É o segundo dia da invasão russa e continuam a soar as sirenes um pouco por toda a Ucrânia. Várias explosões foram ouvidas durante a madrugada desta sexta-feira, 25 de fevereiro, e as primeiras horas do segundo dia de guerra confirmaram a tese norte-americana: os russos já estão na capital.
Ainda durante as primeiras horas desta sexta-feira, para atrasar ao máximo a tomada de Kiev, os responsáveis ucranianos decidiram fazer explodir uma ponte em Ivankiv, a 50 quilómetros da capital — mas pouco tempo depois a entrada russa deu-se pela zona de Obolon, a nove quilómetros do centro da capital.
O avanço foi dado pelo Ministério da Defesa da Ucrânia, que confirmou que os russos já atacaram a zona residencial de Kiev, e que, por isso, lançou um apelo desesperado aos cidadãos. "Façam cocktails molotov, neutralizem o ocupante".
Tropas russas encontram "resistência" em Kiev. Mas o nível de radiação está a subir em Chernobyl
As tropas russas que avançam sobre a capital da Ucrânia estão a encontrar "mais resistência do que o que tinham antecipado", afirmou um porta-voz da Defesa dos EUA. "Não consigo fornecer a localização exata, mas eles não estão a conseguir mover-se tão rapidamente como esperavam", disse. O representante norte-americano admitiu que o exército da Rússia continua a deslocar-se em direção a Kiev, mas tem enfrentado a resistência dos ucranianos.
No entanto, o cenário catastrófico é evidente e já há registo de danos perigosos na zona de Chernobyl, onde existe uma central nuclear controlada por militares russos desde esta quinta-feira, 24. Até à data, pouco se sabe sobre a gravidade da situação, mas a agência Reuters, através do Twitter, já tranquilizou a população, afirmando que, por enquanto, "os níveis de radiação ainda não são críticos".
Recorde-se de que os russos assumiram o controlo da central nuclear depois de duas horas de combate, no primeiro dia de invasão. Agora, Mikhail Podolyak, conselheiro e porta-voz do gabinete presidencial da Ucrânia, garante que "é impossível dizer que Chernobyl está segura".
Ucranianos em fuga
Nas últimas 48 horas, mais de 50 mil cidadãos fugiram da Ucrânia, sendo que a grande maioria está na Polónia e na Moldávia, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Imagens recentes mostram Kiev como uma capital-fantasma: uma cidade, agora, em estado de sítio, onde os que conseguem fugir fazem-no; e os que não conseguem procuram abrigo onde podem. Como é o caso de estações de metro em Kharkiv e Kiev.
Depois de a cidade ter sido bombardeada durante a madrugada, Volodymyr Zelensky admitiu estar disponível para se sentar à mesa de negociação com a Rússia e foi o próprio presidente ucraniano que fez o apelo a Vladimir Putin com o intuito de "parar com as mortes" e num momento em que admitiu que a invasão já chegou a "toda a Ucrânia". Numa altura em que, com base na última confirmação de dados, já há registo de mais de uma centena de mortes entre o povo ucraniano.
Em direto de um local não identificado, o presidente da Ucrânia acusou Vladimir Putin não só de atacar o seu país, mas travar "uma guerra contra a Europa". E, no mesmo discurso, Zelensky lamentou o facto de a Ucrânia "estar sozinha a defender-se" , enquanto apontava o dedo ao Ocidente por não estar a fazer o suficiente.
Rússia é suspensa do Conselho da Europa e expulsa da Eurovisão 2022
Ainda assim, são várias as medidas já decretadas (ou em discussão) que procuram sancionar a Rússia e apoiar a Ucrânia.
Durante a tarde desta sexta-feira, 25, o Conselho da Europa suspendeu a representação da Rússia, como resposta à invasão, depois de os representantes permanentes dos 47 estados membros deste organismo terem concordado "em suspender a Federação Russa dos seus direitos de representação no Conselho da Europa". Isto, invocando o artigo 8 dos estatutos, como pode ler-se no comunicado divulgado através das redes sociais.
E a decisão surge à margem de luz verde para mais sanções à Rússia. Neste caso, para os setores financeiro, energético, de transportes, de exportações e de política de vistos (que abrangem por exemplo membros do Conselho de Segurança Nacional russo e responsáveis bielorrussos), bem como o corte a depósitos acima de 100 mil euros em bancos europeus, visando a elite russa.Mas as sanções não ficam por aqui.
Também a Eurovisão decidiu tomar uma atitude face à invasão à Ucrânia. Depois de a Radiotelevisão Pública da Ucrânia (UA:PBC) ter apelado à União Europeia da Radiodifusão (European Broadcasting Union, EBU) para expulsar os meios russos, a medida tornou-se oficial: a 66ª edição do Festival Eurovisão da Canção não vai contar com a participação da Rússia.
