O mal-estar sentido por André Ventura durante um jantar-comício em Tavira esta terça-feira, 13 de maio, está a gerar reações, mas será que se vão refletir nas urnas? A MAGG falou com Alda Telles, investigadora em comunicação política, para perceber se este episódio pode ter impacto real no resultado deste domingo para o Chega.

O líder do partido foi assistido no local e transportado para o hospital, depois de ter interrompido o discurso com uma expressão de sofrimento e levado uma mão ao peito. Apesar do susto, o líder parlamentar do partido, Pedro Pinto, não perdeu tempo. “Está bem e disse-me uma coisa que me parece muito importante: vamos ganhar as eleições de domingo”, afirmou, ainda durante o evento. Mas pode este momento de fragilidade dar uma força extra ao partido?

Empatia? Só dentro do partido

Segundo Alda Telles, este tipo de episódio pode gerar empatia e até uma ligação emocional entre o líder e os seus eleitores, mas com limites. “Pode ter um efeito de popularização, mas apenas dentro do eleitorado do partido, e nunca fora dessa barreira”, esclarece. Para os simpatizantes do Chega, a fragilidade do líder pode ser vista como mais uma razão para marcar presença nas urnas. “Para muitos dos já simpatizantes, será um incentivo emocional para votar”, reforça.

Então e quanto aos indecisos?

E os indecisos? Podem ser levados a votar em Ventura por compaixão? A investigadora é clara: não. “Muito pelo contrário”, afirma. A reação nas redes sociais tem sido crítica e até algo sarcástica. “Há uma reação epidérmica dos eleitores que não são do Chega. Quase uma teatralização da situação”, diz. A imagem de Ventura fora do núcleo de apoiantes não sai reforçada com o incidente — pelo menos, não a curto prazo.

Alda Telles
Alda Telles créditos: Alda Telles

Estratégia típica do populismo

Apesar de o mal-estar não ter sido planeado (e Alda Telles rejeita qualquer teoria da conspiração), a forma como o partido reagiu foi imediata. “É muito típico dos partidos populistas capitalizarem estes momentos como parte da campanha. A frase do Pedro Pinto é um exemplo claro disso”, sublinha.

Bolsonaro, Trump e André Ventura?

Comparações com casos internacionais como o atentado a Bolsonaro ou contra Trump surgiram nas redes sociais, mas Alda Telles diz que são descabidas. “Não me parece de todo que a situação tenha sido planeada. E seria até ofensivo insinuar isso, porque envolveria médicos e hospitais numa encenação. Isso não é ético nem viável”, conclui.