A organização politico-militar palestiniana Hamas, considerada como terrorista pela União Europeia e os Estados Unidos, lançou na manhã deste sábado, 7 de outubro, um ataque surpresa em várias zonas no sul de Israel, causando já mais de 100 mortos e perto de mil feridos, muitos com gravidade, quase todos civis, fazendo ainda incursões dentro do território israelita para fazer reféns militares e cidadãos comuns, considerados prisioneiros de guerra. Os ataques-surpresa, apelidados de "Operação Tempestade Al-Aqsa", não resultaram de qualquer conflito recente evidente, e ocorreram através de mísseis que atingiram alvos civis, bairros residenciais, e foram considerados um ato de guerra por parte de Israel. "Isto não é uma simples operação. Isto é uma batalha total. Nós esperamos que os combatem prossigam e que a frente se expanda”, disse um dos líderes do Hamas, Saleh al-Arouri, em declarações à televisão árabe Al Jazeera."Estamos à beira de uma grande vitória e de uma clara conquista na frente de Gaza”, garantiu ainda Ismail Haniyeh, chefe do gabinete político do Hamas, aos microfones da Sky News.
Pela primeira vez em muitos anos, Israel declarou oficialmente o estado de guerra, já começou a retaliação e deixa um alerta aos outros países árabes vizinhos: "Que ninguém cometa o erro de se juntar a esta guerra", disse o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. “Desde o início desta manhã, o Estado de Israel está em estado de guerra”.
Já depois do ataque do Hamas, Israel ripostou com ataques das Forças Armadas na zona de Gaza, matando vários terroristas do Hamas. O número total de mortos, dos dois lados, já andava perto dos 500 a meio da tarde deste sábado. Feridos são quase 2000. E tudo isto aumenta com o passar dos minutos.
Mas de onde vem este conflito israelo-palestiniano que parece não ter fim e que já fez centenas de milhares de mortos desde os anos 60?
Como começou o conflito?
Na verdade, o conflito começou logo em maio de 1948, aquando da formação oficial do Estado de Israel, depois de uma decisão das Nações Unidas, que não foi reconhecido por nenhum dos seus vizinhos, todos estados árabes. A sul o Egito, a norte o Líbano e a Síria, a oeste a Jordânia, nenhum ratificou o tratado, deixando Israel isolado e debaixo de enorme tensão. Os territórios atribuídos a Israel faziam parte da grande região da palestina, administrada pelo Reino Unido até 1948, e neste estabelecimento de uma região judia e outra árabe ficou de fora a cidade religiosa mais importante para ambos, Jerusalém. Este território permaneceu sob domínio das Nações Unidas, precisamente para não se criar um conflito.
Na noite de 14 de maio de 1948, dia em que foi criado o Estado de Israel, os estados árabes vizinhos, apoiados pelo Iraque e Arábia Saudita, lançaram um forte ataque militar sobre Telavive, que resistiu. Só em fevereiro de 1949 foi possível um acordo de paz, que fez com que Israel passasse a ficar com o domínio territorial de alguns territórios até então palestinianos, mas o que é hoje a zona da Faixa de Gaza, a sul, e da Cisjordânia, a oeste, continuaram a ser administrados por potências árabes, o Egito e a Jordânia, respetivamente.
A Guerra dos Seis Dias (1967)
Embora as tensões permanecessem ao longo de praticamente todos os anos, só em 1967 o conflito escalou de forma violenta e decisiva. Em maio desse ano, o Egito exigiu que as Nações Unidas retirassem os capacetes azuis da fronteira com Israel, o que foi visto com enorme desconfiança pelos judeus. As tropas egípcias começaram então a mobilizar-se em direção à fronteira, ocupando posições estratégicas de invasão. Ao mesmo tempo, decretou um bloqueio naval a Israel no Mar Vermelho, partilhado por Israel, Egito e Jordânia. Todos os navios com destino a Israel foram intercetados, o que constituía um bloqueio económico e uma violação clara do Direito Internacional. As duas ações foram vistas por Israel como atos de guerra. Os serviços secretos israelitas da Mossad obtiveram informações de que estava em curso uma invasão concertada do território por parte de Egito, Jordânia e Síria. O governo israelita lançou um apelo à Jordânia para que permanecesse neutra num eventual conflito, mas Israel disse estar na posse de informações de que os jordanos iriam participar da ofensiva contra o seu território.
A 5 de junho, e de forma surpreendente, Israel lançou um ataque surpresa a sul contra o Egito, na zona do Sinai, a sul contra a Síria, na zona dos montes Golãs, e a oeste contra a Jordânia, nos territórios da Cisjordânia, administrados pelos jordanos. Em apenas seis dias, Israel dizimou por completo os três países, todos eles apoiados e armados pela União Soviética. A 10 de junho, seis dias depois do início do conflito, os árabes renderam-se. Como resultado da guerra, Israel ficou na posse da Faixa de Gaza, que era adminstrada pelo Egito, da Cisjordânia, que estava sob domínio jordano, e dos montes Golãs, a norte, que eram território sírio. Mas esta guerra, sobretudo, mostrou ao mundo árabe o poderio militar esmagador de Israel, que passou a ser vista pela comunidade internacional como uma grande potência militar.
A Guerra do Yom Kippur (1973)
A resposta chegou seis anos depois. A 6 de outubro de 1973, dia sagrado para os israelitas (o Yom Kippur), Egito e Síria lançam um ataque surpresa contra Israel numa tentativa de recuperarem os territórios perdidos na Guerra dos Seis Dias. Nos primeiros dias, por causa do efeito surpresa, egípcios e sírios reconquistaram a zona do Sinai, Gaza e os montes Golãs, mas ao fim de cinco dias apenas começaram a recuar. Israel, fortemente apoiada através de armas norte-americanas, rapidamente reconquistou terreno e foi entrando pelos territórios dos países invasores, que, mesmo com armas soviéticas, não foram capazes de travar os israelitas. Em 20 dias, Israel empurrou os egípcios e quase chegou a entrar no Cairo (ficou a 50 km), e devastou os sírios, bombardeando a capital damasco, que ficou arrasada. Ao fim de 20 dias de guerra, foi assinado o cessar-fogo, que representou um embaraço internacional para as forças árabes (e soviéticas).
Após esta guerra, Israel passou a administrar os territórios de Gaza e da Cisjordânia. Mais tarde, usou os territórios do Sinai, a sul, e dos montes Golãs, a norte, para forçar Egito e Síria a reconhecerem o estado de Israel, oferecendo como contrapartida a devolução dos territórios, o que aconteceu.
Desde então, os palestinianos acusaram sempre Israel de permanecer em território ocupado ilegalmente e Israel justifica a ocupação com o facto de querer preservar a segurança do seu território, sempre comprometida quando estes territórios estiveram na posse dos estados árabes.