Francisco Guerrero, um construtor civil de Cádis, em Espanha, ganhou 6,5 milhões de euros no BonoLoto, uma das lotarias mais populares em Espanha, gerida pela Loterías y Apuestas del Estado, em dezembro de 2005. Mas, apesar do valor milionário, afirma que não viu "um único cêntimo" desse prémio por culpa dos maus conselhos de um bancário.

Na altura do sorteio, o homem ainda não tinha bem noção da dimensão do prémio. Espanha tinha adotado o euro poucos anos antes e, confuso com os valores, achava que tinha conseguido apenas 6,5 milhões de pesetas – o equivalente a cerca de 33 mil euros. Foi só mais tarde que percebeu que estava, afinal, milionário, diz o "Mirror".

Assumidamente "sem instrução" e "completamente ignorante em questões financeiras", decidiu pedir ajuda para gerir o dinheiro. "Assinei porque confiava neles, convidaram-me várias vezes para almoçar e depois levaram-me ao banco para assinar", diz, referindo-se aos bancários que o ajudaram.

"Com dois copos de vinho, estava animado e assinei tudo o que me puseram à frente. Até hoje, não sei o que assinei; nem sequer consigo pronunciar aquilo", contou, em declarações citadas pela mesma publicação. Foi aconselhado, por isso, a investir todo o dinheiro em produtos financeiros de alto risco e elevada rentabilidade.

Francisco Guerrero garante que nunca percebeu os documentos que lhe foram apresentados, mas acabou por assinar tudo o que lhe indicaram. Manteve-se prudente e evitou gastar o dinheiro nos primeiros tempos, mas em 2009, depois de uma operação ao joelho, descobriu que tinha perdido tudo o que tinha investido.

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A devastação foi total. Estima-se que o construtor civil perdeu uma quantia que, a trabalhar nessa profissão, levaria mais de 270 anos a conseguir juntar. Do prémio, tinha reservado 60% para si e dividido o restante pelos seus cinco filhos. Contudo, o dinheiro de todas as partes acabou por desaparecer, visto que se encontrava todo na mesma conta.

Hoje com 73 anos, citado pela mesma publicação, lamenta o que aconteceu há mais de 20 anos. "Nem sequer sabia o que aquilo era. Confiei neles cegamente e destruíram-me a vida", admitiu. Depois de perder tudo, ficou sem conseguir pagar a hipoteca da casae chegou a viver na própria casa "como um sem-abrigo com teto", confessou.

No entanto, procurou fazer justiça e levou o caso a tribunal. "Estou morto por dentro", disse, emocionado, à porta do tribunal, onde acabou por vencer três batalhas legais contra o banco. A decisão mais simbólica aconteceu em 2016, quando um tribunal de Castellón obrigou a instituição a pagar-lhe 1,06 milhões de euros por ter bloqueado o seu dinheiro em "produtos complexos".

Três anos depois, em 2019, voltou a ganhar em tribunal, desta vez para recuperar os 1,2 milhões de euros investidos pelos filhos — 600 mil cada um. A justiça reconheceu um “defeito de consentimento” e criticou de forma bastante dura e tácita o banco, sublinhando que houve “contradição” ao alegar que Francisco tinha conhecimentos suficientes para compreender o investimento.