A 27 de março, há precisamente um mês, foi lançado pelo Governo e a Fundação Vodafone uma linha de apoio para vítimas de violência doméstica para reforçar a ajuda nestes tempos de isolamento. Esta linha seria um apoio extra dado à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). Os pedidos de ajuda nestes primeiros 30 dias chegaram aos 113.
A linha gratuita e confidencial — o número é o 3060 — veio reforçar a resposta da APAV, que viu decrescer os pedidos de ajuda entre 15 a 20%, desde o início de março. Contudo, a Associação revela que há mais vizinhos e amigos a pedir informações sobre apoios disponíveis na área de residência, diz Daniel Cotrim, da APAV, de acordo com o "Jornal de Notícias".
O mesmo acrescenta que a diminuição de pedidos de ajuda não representa a realidade: "Primeiro, as vítimas estão fechadas com o agressor, é difícil pedir ajuda. Depois, a crise financeira também lhes levanta dúvidas sobre se é o momento para denunciarem", explica.
A secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade revela que "a situação de confinamento e o contexto de stress agudizam o risco de violência doméstica", algo que pode traduzir-se numa maior dificuldade das vítimas em pedir ajuda, de acordo com o "JN".
Só em 2019, de acordo com o último relatório da APAV, foram registadas 23.586 queixas de violência doméstica. Já em 2020, não se sabe o total de pedidos de ajuda, mas sabe-se que ao contrário de outros países europeus, cujos casos aumentaram em um terço, em Portugal essa subida, quer de denuncias ou procura de apoio, ainda não se verifica.
No entanto, é conhecido que a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) já recebeu 113 SMS até ao momento. Os profissionais da equipa da CIG, quando consultados através da linha de apoio, fornecem conselhos sobre procedimentos a adotar em caso de perigo, dão apoio psicológico e indicam locais para formalizar denúncias.
A Comissão está em contacto permanente com as forças de segurança territoriais de forma a garantir a rapidez de resposta, como é o caso de patrulhamento das autoridades caso necessário. Outras medidas estão também a ser tomadas pelo Governo, que já estendeu o período de acolhimento das vítimas nas casas de abrigo e criou, a 6 de abril, duas novas estruturas temporárias para acolhimento de emergência.
Daniel Cotrim revela que alguns casos de acolhimento de emergência são diferentes do comum, uma vez que as mulheres estão a ser postas na rua pelos companheiros, motivados pelo stresse do confinamento. O membro da APAV apela aos vizinhos que estejam atentos, uma vez que tema o aumento da violência psicológica e da coação sexual.
As vítimas "não devem confrontar os agressores e devem aproveitar quando vão à rua para pedir ajuda", conclui Daniel Cotrim.