Não foi fácil apanhar André Ventura. Foram muitos dias a tentar encontrar um buraco na agenda, uma hora só. Mas o homem não parava quieto um segundo, sempre entre Açores, norte, centro, sul. Vir ao nosso estúdio gravar a entrevista tornou-se "impossível", disse-nos a assessora do CHEGA. "Só se conseguirem gravar na sede de campanha". Conseguimos, claro.

A entrevista estava marcada para uma quarta-feira, às 16 horas. "Ele só tem 30 minutos", avisaram-nos. Já sabíamos que iria demorar mais, mas demos um "OK" meio falso.

Chegámos meia-hora antes e encaminharam-nos para o gabinete pessoal de André Ventura, que ainda não tinha chegado. "Ele está preso na reunião com a Ordem dos Enfermeiros, mas não deve demorar". Demorou. Mas nós esperámos.

Tivemos foi tempo de ver o gabinete com atenção. Fica num apartamento que é a sede do CHEGA, num segundo andar com várias divisões e muita mobília datada, madeiras escuras que já não se usam, e uma decoração que oscila entre o "deixa estar assim que isto também não vamos ficar aqui muito tempo" e o "isto dá aquele ar clássico/conservador, que está alinhado com o partido". A sede fica mesmo ao lado do Parlamento, com vista para o ISEG, e quase porta com porta com o incrível XXL do Olivier, que serve as melhores favas de Lisboa.

O Óscar falso e o VHS

E o que é que vimos no gabinete pessoal de Ventura? Um Óscar falso em cima da sua mesa, que foi estrategicamente retirado pela equipa do CHEGA sem que conseguíssemos ver qual foi a categoria que ele ganhou. Melhor marido, seria? Melhor presidente? Agora podemos especular. Mas havia mais. Uma cassete VHS, é isso, daquelas SONY de 180 minutos. Uma medalhinha do CHEGA, um livro sobre JFK e um souvenir daqueles com íman para o frigorífico com as ilhas dos Açores, que Ventura provavelmente trouxe quando foi à ilha nas eleições locais.

O gabinete é razoavelmente grande, com a secretária de Ventura ao fundo da sala, dois cadeirões na parede em frente e, por detrás, uma estante com livros. Notámos que faltava o Volume 1 da famosa biografia de Salazar, escrita por Franco Nogueira (mas estavam lá os volumes 2 e 3). Ao lado de uma coleção com obras de Eça daquelas que parecem compradas nos anos 90 no Círculo de Leitores, e outros livros mais farruscos que nunca devem ter sido abertos, com alguns autores mais pop como John Grisham e Ken Follett.

Santas. Também havia muitas santas e artefactos religiosos espalhados. Quadros antigos nas paredes, todos a remeter para a História, de Portugal e da Europa.

Ventura lá chegou, já passava das 16h40. "Peço imensa desculpa pelo atraso. Vamos ter de ser rápidos. Conseguem em 25 minutos?". Rimo-nos, mas já não mentimos. "Não, não dá. Temos entrevista para uma hora". Ficámo-nos pelos 44 minutos.

Ventura falou de política, de filhos, do seu T1, de ciganos, de vinganças e do futuro, do seu futuro fora do CHEGA.

Ainda antes de irmos ao que interessa, algo que interessa menos, mas é importante: a MAGG convidou todos os líderes partidários com assento parlamentar para serem entrevistados.

Entre recusas, incompatibilidades de agenda e ausência de resposta, dois aceitaram: Ventura e Rui Rocha.

Agora sim, a entrevista: