Não vos vou mentir, planear esta viagem de um ano pelo mundo com o meu namorado, foi um processo demorado, que me deixou a transbordar de dúvidas e receios, mas este caos mental não veio só. Chegou acompanhado de certezas, entre as quais, a de que eu iria até Bali. 

Esta província da Indonésia seduz pela espiritualidade, mas também pela autenticidade, beleza natural, cultura vibrante, tradições únicas, praias maravilhosas, ambiente descontraído, templos, campos de arroz, retiros de ioga, comida saudável e saborosa, cascatas, ilhas paradisíacas a dois passos, preços acessíveis. Acreditem, eu vinha com as expectativas altas, mas foram largamente superadas, e hoje conto-vos porquê. 

Aterrei em Bali após cinco meses de viagem pela Tailândia, Vietname, Camboja e Malásia. O entusiasmo era muito, tal como o cansaço e, até, as saudades de casa. É maravilhoso viajar sem parar, mas consegue também ser muito exaustivo, sobretudo se à viagem juntarmos trabalho, como eu fiz - viajei pelo mundo a trabalhar como nómada digital e daí resultam, não só os artigos que tenho estado a publicar aqui, como também os vídeos que podem ser vistos aqui. 

“Mas, afinal, porque é que Bali é tão especial?”, perguntam vocês, e eu explico. Bali é mágico por tudo aquilo que vos disse antes, mas revelou-se único graças à comunidade portuguesa na qual esbarrei em Uluwatu, região sudoeste da Península de Bukit, em Bali. Estava eu ainda atordoada com a improbabilidade deste completo acaso, quando fiquei a saber que estes nossos conterrâneos são os empreendedores por detrás de cinco boutique hotéis de sonho, nesta zona da Indonésia. 

Como se estas surpresas não bastassem, surgiu ainda a oportunidade única de ficar hospedada em cada um destes hotéis imperdíveis. Sim, é verdade, ao longo de nove dias, tive o privilégio, não só de ficar a conhecer este maravilhoso grupo de portugueses emigrantes, como também de ficar hospedada nos lindíssimos boutique hotéis que possuem. 

Prontos para uma visita guiada por cada um destes cinco hotéis portugueses que têm morada em Bali? 

The Room [Padang-Padang]

Primeira paragem: The Room [Padang-Padang]. Rita Barreto Soares, 51 anos, é uma das sócias do hotel e recebeu-me aqui com um abraço apertado. Com ela neste projeto, está o marido, Rui Marreiros, 52, e também o amigo de longa data, Zsolt Lorincz, 41, natural da Hungria, mas residente em Portugal desde criança, até à mudança definitiva para Bali, em 2019, a propósito do lançamento do hotel. São, segundo Rita, “uma sociedade improvável, mas que tornou real um projeto muito sonhado”. 

“Este foi um dos primeiros edifícios a ser construído nesta zona de Uluwatu (Bali), ainda na década de 80 do século XX, ou seja, podemos dizer que estamos perante uma verdadeira pérola vintage da arquitetura balinesa”, explica Rita. A decisão de avançarem com o hotel implicou, claro, obras de renovação, que resultaram num belo “espaço acolhedor, que combina um estilo minimalista com detalhes de artesanato indonésio”. 

The Room [Padang-Padang] abriu em julho de 2019, mas viria a fechar meses depois, em março 2020, devido à COVID-19. A reabertura pós-covid concretizou-se em abril de 2022 e, desde aí, não tem havido descanso para este trio improvável. 

O hotel tem 20 quartos, uma piscina comum e um jardim verdejante, mas há dois aspetos que sobressaem quando aqui chegamos: o cheiro a incenso e a cor laranja de todo o edifício. “Estando nós em Bali, o incenso é obrigatório, não só porque serve de anti-repelente natural para os insectos, mas também porque, de acordo com as crenças locais, ajuda a limpar a atmosfera de toda e qualquer energia negativa ou estagnada”, explica Rita. 

