O principal suspeito da morte de Madeleine McCann, o alemão Christian Brueckner, escreveu uma carta a partir da cadeia onde está a cumprir uma pena de 7 anos a reafirmar a sua total inocência no caso. O homem, já condenado por abusos de menores, e que viveu na zona da Praia da Luz por alturas do desaparecimento da menina inglesa em maio de 2007, lamenta que seja visto pelo mundo como um assassino e apresenta um discurso de vitimização. Mas uma especialista em caligrafia que analisou a carta vê muitos sinais de perturbações em Brueckner e, sobretudo, um enorme "sentimento de culpa".

"Nunca poderão imaginar o que é o mundo inteiro acreditar que somos um assassino de crianças, quando não somos", começou por escrever Brueckner. O alemão diz na carta estar absolutamente convencido de que não existe rigorosamente nada que o possa ligar ao caso do desaparecimento de Maddie, até porque, como disse, não está na Praia da Luz "desde 2006", um ano antes de a menina inglesa ter desaparecido. "Disseram-me, há tempos, que o gabinete do procurador estava a encerrar o caso Maddie porque não havia a mais pequena prova". Por isso, o alemão acha que "nunca haverá um julgamento".

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Para o principal suspeito, a polícia e os procuradores alemães estão "a tentar criar um monstro" para "desviar as atenções". "Querem fazer com que as pessoas pensem que eu sou a pessoa certa".

Recorde-se que ao longo da última semana, várias equipas periciais estiveram a fazer buscar num banco de areia próxima da barragem do Arade, no Algarve, relativamente perto da Praia da Luz, e um local que era muito frequentado por Brueckner quando vivia em Portugal. As autoridades procuravam vestígios de fibras de tecido do que achavam que poderia ser o pijama cor de rosa que Madeleine McCann vestia quando desapareceu. Para a polícia, existe a possibilidade de Brueckner ter assassinado a criança e despojado os restos mortais naquela zona. As perícias recolheram, de facto, alguns tecidos, mas não é de crer que possam pertencer a Madeleine. De qualquer forma, foram enviados para a Alemanha para serem analisados em laboratório.

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Ao longo da extensa carta, o suspeito alemão, que deverá ser libertado dentro de três anos, escreveu sempre num inglês quase perfeito, insiste na teoria de que está a ser perseguido pelos procuradores.

"A tortura por que estou a passar é a melhor prova que posso ter [da perseguição]. Se alguém me tivesse dito que iria passar por isto, eu teria dito: 'Não acredito nisso. Estamos na Alemanha e não no Paquistão", escreveu. O alemão até acha que a tese da polícia, em teoria, faz sentido. Mas está errada. "A ideia que tiveram foi brilhante — eu já disse que Hollywood não conseguiria fazer melhor — mas escolheram o actor principal errado, eu". "Tenho quase a certeza de que outras pessoas na minha situação, sob toda esta pressão, os insultos e as ameaças teriam cedido há muito tempo. Teriam perguntado onde é que poderiam assinar a sentença de morte. Mas eu não. Sou duro como botas velhas". O alemão diz que não vai desistir da sua luta pela inocência. "O que não nos mata torna-nos mais fortes. Anima-te! Dias melhores estão a chegar".

O jornal inglês "Daily Mail" pediu a uma especialista em caligrafia, e que relaciona a forma como se escreve com uma análise psiquiátrica, que analisasse a carta de Christian Brueckner e tirasse as devidas conclusões. A grafóloga Tracey Trussell garantiu que pela escrita dá para perceber que o alemão tem uma visão "distorcida", que ele está "iludido" e que as suas visões "são fantásticas". Para a especialista, Brueckner pretende, com a carta, "comandar e controlar" a história. A grafóloga diz mesmo que o "traço final longo e prolongado na letra S reclinada simboliza alguém que sofre com sentimentos de culpa". "Em alguns casos, este símbolo é visto quando uma morte violenta ocorre perto do escritor e ele está a tentar lidar com isso".