Cerca de metade dos cancros do estômago são diagnosticados no norte de Portugal e os especialistas não encontram uma explicação exata para tal acontecer. Contudo, há três fatores determinantes para que 48% dos casos sejam desta zona do País.

Leopoldo Matos, médico gastroenterologista, revela que, “durante muito tempo, pensou-se que teria que ver com o tipo de alimentação”, algo que ainda é considerado devido aos “fumados e salgados”.

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Uma possível causa genética também esteve em cima da mesa, “mas só 10% dos tumores do estômago é que têm alguma agregação familiar, havendo muito poucas famílias com código genético em que é dominante o cancro do estômago face a outros cancros”, segundo a CNN Portugal.

Como tal, “não há uma razão óbvia”, sendo que o maior número de cancros do estômago no norte poderá ter que ver “com o meio ambiente e familiar”. Leopoldo Matos lamenta que não tenha havido “estudos” suficientes para identificar uma ou mais causas concretas.

O cancro do estômago é o quarto mais comum em Portugal. Dos 2.615 novos casos diagnosticados, 1.280 foram no norte, 394 casos na Área Metropolitana de Lisboa, 296 no centro, 121 no Alentejo, 70 no Algarve, 18 na Madeira e seis nos Açores. No que diz respeito aos distritos, Viana do Castelo, Braga e Porto destacam-se com 39% do total de novos casos, segundo os dados do Registo Oncológico Nacional (RON) referentes a 2020.

O médico Pedro Narra Figueiredo, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, adianta que, “no quadro geral do cancro do estômago, há quatro aspetos fundamentais para o aparecimento da doença: a infeção pela Helicobacter pylori, o sal, o álcool e o tabagismo”.

Contudo, José Carlos Machado, professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e investigador no i3S, refere que, “historicamente, o que distingue o norte e o sul é a prevalência da Helicobacter pylori, mas ninguém sabe muito bem o porquê dessa prevalência”.

Diogo Libânio, assistente hospitalar de Gastrenterologia no IPO do Porto e professor assistente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, diz que “70% a 90% dos cancros gástricos estão relacionados” com a bactéria localizada na mucosa gástrica, identificada em 1982 e descrita como a “bactéria dos pobres” por estar associada “a menores condições sanitárias, a estratos socioeconómicos mais desfavoráveis e o norte, como um todo, é uma região mais pobre”.