Quanto à inconfundível cor vibrante do hotel, a anfitriã confessa que a mesma resulta de um erro técnico na mistura, mas que, na verdade, acabou por resultar muito bem e, assim, por convencer toda a equipa: “o laranja tem extrema importância no hinduísmo, religião predominante aqui em Bali, portanto, acabámos por ver neste acaso uma boa forma de agradecermos aos balineses terem-nos acolhido nesta nossa aventura. Além disso, esta cor remete-nos à criatividade, aventura, jovialidade e entusiasmo, portanto, características que definem o nosso público-alvo”. 

The Room está muito bem localizado, fica mesmo em frente às famosas ondas da praia Padang-Padang, o que explica que muitos dos hóspedes sejam surfistas e bodyboarders. O hotel está também muito bem cuidado e denuncia atenção aos detalhes, mas é, sem dúvida, um espaço de descontração, onde é comum ver pés descalços e cheios de areia. 

Sal Secret Spot

Do The Room [Padang-Padang] à próxima paragem são apenas cinco minutos de carro, ou seja, num instante cheguei ao Sal Secret Spot. Também aqui fui recebida por um português. Miguel Leitão, 53, é um dos donos deste boutique hotel maravilhoso, que foi dos primeiros a surgir em Uluwatu, em 2014. “Por esta altura, esta zona da Bali era ainda pouco explorada, e tinha muito pouca oferta”, conta Miguel. Ao longo destes quase dez anos de Sal Secret Spot, nunca esteve sozinho. Com ele desde o início, a celebrar todas as conquistas, estão os dois sócios que perfazem mais um trio de empreendedores portugueses em Bali: a ex-mulher de Miguel, Sandra Costa, 47, e o irmão, Ricardo Leitão, 49. 

Miguel lembra que, em 2014, a decoração dos hotéis em Bali era toda em madeira, o que os levou a fazer diferente: “nós inspirámo-nos em Portugal, Espanha, Grécia e decidimos fazer o que ainda não tinha sido feito por cá: um hotel todo em branco. Agora vê-se muito disto, mas na altura, causou impacto termos sido os primeiros a inovar por completo. As pessoas chegavam aqui e espantavam-se. Eu via na cara delas como adoravam”. 

Hoje em dia, não será muito diferente, pelo menos, falo por mim. Fiquei encantada com a beleza de tudo o que vi aqui. O branco sobressai, quer nos quartos, quer nos espaços comuns do hotel. Quase parece que estamos sobre uma nuvem e, para isso, contribui também o facto de todo o ambiente ser relaxante, com música ambiente e, até, o cheiro a apelarem a isso mesmo. 

Aqui qualquer área surpreende, incluindo as casas de banho. No quarto onde fiquei, a zona do duche é a céu aberto, mas, claro, sem comprometer a privacidade. A zona da piscina comum do hotel também é diferente de tudo o que já vi, com almofadas impermeáveis a fazerem de nenúfares acolchoados que gritam por uma boa sesta. A verdade é que não é fácil encontrar palavras que façam jus à beleza do cenário em que estive, por isso, partilho convosco esta fotogaleria. 

O Sal Secret Spot divide-se em três unidades. O Main Sal, onde eu fiquei, foi a primeiro a surgir, e tem doze quartos disponíveis. A localização é fantástica, no centro de Bingin, perto das praias e restaurantes mais requisitados desta zona de Bali. O sucesso deste primeiro projeto deu o mote para o lançamento do Sal Beach, que dispõe de sete quartos e, como o próprio nome indica, fica em cima da praia (de Bingin). É o espaço ideal para quem vem à procura de uma experiência mais exclusiva, já que o acesso aqui é menos óbvio e fácil. Não contentes com o sucesso destas duas unidades, Miguel, Ricardo e Sandra abriram uma terceira, no final de 2022. Sal Central  é o nome do mais recente projeto deste trio empreendedor que tem, entre as três unidades, vinte e seis quartos disponíveis.

