Um bebé de apenas 11 dias morreu depois de ter sido arrancado dos braços da mãe por um macaco, que fugiu com a criança e acabou por abandoná-la com ferimentos que se revelaram mortais. Vários populares ainda tentaram perseguir o animal, mas sem grande sucesso.

O ataque ocorreu quando a mulher se deslocou para o interior de uma mata para apanhar lenha, no povoado de Ipamba, em Moçambique. Segundo a Polícia da República de Moçambique (PRM), o animal fugiu para a floresta com o recém-nascido e acabou por arranhá-lo de forma grave. Alertados pela mãe, alguns moradores locais perseguiram o macaco, que, encurralado, largou a criança. Apesar de ter sido recuperado, o bebé não resistiu aos ferimentos e acabou por morrer minutos depois.

O caso, confirmado por Nelson Carvalho, porta-voz da PRM, é o primeiro ataque fatal envolvendo um macaco na região. Ainda assim, não se trata de um episódio isolado. O distrito de Mecula encontra-se dentro da Reserva Especial do Niassa, a maior área protegida de Moçambique, com mais de 42 mil quilómetros quadrados e uma vasta população de espécies como elefantes, búfalos, leões e leopardos. A proximidade entre as comunidades e a fauna selvagem tem originado inúmeros confrontos ao longo dos anos, frequentemente associados à procura de alimento por parte dos animais, que se aventuram cada vez mais perto das aldeias.

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De acordo com dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), a dimensão do problema é alarmante. Em 2023, morreram em Moçambique 159 pessoas devido a ataques de animais selvagens, quase o triplo das 58 registadas em 2022. Também o número de feridos subiu, passando de 70 para 114 no mesmo período. As províncias de Tete e Zambézia foram as mais afetadas, mas os incidentes estendem-se a várias regiões do país, com particular destaque para áreas limítrofes de parques e reservas naturais. No interior das áreas protegidas viviam, em 2023, mais de 205 mil pessoas, às quais se juntavam cerca de meio milhão em zonas tampão, onde a pressão sobre os recursos naturais agrava inevitavelmente o risco de conflitos.

Para tentar mitigar esta realidade, têm sido implementadas várias medidas, como a construção de vedações elétricas em campos agrícolas de Mecula, a abertura de trincheiras para dificultar a passagem de animais de grande porte e a formação de líderes comunitários em técnicas de convivência com a fauna bravia. No entanto, o avanço destas iniciativas é lento e os recursos disponíveis são escassos. As comunidades continuam a viver num estado de vulnerabilidade permanente, enfrentando perdas humanas, destruição de culturas agrícolas e ameaça constante à segurança.

O ataque em Ipamba, inédito pelo facto de envolver um macaco, ilustra até que ponto os limites entre habitats humanos e selvagens estão cada vez mais esbatidos. O medo e a dor de uma mãe que viu o seu bebé ser arrancado diante dos seus olhos tornam-se símbolo de um problema estrutural que Moçambique enfrenta: conciliar a preservação da biodiversidade com a proteção das populações que habitam em pleno coração das áreas naturais. A tragédia levanta, assim, uma questão urgente e delicada — como evitar que episódios tão brutais se repitam, sem comprometer o equilíbrio de uma das maiores reservas naturais do continente africano.