Num dia em que só se falava da morte da rainha de Inglaterra, eis que surge um novo escândalo que pôs os espanhóis a falar do seu antigo rei, Juan Carlos I, que abdicou em favor do filho, Filipe, em 2014. Acaba de estrear na HBO Max "Salvar o Rei", um documentário polémico, que já pode ser visto em Portugal, em que são revelados variadíssimos esquemas, revelações íntimas, encontros com amantes e até crimes que envolvem Juan Carlos I, que deixou Espanha em 2020 para ir viver para os Emirados Árabes Unidos. O documentário mostra áudios até agora desconhecidos, muitos feitos pela "amante oficial" do antigo rei, Bárbara Rey, que minam de vez a já pouca credibilidade de Juan Carlos, que só não foi condenado por vários crimes porque estava protegido pela imunidade pelo facto de ser rei, e por muitos dos casos já terem prescrito.

Numa das revelações feitas no documentário, consegue perceber-se como os serviços secretos espanhóis até encontros com amantes marcavam ao rei, criando várias distrações para que esses mesmos encontros não fossem detetados pela imprensa ou percebidos por populares. Também os serviços secretos eram muito ativos a mascarar e esconder todos os escândalos que podiam prejudicar a imagem de Juan Carlos.

Bárbara Rey, que assume publicamente que era amante do rei, recebeu durante muitos anos dinheiro para ficar calada, sendo que muitas vezes partiu dela a iniciativa de "pedir" dinheiro para as suas necessidades, o que era percebido como uma espécie de chantagem, ou extorsão, que era acedida para evitar que ela pudesse falar. É a mesma Bárbara Rey que agora funciona como uma das principais fontes deste documentário conduzido pelo jornalista Santiago Acosta.

Num dos episódios do documentário, Juan Carlos é apanhado, num áudio, a confirmar que a polícia deseja que um antigo diretor-geral da Guarda Civil, Luis Roldán, seja encontrado morto, dando a entender que poderia haver algum esquema por parte dos serviços secretos para o matar. Em 1994, Luis Roldán desviou à volta de 100 mil euros de fundos oficiais e desapareceu. "Disseram-me da Guarda Civil que esperam que ele apareça morto", pode ouvir-se Juan Carlos a dizer num áudio revelado no documentário. Roldán acabaria por ser detido no ano seguinte, numa operação policial que nunca foi muito clara.

Salvar o Rei estreia na HBO
Salvar o Rei estreia na HBO

Fica evidente no documentário que durante muitos anos Bárbara Rey gravava as conversas que tinha com o rei, muitas delas sobre assuntos de estado, oficiais, sobre política nacional (revela dados sobre Felipe González ou José Maria Aznar) e temas da intimidade dos dois.

Mas o documentário não se resume a isso. São ouvidas mais de 50 pessoas, entre políticos, ex-membros dos serviços secretos, jornalistas, e uma ex-amante que nunca tinha sido conhecida, que dão a cara para falar sobre Juan Carlos, os seus esquemas, podres, ilegalidades e perversões sexuais, que o levaram a ter dezenas de amantes ao longo do reinado. Parece unanime para todos que Juan Carlos I traiu o seu pai para se tornar rei e, 40 anos depois, teve de abdicar desse mesmo reinado em nome do filho para conseguir salvar a própria coroa, totalmente abalada e descredibilizada com tanta podridão por si criada.

Desde que deixou Espanha, em 2020, Juan Carlos I só regressou por uma vez ao País, no ano passado, para participar de uma regata. Até então, tem vivido nos Emirados Árabes Unidos.