Com o início da época balnear previsto para 6 de junho, começam a sair novas regras e procedimentos para os nadadores-salvadores, que regressam aos areais nos próximos dias. Mas as primeiras medidas de prevenção conhecidas no contexto da pandemia causada pelo novo coronavírus, divulgadas esta quarta-feira, 3 de maio, pela Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores (FEPONS), criaram alguma polémica nas redes sociais — especialmente a indicação de que, sempre que possível, os salvamentos deveriam ser feitos sem os nadadores-salvadores entrarem na água.

"Ainda não saiu a recomendação internacional para os nadadores-salvadores com as medidas de prevenção e, em Portugal, fizemos sair uma medida de prevenção nacional", adiantou Alexandre Tadeia, presidente da FEPONS, à Lusa, citado pela revista "Sábado". De acordo com o presidente da associação, estas medidas avançam que o nadador-salvador deve "tentar salvar sem entrar na água, utilizando equipamentos" e, no caso de necessidade ou estado de inconsciência do banhista, o nadador deve "abordar o náufrago pelas costas e nunca pela frente".

Vão ser assim os semáforos das praias e os torniquete virtuais para controlar as entradas — saiba como funcionam
Vão ser assim os semáforos das praias e os torniquete virtuais para controlar as entradas — saiba como funcionam
Ver artigo

"Se tiverem mesmo que entrar na água por força da situação, devem utilizar um equipamento que os mantenha à distância, como uma bóia torpedo ou um cinto de salvamento, que têm um cabo de dois metros e permite ficar a, pelo menos, dois metros do náufrago", esclareceu Alexandre Tadeia. O responsável também explicou que os salvamentos devem fazer-se em duplas para que, fora de água, o banhista possa ser assistido por um segundo nadador-salvador que preste ajuda com "equipamentos de proteção individual (luvas, máscara e viseira)", sendo também este o responsável pelo transporte da pessoa, sempre pelas costas.

Esta nova forma de salvar vidas na água foi recebida com alguma perplexidade por parte da população. "Uma das maiores estupidezes que ouvi ultimamente. Ou fecham as praias ou agem normalmente", escreveu um utilizador do Facebook. Outro diz que "isto é revelador da ignorância ou falta de bom senso de quem opina estas soluções" e há quem preveja o pior: "Tenho a impressão que vamos assistir a cenas desagradáveis em questão de salvamentos".

Mas será que os nadadores-salvadores estão de acordo com estas diretrizes, e estes salvamentos fora de água podem ser bem sucedidos? "Depende da situação. É claro que é difícil, mas é possível", afirma Teresa Domingos, nadadora-salvadora, à MAGG. "Se estivermos a falar de uma pessoa presa num agueiro [corrente, geralmente forte, formada por uma massa de água trazida para a costa pelas ondas], e se esta for uma pessoa jovem, que consiga nadar, até podemos dar indicações da areia, por gestos."

Teresa Domingos, que é nadadora-salvadora nas praias da Costa Vicentina, conhecidas pelo seu mar mais agitado, ressalva que nem todas as pessoas conseguem sair de situações de perigo, seja por estarem mais agitadas ou com dificuldades em nadar. Nesses casos, e já dentro de água, será mantida uma "distância de segurança, de cerca de dois metros, e o salvamento é feito com bóias". Mas a nadadora-salvadora é a primeira a dizer que tal não é novidade. "Mesmo antes destas medidas, temos de manter uma distância para que a pessoa, estando aflita, não se agarre a nós."

Ainda no caso dos salvamentos fora de água, questionamos a nadadora-salvadora sobre a possibilidade de se utilizarem motas de água ou barcos para essas situações. "É complicado, nem todas as praias têm essas condições", refere Teresa Domingos. Mas a profissional acrescenta que sempre que há a necessidade de um salvamento dentro de água numa praia vigiada, o primeiro erro é dos nadadores-salvadores, na sua opinião. "Trabalhamos com prevenção. Se existe a necessidade de um salvamento, o erro foi nosso."

No entanto, Teresa Domingos explica que ainda não tem uma opinião completamente formada sobre os benefícios de privilegiar os salvamentos fora de água. "As medidas de distanciamento social percebo e concordo com elas, os salvamentos ainda não sei, não tenho mesmo ideia de como vai ser. Por um lado temos de evitar o contágio, mas temos de fazer o nosso trabalho da melhor forma possível."

A profissional acrescenta ainda que o verão de 2020 nas praias vai ser muito diferente. "As pessoas têm muito à vontade para falar connosco, seja para saber coisas da praia, perigos do mar, entre outras coisas. Sempre existiu essa abertura, mas acho que este ano vai ser diferente."

Praias divididas por setores e áreas delimitadas por cordas. Como pode manter-se o distanciamento social
Praias divididas por setores e áreas delimitadas por cordas. Como pode manter-se o distanciamento social
Ver artigo

Segundo as normas já divulgadas pela FEPONS, os nadadores-salvadores não têm de estar sempre com máscara, e desde que mantenham uma distância física dos banhistas, podem dar conselhos e patrulhar sem essa proteção. "Quando estivermos a fazer curativos, aí sim, temos de usar a máscara", afirma Teresa Domingos.

Quanto ao sistema de semáforos nas praias e às lotações mais reduzidas, a nadadora-salvadora refere que, até onde sabe, não compete às equipas de salvamento e patrulha fazer essa gestão ou aconselhar os banhistas a procurarem outra praia. No entanto, acredita que, "desde que as pessoas cumpram as recomendações de segurança, vai correr tudo bem".

Mesmo com todos os perigos de contágio e novos procedimentos, Teresa Domingos, que se prepara para o seu quarto verão como nadadora-salvadora, não se imagina noutro local nos próximos meses. "É o meu dever estar na praia. Independentemente de tudo e das circunstâncias, quero fazer este trabalho."

Mas nem todos os nadadores-salvadores partilham da mesma vontade: aquando das mesmas declarações sobre as novas medidas, Alexandre Tadeia, presidente da Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores, já afirmou que não sabe se vão existir profissionais para todas as praias.

Há meses que a federação já alertou que poderão faltar cerca de 1.500 a 2.000 nadadores-salvadores, dado que muitos cursos foram interrompidos com a implementação do estado de emergência, e também devido ao padrão de comportamento desta área. "Apenas 50% dos nadadores-salvadores voltam a trabalhar na época seguinte", esclarece Alexandre Tadeia.