três anos, muitos trabalhos com marcas e cenários de sonho num só feed de Instagram.