Depois de ter salvado um homem de 68 anos no rio Tejo na manhã deste sábado, 13 de dezembro, José Brito esteve no programa "Você na TV", na TVI, para falar do seu percurso de vida e do acontecimento que o tornou um "herói" aos olhos de Portugal.

Não é de agora que José Brito tem o dom de ajudar, já o faz desde tenra idade. "Comecei a trabalhar muito cedo, com oito anos. A minha mãe fazia tabaco e eu e a minha irmã íamos vender depois da escola, porta a porta", conta a Manuel Luís Goucha e Mónica Jardim.

Aos 12 anos, quando a mãe acabou de ter um bebé e não tinha ninguém, uma vez que o pai teve de sair de casa, bem como a irmã que já tinha casa própria com 16 anos, José Brito, como filho mais velho, decidiu ir vender peixe, à semelhança da mãe, que era peixeira em Cabo Verde. José vendia peixe até ir para a escola, mas a situação ficou tão complicada que acabou mesmo por deixar o ensino, revela.

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"Vim para Portugal com 21 anos porque detetaram-me anemia aplásica crónica. Fui evacuado para fazer um transplante de medula óssea", revela José Brito — transplante esse que o salvou. Veio para Portugal sozinho, embora na altura já tivesse duas filhas de uma das três companheiras com quem teve até hoje cinco filhos.

"A ideia era fazer o tratamento e regressar. Cheguei a 19 de outubro de 2004", diz e acrescentou: "Pensava que ia ser tudo depressa", mas faltava ainda encontrar o dador.

"Perguntaram-me se tinha irmãos, disse que tinha nove. Fizeram recolha de sangue de cinco e nesses cinco tinha dois compatíveis", conta. Foi-lhe então dada a opção de escolher aquele que quisesse para a doação de medula óssea. "Escolhi a minha irmãzinha mais nova porque a outra tinha acabado de ter bebé", diz.

Contudo, depois de receber a medula óssea e de a irmã já estar em Cabo Verde, o corpo rejeitou o primeiro transplante. Foram buscá-la de novo para fazer um segundo transplante, ato que José Brito não esquece. "A minha irmã é um anjo, ela salvou-me a vida", diz, aquele que é também o salvador da vida do homem de68 anos que caiu no rio Tejo este sábado.

Para sorte do homem salvo, e já fora de perigo de vida, José Brito ficou por Portugal a viver e a trabalhar. "Depois de dois anos de tratamento, o doutor disse que já podia fazer qualquer coisa. Escolher um trabalho não muito pesado. Ele perguntou o que eu fazia e eu disse que me desenrasco na cozinha", revelou.

Foi então na Associação Vitae, um Centro de Apoio a Sem-Abrigo, que José Brito encontrou um rumo, que espelha a sua infância e o ato que agora o torna célebre. "Já trabalho na associação Vitae desde 28 de março de 2007. É mesmo isso que quero, trabalhar com pessoas que precisam, ajudar", admite.

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A ligação com pessoas sem-abrigo não é a única na associação, prova disso foram as várias mensagens deixadas a José Brito, de amigos e colegas de trabalho, que reconhecem o seu valor. "És um ser humano incrível, das pessoas mais incríveis que conheço", " um excelente pai, excelente pessoa", "sempre com um sorriso estampado, independentemente das adversidades da vida", dizem, e há ainda quem reconheça outros dotes: "És um excelente cozinheiro, adoro o teu arroz de pato".

Um dos temas que deixou José Brito emocionado é a relação distante com duas dos cinco filhos. "As minhas filhas que estavam em Cabo Verde, chegaram com 13 anos, numa idade muito complicada", revela. A distância durante tantos anos fragilizou a relação e deixa ainda José magoado.

A seu lado, no dia do salvamento e na entrevista desta quarta-feira, está sempre Bryn, de 7 anos, que quando questionado pelos apresentadores sobre as namoradas, revela: "Tenho quatro", suscitando risos e um comentário de Manuel Luís Goucha: "Pois com certeza, tens a quem sair", brinca.

"Uma vida é sempre uma vida. Não pensei duas vezes. Voltaria a fazer as vezes que fosse preciso", termina José Brito.