Entre fraldas, amamentação, choros, sono e cólicas, a alimentação, também chamada de alimentação complementar (quando os bebés começam a ingerir alimentos que não apenas o leite) é um tema complexo, com muitas regras diferentes, que deixa muitos pais às aranhas, sem saber por onde começar.

Existem regras sobre a altura em que os bebés devem começar a ingerir alimentos. As diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam que a alimentação complementar seja iniciada o mais perto possível dos seis meses. No entanto, muitos pais e alguns profissionais de saúde não veem problemas em iniciar esta fase antes, aos quatro meses, muitas vezes para facilitar a rotina na creche.

“O melhor é iniciá-la é de forma muito lenta e gradual, respeitando o desenvolvimento e a aceitação do alimento por parte do bebé”, diz a nutricionista Sandra Santos à MAGG, que acaba de lançar o livro “Papinhas da Xica”, um guia dedicado à alimentação durante o primeiro ano dos bebés.

O livro 'Papinhas da Xica' é editado pela Arena e está disponível nas livrarias com um preço recomendado de 19,80€

A especialista explica que o ideal é que esta mudança aconteça também num ambiente tranquilo, onde o bebé se sinta confortável e bem-disposto. “Um bebé com sono, rabugento ou esfomeado, eventualmente estará mais impaciente e menos disponível para vivenciar esta nova experiência. Por outro lado, os pais devem evitar comparações com outras crianças, bem como ficarem demasiado ansiosos relativamente à quantidade de alimentos ingeridos”, salienta Sandra Santos.

Os legumes devem ser o primeiro alimento

Iniciada a alimentação complementar, “devemos começar pelos legumes uma vez que são menos ‘doces’ do que as farinhas e irão estimular o paladar do bebé para sabores não doces. Até pelo menos um ano de vida do bebé devemos evitar alimentos com açúcar, sal e altamente processados/industrializados”, recomenda a nutricionista, que acrescenta que as papas caseiras, utilizando apenas o cereal (seja em grão, flocos ou farinha) são uma boa alternativas às farinhas industrializadas para bebés.

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“Para variar o sabor, podemos juntar às papas feitas em casa, fruta, legumes ou produtos lácteos como o iogurte, que devem ser introduzidos em conformidade com a idade do bebé”, realça a especialista.

Foi a pensar na dificuldade que muitos pais sentem nesta fase da alimentação que Sandra Santos criou o blogue Papinhas da Xica. Tal como conta no seu livro, uma das suas melhores amigas, também ela nutricionista, desafiou-aa partilhar na internet as papinhas caseiras que, dali a pouco tempo, iria  preparar para a filha. "Uns meses depois, nasceu o projeto ‘Papinhas da Xica’. A ideia era utilizar uma plataforma digital que me permitisse publicar alguns conteúdos interessantes no âmbito da nutrição em saúde materno-infantil, bem como diversas receitas."

Um ano depois do lançamento do blogue, surgiu o convite para o livro. Apesar da especialista seguir as recomendações da OMS, e de ter iniciado a alimentação complementar da filha aos seis meses, o livro apresenta soluções de receitas para bebés entre os quatro e os 12 meses. “Como muitas famílias, por várias razões, optam por iniciar antes, quis que estas não se sentissem excluídas”, explica a nutricionista.

Conheça seis receitas ideias para fazer as delícias do seu bebé, selecionadas pela autora do livro “Papinhas da Xica”, editado pela Arena (19,80€).

Superpuré de brócolos (mais de 4 meses)

Os brócolos são um superalimento e protegem os tecidos e as células do bebé

Ingredientes (para 3-4 porções)

200 g de batata-doce
150 g de brócolos
1 pêra-rocha
1 colher de chá de azeite virgem extra (por porção)

Preparação

Lave bem todos os ingredientes. Descasque a pêra e a batata-doce. Corte todos os legumes em pequenos pedaços uniformes e leve-os a cozer, preferencialmente a vapor. Depois é só triturá-los com o auxílio de uma varinha mágica ou outro processador de alimentos e adicionar uma colher de chá de azeite por porção.

Pode conservar este puré no frigorífico até dois dias ou congelar até um mês. A cozedura promove a perda de alguns fotoquímicos presentes nos brócolos. Como tal, sempre que possível, deverão ser cozinhados a vapor.

Papinha de millet e maçã (mais de 4 meses)

O millet é um cereal sem glúten, sendo uma boa opção para o início da diversificação alimentar

Ingredientes (para 1-2 porções)

3 colheres de sopa de millet
1 maçã doce e madura descascada, descaroçada e ralada
Leite do bebé: materno ou fómula (opcional)
1 chávena de água (250 ml)

Preparação 

Lave o millet e deixe-o a demolhar durante, pelo menos, uma hora ou durante a noite. Descasque, descaroce e corte a maçã em pequenos pedaços uniformes. Numa panela, em lume muito brando, coza o millet nos 250 ml de água durante cerca de 20-25 minutos ou até este ficar macio e engrossar. A meio do tempo, junte a maçã ralada. Retire do lume e reduza a mistura a puré, triturando com o auxíio de uma varinha mágica ou de um robot de cozinha.