Gravity Boutique Hotel

Podiam ser, mas não só as três unidades Sal a ocupar os dias de Miguel, Ricardo e Sandra. O inconfundível Gravity Boutique Hotel é também um dos projetos que lançaram em Uluwatu, em parceria com o grande amigo Ricardo Teixeira Gomes, mais conhecido por Ricky. Miguel dá a cara pelo Sal e, no caso do Gravity, é Ricky a fazê-lo, juntamente com a mulher, Ana Cooke. “Ela é o meu braço direito. Nós mudámo-nos para Bali em família, com os nosso dois filhos, para abrirmos o hotel. Portanto, desde que inaugurámos, em 2016, trabalhamos aqui, juntos, todos os dias”, conta Ricky. Mas nem sempre foi assim — antes de aqui chegarem, a vida era bem diferente. “Eu trabalhei 10 anos em publicidade, transitei depois para a área de marketing, enquanto gestor de marca, e acabei por assumir a função de diretor de marketing em multinacionais. Contudo, sempre sonhei ter o meu negócio”, confessa Ricky. A paixão por decoração, e algumas visitas a Bali, acabaram por dar origem à ideia de abrir um negócio ligado à hospitalidade em Uluwatu. Ter conhecido o Miguel foi o ponto de viragem para que Ricky passasse do sonho à realidade. 

“O Miguel já tinha lançado o Sal Secret Spot, a meu ver belíssimo, e tanto eu, quanto a minha mulher, sempre fomos malucos por remodelar espaços. Acabámos, assim, por decidir avançar com o mesmo conceito, mas sintonizámos de tal forma, que concordámos em arriscar num projeto ainda mais ambicioso. Eu acreditei desde o início que seria possível criarmos um produto mais premium, e foi isso mesmo que acabou por acontecer”, confessa Ricky.  

Gravity Boutique Hotel é, de facto, fantástico. Sem qualquer dúvida, é o hotel mais incrível e bonito onde eu já tive oportunidade de estar. Tem ampla vista mar, portanto, qualquer pôr-do-sol a partir daqui é inesquecível. O hotel dispõe de 15 quartos, quatro piscinas comuns maravilhosas e uma privativa, num dos quartos. Gravity Boutique Hotel é tão espaçoso, quanto acolhedor. Toda a estrutura é branca, mas está envolta em natureza, ou seja, por toda a parte vemos plantas, e até flores. Aqui tudo é de uma beleza ímpar, por isso, desfrutar do hotel é, por si só, uma experiência única. 

“O Gravity é um sucesso desde o dia em que inaugurou, em 2016, mas a ideia é, e sempre será, continuarmos a progredir”, explica Ricky. Genica, ideias e iniciativa é o que não falta a este grupo de amigos empreendedores, que investiu também em duas moradias na mesma rua do Gravity Boutique Hotel. Foi assim que, em 2019, surgiram as Gravity Suites, que são seis, ao todo. Segundo Ricky, constituem “um produto mais premium, que proporciona ao cliente uma experiência ainda mais exclusiva”. Como o próprio nome indica, aqui a oferta são suites, ou seja, quartos de hotel com áreas maiores, mais do que uma divisão, e piscina privativa.

Tanto no Gravity Boutique Hotel, quanto nas Gravity Suites, não há uma ponta solta. Em ambas as unidades de negócio, qualquer recanto é inédito, por isso, é quase irresistível imortalizar tudo através de fotografias. O resultado está à vista e, segundo Ricky, beneficia a marca Gravity: “ao longo dos anos, temos vindo a tornar-nos muito populares também devido ao instagram — diria, até, que isso contribuiu para alavancarmos a nossa visibilidade a nível mundial”.

Village Bali

Dois dias depois de estar no Gravity Boutique Hotel, cheguei ao Village Bali, onde fui recebida por Francisco Areosa, 36, e Tiago Mariz, 52, mais uma dupla imbatível na arte de empreender. “Nós não nos conhecíamos até à minha chegada a Bali. Começámos por ser amigos, depois colegas de trabalho — ou seja, gerentes em hotéis diferentes —, por fim grandes amigos e, hoje, somos sócios”, conta Francisco.  

O hotel abriu em novembro de 2019, três meses antes de Bali fechar por dois anos, por causa da COVID-19. Reabriu no primeiro semestre de 2022 e, desde então, tem sido um sucesso. A localização do Village é privilegiada, o que ajuda a que não passe despercebido: não só o hotel está muito perto do comércio local, como fica ao lado da praia Impossibles, considerada uma das mais imperdíveis, em Uluwatu, para amantes do surf. 