A decisão foi anunciada esta sexta-feira, 25 de fevereiro, pela União Europeia de Radiodifusão, que justifica a medida com base "nas regras do evento e valores da UER", lê-se em comunicado.
E o mesmo aconteceu no universo desportivo: a UEFA já anunciou que a final da Liga dos Campeões de futebol, que iria ser disputada em São Petersburgo, na Rússia, vai mudar para Paris. E o Grande Prémio de Fórmula 1 na Rússia também foi cancelado.
Neste sentido, a Organização Mundial de Saúde também já se manifestou face ao conflito e revela que libertou mais de 3 milhões de euros para material médico e medicamentos, de forma a garantir a continuação da assistência médica à população ucraniana. Saiba como é que também pode ajudar.
Rússia ameaça censurar o Facebook e sites ucranianos apresentam problemas
O regulador de telecomunicações da Rússia, Roskomnadzor, já anunciou, esta sexta-feira, 25, que vai limitar o acesso a todas as aplicações do grupo Meta, que inclui o Facebook, o Instagram e o WhatsApp.
A decisão surge como resposta ao que considera ser uma "censura" por parte do Facebook, depois de, esta quinta-feira, 24, grupo Meta ter restringido alguns órgãos de comunicação social russos por considerar que estavam a disseminar desinformação, propaganda e discurso de ódio contra o povo ucraniano.
Apesar de prometer restringir o acesso a estas aplicações, não há ainda dados concretos sobre as repercussões práticas da decisão.
Ainda online, sites ucranianos como o do jornal "Kyiv Post" e do "Ukrinform" também têm vindo a apresentar problemas. Sendo que, à data de publicação deste artigo, é impossível aceder a qualquer uma das plataformas digitais.
Putin apela às tropas ucranianas para que se voltem contra o próprio Governo
O porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, avança que o Kremlin está pronto para enviar uma delegação a Minsk, capital da Bielorrússia (aliada de Putin), para conversar com uma delegação da Ucrânia. Kiev respondeu que está a "considerar a proposta", mas um assessor do gabinete presidencial ucraniano já revelou à Reuters, segundo o "Jornal de Notícias", que o país quer paz e está preparado para conversar com a Rússia.
Ainda assim, apesar de garantir que só quer "libertar Ucrânia da opressão", como justificação para a invasão russa, Vladimir Putin já apelou às tropas ucranianas que se voltem contra o próprio Governo, que diz ser composto por "neonazis viciados em droga". "Parece-me mais fácil chegarmos a um acordo com vocês [soldados] do que com aqueles neonazis viciados em droga de Kiev", disse.
Papa Francisco na embaixada russa
O embaixador russo, Aleksandr Avdeyev, em declarações à agência de notícias russa RIA Novosti, já negou que o Papa tivesse proposto que o Vaticano mediasse o conflito, adiantando apenas que Francisco "pediu a proteção das crianças, a proteção dos doentes e dos que sofrem, e a proteção da população".
Ainda assim, sem detalhes concretos, sabe-se que Papa Francisco visitou, esta sexta-feira, 25, a embaixada russa no Vaticano, naquela que é a primeira vez que um papa se desloca a uma embaixada numa altura de conflito, lê-se na Reuters, citada pelo "Observador".
"Ele foi para expressar a sua preocupação com a guerra", afirmou o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, que garante que o Papa esteve mais de meia hora na embaixada, sem, no entanto, adiantar mais detalhes.
António Costa confirma que Portugal tem "total disponibilidade" para acolher refugiados ucranianos
Ainda esta sexta-feira, através de uma conferência de imprensa, o primeiro-ministro, António Costa, anunciou que Portugal vai mesmo antecipar o envio de uma companhia de Infantaria de 174 soldados portugueses para a Roménia, depois de uma reunião entre todos os Estados-membros da NATO, que contou com a presença da Suécia e da Finlândia. E mostrou-se solidário com o povo ucraniano.
Em declarações, o chefe do executivo português fez questão de reforçar a posição de Portugal face à invasão russa. "Portugal, que tem o privilégio de há vários anos ter uma comunidade ucraniana tão bem inserida, tem reafirmado a total disponibilidade de acolher todos aqueles que queriam prosseguir a sua vida entre nós", disse. "Foram já transmitidas instruções, quer na nossa embaixada na Ucrânia quer nos países limítrofes, para a concessão de vistos imediatos para puderem vir para Portugal", acrescentou.
Neste sentido, o primeiro-ministro garante que já está operacionalizada — com o Ministério das Finanças, Ministério do Trabalho e com o Ministério da Economia —, uma ação ativa de identificação de oportunidades de trabalho e de atribuição imediata de número da Segurança Social e contribuinte para os cidadãos ucranianos, "para que a autorização de residência possa ter pleno efeito. Isto, diz, "entre todos aqueles que entendam que deve ser em Portugal que podem prosseguir as suas vidas".