Antes de servir, poderá ajustar a consistência do puré, adicionando um pouco de leite do bebé. Mas lembre-se que, depois de adicionar o leite, não deve voltar a reaquecer a papa (dado que ambos os leites, materno ou fórmula, não suportam temperaturas superiores a 37º). Pode guardar no frigorífico até dois dias o preparado sem leite (não deve guardar a papa no frigorífico já com o leite adicionado, dado que este pode perder propriedades nutricionais, não sendo aconselhável, de acordo com a nutricionista).

Papinha de espelta e pêssego (mais de 6 meses)

O trigo espelta possui menos ácido fítico, sendo mais fácil de digerir

Ingredientes (para 3 porções)

1⁄2 banana madura
1 pêssego
3 colheres de sopa de farinha de espelta
1 copo de água (210 ml)
1 casquinha de limão
Leite materno ou fórmula (opcional)

Preparação

Esmague a banana e o pêssego (descaroçado) com um garfo. Numa caçarola, dissolva a farinha de espelta em água; junte-lhe a banana, o pêssego e a casca de limão. Leve a cozer durante cerca de 10 minutos em lume brando, mexendo sempre. Retire do lume e deite fora a casca de limão.

Antes de servir, acrescente à papa um pouco de leite do bebé, para obter um creme aveludado. Não ferva a papa depois de adicionar o leite. Pode guardar o preparado no frigorífico até dois dias.

Scones de cenoura (mais de 6 meses)

Os scones de cenoura são uma guloseima sem açúcar

Ingredientes (para 8 scones)

1 chávena de farinha de espelta
2 colheres de sopa de óleo de coco
1 cenoura ralada
1 colher de chá de fermento
4 tâmaras
1⁄2 chávena de sumo de laranja

Preparação

Pré-aqueça o forno a 180 °C. Triture as tâmaras (descaroçadas) num processador por alguns segundos; adicione a farinha e volte a triturar. Numa taça, junte a esta mistura os restantes ingredientes, mexendo e envolvendo muito bem até obter uma massa homogénea.

Forre um tabuleiro de ir ao forno com papel vegetal e deite colheradas da massa. Leve ao forno durante 15-20 minutos e deixe arrefecer numa grade de metal. Conserve num recipiente fechado em lugar fresco e seco até uma semana.

O meu primeiro caril (mais de 9 meses)

Esta receita é uma alternativa suave para apresentar ao bebé a pratos mais condimentados

Ingredientes (para 4 porções)

120 g de peito de frango, sem pele nem ossos, cortado em pedaços
1 colher de chá de caril em pó
1 cebola picada
1 dente de alho
2 colheres de sopa azeite
100 ml de água
200 ml de leite de coco
1 maçã
100 g de couve-flor
1 pitada de açafrão
1 colher de sopa de sumo de limão
1 colher de sopa de coentros picados

Preparação

Corte o peito de frango em cubos e tempere-o com o sumo de limão e o caril. Refogue no azeite a cebola e o alho bem picados. Junte o frango e deixe alourar, mexendo frequentemente. Adicione o leite de coco e o açafrão, tape e deixe cozer em lume brando.

Adicione a couve-flor e a maçã, previamente descascada e cortada em gomos, e junte ao frango. Junte água e deixe cozinhar durante cerca de 20 minutos. Antes de servir, polvilhe com um pouco de coentros picados. Pode servir com um pouco de arroz basmati. Conserve no frigorífico até dois dias ou congele até um mês.

Gelado de frutos vermelhos (mais de 12 meses)

O segredo deste gelado está no manjericão, que lhe confere frescura e aroma

Ingredientes (para 6 gelados)

2 chávenas de frutos vermelhos congelados
4 colheres de sopa de iogurte grego (não açucarado)
1 banana da Madeira descascada
3 figos (opcional)
Folhas de 2 pés de manjericão
1 fatia de pão integral sem côdea (cerca de 50 g)

Preparação

Junte todos os ingredientes e triture-os num processador de alimentos. Coloque o preparado em formas de gelado ou em cuvetes de cubos de gelo. Leve ao congelador durante, pelo menos, 1-2 horas.

Os frutos secos e as oleaginosas devem ser muito bem picados para evitar o risco de asfixia e inalação. Também pode servir esta mistura de imediato, como se fosse uma papinha. Conserve no congelador até um mês.