Anna Sorokin, a mulher de 30 anos que se fez passar por uma milionária russa para enganar a elite americana, foi paga pela Netflix no valor de 320 mil dólares (o equivalente a carca de 266 mil euros) para a adaptação da sua história numa nova série idealizada e escrita por Shonda Rhimes ("Anatomia de Grey"). Desse valor, 199 mil dólares (165 mil euros) já foi devolvido aos bancos e 24 mil dólares (19 mil euros) foram usados para pagar multas ao Estado e às autoridades fiscais do país, escreve a revista "Insider" que teve acesso aos dados ficais de Sorokin.

Apesar de ter sido detida em 2017, só em maio de 2019 é que o estado de Nova Iorque ordenou que as contas de Sorokin fossem congeladas para que esta não pudesse pagar as dívidas em que incorreu através de dinheiro burlado.

A história real do primeiro criminoso arrependido que derrubou 400 membros da máfia italiana
A história real do primeiro criminoso arrependido que derrubou 400 membros da máfia italiana
Ver artigo

As contas bancárias, no entanto, foram descongeladas este ano para que Sorokin pudesse usar o pagamento da Netflix para restituir o dinheiro aos bancos e às vítimas que tinha burlado. Sabe-se, ainda assim, que a mulher não estava obrigada a fazer os pagamentos uma vez que estava a ser analisado um pedido de recurso face às perdas financeiras que registou durante o julgamento do caso.

Se o recurso tivesse sido aprovado por um juiz, Anna Sorokin não estaria obrigada a uma restituição, diz Dmitriy Shakhnevich, professor da Faculdade John Jay de Justiça Criminal, nos EUA, à mesma publicação. "Se esse recurso acabasse por anular a sua condenação, tudo o que veio após a decisão do tribunal — como a punição legal e financeira — desaparecia", explica.

Condenada a uma pena que pode ir de quatro a 12 anos de prisão, esperava-se que a primeira possibilidade de libertação antecipada pudesse acontecer só em outubro deste ano, mas a restituição aos bancos e às vítimas fez com o estado de Nova Iorque aprovasse a libertação já no mês de fevereiro.

Na altura em que cometeu os crimes, Anna Sorokin tinha 26 anos e usava a identidade de Anna Delvey, herdeira de uma fortuna milionária. Durante vários meses, esteve presente em todas as festas da elite de Nova Iorque e a sua história é tudo menos convencional. As boas roupas que usava, os hotéis de luxo onde ficava e as viagens caras que fazia puseram-na no centro das atenções de algumas das figuras públicas norte-americanas. 

O apelido, a nacionalidade e os milhões na conta bancária nunca existiram. Anna Delvey era, na verdade, Anna Sorokin. Uma mulher, natural da Rússia que, durante meses viveu sem um único dólar na conta mas que, mesmo assim, conseguiu ir ao bolso de grande parte da elite de Nova Iorque.

Os luxos, os empréstimos e os cheques em branco

Durante vários meses, Anna Delvey viveu num hotel de luxo na zona de Soho, em Manhattan, e pagava cerca de $400 (o equivalente a 342€) por noite. O estilo de vida que mantinha era financiado pelos vários empréstimos que contraiu, cheques em branco ou amigos que se ofereciam para pagar as despesas da falsa milionária.

Grande parte da informação que se conhece sobre Sorokin vem de Neffatari Davis, uma mulher de 25 anos que trabalhava como concierge do hotel em que a burlona ficou hospedada, e que cedeu o seu testemunho à revista "The Cut".

A história real por trás de "Génio do Mal" — o documentário da Netflix que conta um crime bizarro
A história real por trás de "Génio do Mal" — o documentário da Netflix que conta um crime bizarro
Ver artigo

O trabalho de Neffatari Davis consistia em sugerir roteiros, restaurantes ou programas para os hóspedes que procurassem conhecer Nova Iorque. E foi assim que ela e Anna se conheceram. Cada vez que sugeria um ponto turístico, um novo restaurante ou até uma discoteca divertida, a socialite retribuía com uma nota de $100.

"Os funcionários chegavam ao ponto de lutar entre si para ganharem o privilégio de poder levar as malas dela até ao quarto. Ou qualquer outra coisa que implicasse servi-la. Isso significava que, ao final do dia, ganhavas mais $100 em dinheiro", revela.

E continua: "Desde gorjetas em viagens de Uber ou em refeições fora do hotel, ela dava dinheiro a toda a gente. Nunca me deixava pagar nada e parecia quase como que um jogo para ver se conseguia gastar mais dinheiro do que aquele que tinha."

Estamos cada vez mais viciados em documentários sobre crimes reais?
Estamos cada vez mais viciados em documentários sobre crimes reais?
Ver artigo

Já detida, descobriu-se que as despesas em hotéis ou restaurantes de luxo eram apenas uma pequena parte de tudo o que tinha feito. Em novembro de 2016, pediu um empréstimo de mais de 22 milhões de dólares (18 milhões de euros) e justificou-o com documentos assinados que confirmavam ser herdeira de uma fortuna de mais de 60 milhões de euros, depositada numa offshore na Suíça.

No mês seguinte fez o mesmo, mas com outro banco. Só que este exigiu um depósito de mais de $100,000 (o equivalente a 85,000€) para assegurar que o processo decorria com a naturalidade esperada. A linha de crédito que tinha sido aprovada no primeiro banco foi usada para garantir o segundo empréstimo. Mas quando um representante tentou averiguar a existência da suposta fortuna, Anna desistiu.

Não sem antes gastar toda a linha de crédito do primeiro em empréstimo em roupa, telemóveis, acessórios, hotéis e restaurantes.

A série de Shonda Rhimes terá o título "Inventing Anna" e deverá estrear-se ainda este ano embora ainda não se conheça a data do lançamento oficial. O elenco já está composto e conta com nomes como Anna ChlumskyLaverne CoxAlexis FloydAnders Holm e Katie LowesJulia Garner foi a atriz escolhida para interpretar a burlona.