Este fim de semana um jovem de 19 anos foi assassinado à facada à porta de um bar em Braga depois de ele e os seus amigos se terem envolvido numa rixa com outro grupo de jovens brasileiros. A discussão começou porque, ainda dentro do bar, "Manu", como era conhecido, alertou uma rapariga que um desses jovens brasileiros teria "minado" a sua bebida. O rapaz não gostou e a discussão começou, levando os dois seguranças a colocar os dois grupos na rua. Já cá fora, deu-se o crime.

jovem de 19 anos morto em braga
jovem de 19 anos morto em braga Manu foi assassinado em Braga

Mas afinal o que é isso de "minar" a bebida de alguém? Quais os efeitos, perigos e como prevenir? Resumidamente, este é um chamado perigo silencioso, quase invisível: a submissão química.

O termo pode soar técnico, mas a prática é assustadoramente simples — e real. Consiste na introdução intencional de substâncias psicoativas no organismo de alguém, sem o seu consentimento, normalmente através de bebidas. O objetivo? Controlar, manipular, incapacitar. As vítimas? Sobretudo mulheres, em contextos de diversão noturna.

O que significa “minar a bebida”

Minar uma bebida é adulterá-la com drogas — muitas vezes incolores, inodoras e insípidas — com o intuito de tornar a vítima vulnerável. A expressão tornou-se mais comum nos últimos anos, à medida que os casos se tornaram mais frequentes e mais falados, sobretudo em discotecas, bares, festivais ou festas privadas.

As chamadas “drogas do violador” são as mais utilizadas nestes contextos. Entre elas:

  • GHB (ácido gama-hidroxibutírico): conhecida pela sua ação rápida, causa sonolência, relaxamento muscular e perda de consciência.

  • Ketamina: provoca efeitos dissociativos, confusão e perda de controlo físico.

  • Rohypnol (Flunitrazepam): sedativo poderoso, que pode causar amnésia e desinibição.

  • Benzodiazepinas comuns: como diazepam ou lorazepam, quando usadas sem prescrição, têm efeito semelhante ao do álcool, mas muito mais intenso.

Estas substâncias atuam em minutos e, combinadas com álcool, têm efeitos amplificados. O resultado pode ser devastador: desde desorientação até apagões completos da memória, deixando a vítima incapaz de se proteger — ou sequer lembrar o que aconteceu.

Sinais de alerta: quando o corpo avisa

Identificar uma bebida minada pode ser difícil, mas há sinais a que devemos estar atentos:

  • Mudança repentina no sabor, cheiro ou cor da bebida.

  • Formação de resíduos ou espuma incomum.

  • Efeitos físicos inesperados, como tonturas, fala arrastada, visão turva, fraqueza, sonolência extrema ou dificuldade em andar — sobretudo se bebeste pouco álcool.

  • Lacunas de memória ou sensação de "tempo perdido".

Em terceiros, é igualmente importante estar atento. Alguém que parece embriagado “de repente”, muito desorientado ou a ser levado para fora de um espaço por um estranho, pode estar em perigo.

O que fazer se se suspeitar de submissão química

  1. Afastar-se do local e procurar um ambiente seguro.

  2. Pedir ajuda a um amigo, segurança ou membro do staff do bar.

  3. Ir imediatamente a um hospital ou centro de saúde. O ideal é realizar exames dentro das primeiras horas.

  4. Guardar a bebida, se possível, para análise.

  5. Apresentar queixa na polícia.

Prevenir é resistir

Apesar de não ser responsabilidade da vítima evitar um crime, há cuidados que ajudam a reduzir o risco:

  • Nunca deixar o copo sem vigilância.

  • Não aceitar bebidas de estranhos sem ver a garrafa a ser aberta.

  • Usar tampas ou proteções de copo (já existem modelos reutilizáveis).

  • Se estiver com amigas/os, estabelecer sinais de segurança.

  • Confiar nos instintos. Se algo parecer errado, provavelmente está.

Mais do que uma ameaça invisível, uma questão de consciência

Minar a bebida de alguém é crime. Em Portugal, quem administra substâncias nocivas com intenção de manipular ou agredir pode ser condenado por vários crimes, incluindo ofensa à integridade física, abuso sexual e tentativa de homicídio, dependendo do caso.