Um estudo divulgado em 2018 sugeria que a disforia de género (identificação forte com o género oposto daquele atribuído à nascença) nos jovens resultava de um "contágio" social e que o aumento de casos devia-se à maior "exposição às redes sociais/internet". Um novo estudo, publicado no início de agosto pela Academia Americana de Pediatria, vem refutar esta ideia e afirmar que ser trans não é uma questão de tendência ou de tentativa de afirmação na sociedade.

O estudo do Fenway Institute acompanhou mais de cerca de 200 mil jovens norte-americanos dos 12 aos 18 anos entre 2017 e 2019 e o que é facto é que ao longo destes anos a percentagem não aumentou — passou de 2,4% em 2017 para 1,6% em 2019 — o que sugere que, ao contrário do que havia sido relatado por clínicas pediátricas de género nos EUA, não houve um aumento de adolescentes com disforia de género. 

"Os argumentos perniciosos de que os jovens LGBT ‘se tornam trans’, ou que a identidade trans é uma moda são usados para justificar coerção, crueldade e violência contra crianças trans, numa tentativa de suprimir a sua identidade", afirma Cleo Madeleine, da associação britânica Gendered Intelligence, à Dazed.

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Ser trans não é, como se vê pelo estudo, uma tendência, nem faria sentido que o fosse dado o impacto por vezes negativo para as pessoas que assumem o género com o qual se identificam. Os dados do estudo sobre as taxas de bullying provam isso mesmo ao mostrar que os jovens trans são mais “prováveis de serem vítimas de bullying e de tentarem suicídio quando comparados com jovens cisgénero [pessoas que se identificam com o género atribuído à nascença]”, diz a investigação. 

Apurou-se ainda no estudo liderado por Jack L. Turban que uma “percentagem substancial” dos adolescentes trans também se identificavam como gay, lésbica ou bissexual, o reforça a ideia de que os jovens que se identificaram como trans não o fizeram "para evitar o estigma associado à pertença a um grupo sexual minoritário ou porque acreditam que assumirem-se como trans os vai tornar mais populares junto dos pares — ambas as explicações têm sido difundidas nos media".

Essas ideias são agora deitadas por terra e os investigadores deixam um alerta. "A noção de ROGD [disforia de género de início rápido] não deve ser usada para restringir a prestação de cuidados médicos de afirmação de género para adolescentes TGD [transgénero e género diverso]", pode ler-se no estudo.