Este boutique hotel dispõe de 25 quartos, um restaurante com uma ementa variada, uma piscina de 70 metros quadrados, uma ioga shala — para praticar ioga — e um spa, onde é possível desfrutar de massagens muito relaxantes. A decoração mistura design e moda, portanto, impera aqui o bom gosto, mas nem por isso o conforto é menosprezado. O hotel é moderno, apresenta linhas retas, tons masculinos e paredes em cimento.

O trabalho não pára, e a cabeça também não, por isso, quando perguntei por planos a médio prazo, Francisco tinha a resposta na ponta da língua: “estamos de momento a fazer de tudo para que a nossa pegada ecológica seja a mínima possível — o objetivo é apostarmos em energia sustentável e veículos elétricos”. 

Terra Cottages 

Está visto que garra e predisposição para arriscar é coisa que não falta a estes nossos conterrâneos. E, se dúvidas houvesse, Francisco e Tiago vêm provar que tudo é possível, com a abertura de um novo boutique hotel, em finais de 2022. “O Terra Cottages Bali é inspirado no Norte de África, isto é, mistura influências marroquinas e balinesas. O estilo é bem mais feminino e instagramável, se comparado ao do Village”, revela Francisco. 

As sócias gerentes também impactam, e muito, o bom funcionamento do hotel. Maria Sobral e Ana Sobral são irmãs, são portuguesas e são, também, especialistas na arte de bem receber — não é exagero meu, fizeram mesmo com que me sentisse em casa enquanto aqui estive hospedada. 

Terra Cottages fica no topo de Bingin, uma das praias mais cobiçadas de Uluwatu, para comer peixe grelhado, fazer surf e contemplar o pôr-do-sol. Dispõe de 21 quartos, uma piscina e um restaurante, onde são servidos pequenos-almoços deliciosos. A mim, conquistaram-me os smoothies e as panquecas, mas, segundo os donos do hotel, overnight oats é o produto estrela. A decoração aqui é simples, mas bonita, e denuncia grande amor e cuidado. Dentro e fora dos quartos, predomina a cor terracota, daí o nome Terra Cottages. 

Dos cinco hotéis sobre os quais incide a publicação de hoje, este é o mais recente, mas tal como todos os outros, é um sucesso. “Com tão pouco tempo de existência, já somos um 9.4 em 10 na principal plataforma de reservas online. Isto deixa-nos satisfeitos e com muita vontade de fazer mais e melhor”, confessa Francisco.

Não há dúvidas, qualquer um destes hotéis encanta. Contudo, confesso que o que mais me impactou em toda esta experiência, foi ter acedido a estas pessoas e às suas histórias. Um dos donos do Gravity, o Ricky, disse-me: “nós viemos à procura de uma vida diferente. Fomos corajosos, deixámos o nosso país para nos instalarmos num outro, longe do nosso, com uma cultura bem diferente daquela a que sempre estivemos habituados. Arriscámos, e acabámos por adaptar-nos imensamente bem a este estilo de vida. Aliás, eu quase todos os dias digo: quem me dera parar o tempo. Isso transmite bem a felicidade que sinto neste momento, certo?”. De forma muito natural, o Ricky tende a falar no plural. Percebi que isso acontece porque exprime-se em nome de toda esta comunidade de empreendedores portugueses. O que é que isto deixa bem claro?

Que embora, na teoria, estes sejam hotéis concorrentes, na prática, não é nada disso que vivem e sentem os donos por detrás de cada hotel. Pelo contrário, formam todos uma família unida e aproveitam, juntos, o melhor da vida ao máximo. Admiro-os por isso, mas também por serem um exemplo tão real de que nunca é tarde para sairmos da nossa zona de conforto, para arriscarmos, para começarmos de zero o que for, onde quer que seja. 

Espero que tenham gostado da publicação de hoje e, já sabem, em caso de dúvida ou sugestão, podem e devem contactar-me via e-mail ou mesmo pelo Instagram, onde partilho mais sobre esta aventura.