Considerado um dos reclusos mais perigosos da Inglaterra, Robert Maudsley passou quatro décadas em regime de isolamento numa cela de vidro à prova de bala, numa cave da prisão HM Prison Wakefield, em Yorkshire. Apelidada de "Mansão dos Monstros", este estabelecimento prisional de alta segurança é a casa de alguns dos criminosos mais perigosos do país.

Desde Harold Shipman, considerado um dos mais prolíficos assassinos em série, apelidado de "Dr. Morte", que se pensa ter matado mais de 250 pessoas, até ao pedófilo Ian Watkins, cantor da banda LostProphets condenado a 35 anos de prisão em 2013 por vários crimes contra crianças, esta prisão já teve a sua dose de reclusos de risco. Desde 1974 que Wakefield é também a casa de Maudsley, que está na prisão desde os 21 anos, quando foi considerado culpado pela morte de John Farrell. Depois disso, ainda matou mais três pessoas, uma num hospital psiquiátrico e duas na prisão. 

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Nascido em Liverpool em junho de 1953, foi logo aos seis meses de idade que Maudsley, juntamente com os seus dois irmãos mais velhos, Kevin e Paul, e a sua irmã, Brenda, foi colocado numa instituição de acolhimento porque os pais não os conseguiam sustentar, segundo o jornal "Daily Record". Nove anos da sua vida foram passados num centro católico romano, sob a tutela de freiras.

No final desse período, os pais de Maudsley, George e Jean, que viviam em Toxteth com o seu quinto filho (a quem, posteriormente, se juntaram mais sete, fazendo um total de 12 filhos) voltaram a ter contacto com os quatro. No entanto, quando voltaram a viver todos juntos, os três rapazes sofreram vários abusos por parte dos pais, que lhes batiam com paus e varas. Um ano depois das torturas, Maudsley foi colocado numa casa adotiva, mas, aos 16 anos, fugiu para Londres.

A toxicodependência e duas tentativas de suicídio assim que chegou à capital britânica fez com que tivesse de passar algum tempo em unidades psiquiátricas. Para sustentar o seu vício, Maudsley tornou-se prostituto, e, numa noite, encontrou John Farrell, homem que se veio a descobrir ser pedófilo. Depois de mostrar várias fotografias de crianças de quem tinha abusado, o, na altura, jovem de Liverpool, esfaqueou e esmagou a cabeça de Farrel com um martelo, tendo sido detido. Maudsley acabou por ser condenado à prisão perpétua e enviado para o Hospital de alta segurança Broadmoor, em Berkshire.

No entanto, três anos mais tarde, voltou a atacar. Com a ajuda de outro recluso, David Cheeseman, Maudsley amarrou David Francis, condenado por pedofilia, com um cabo de um gira-discos e torturou-o durante nove horas.

Segundo o jornal “Manchester Evening News”, quando os guardas abriram a cela, o corpo de Francis foi encontrado com a cabeça "aberta como um ovo cozido" e com uma colher pendurada. Contudo, o relatório da autópsia da vítima desmentiu os rumores de que teria comido o cérebro do pedófilo. Maudsley foi condenado por homicídio involuntário e enviado para a prisão de Wakefield após o julgamento.

Robert Maudsley
Robert Maudsley Robert Maudsley com os irmãos créditos: Youtube

Aqui, é onde ocorrem os seus dois últimos homicídios. Em 1978 atraiu para a sua cela Salney Darwood, que estava preso por ter matado a mulher, e, com a ajuda de um torniquete que amarrou ao seu pescoço, esmagou-lhe repetidamente a cabeça contra as paredes, balançando-o de um lado para o outro. Depois de esconder o seu corpo debaixo da cama, dirigiu-se à cela do pedófilo Bill Roberts, esmagou-lhe a cabeça e abriu o seu crânio com uma faca. De seguida, entrou no gabinete de um dos guardas presentes, colocou a faca em cima da mesa e disse que "faltariam dois (reclusos) quando chegasse a próxima chamada", de acordo com o "The Mirror".

Maudsley foi condenado por ambos os homicídios e sentenciado à prisão perpétua em Wakefield, pena que mais tarde foi aumentada para prisão perpétua. Durante o seu julgamento final, em 1979, Maudsley afirmou que estava a pensar nos seus pais enquanto matava as vítimas, desejando tê-los matado em 1970. 

Assim, até aos dias de hoje, passados mais de 40 anos, numa cave por baixo das alas principais da prisão HM Prison Wakefield, em Yorkshire, Maudsley passa 23 horas por dia numa cela rodeada de vidros à prova de bala especialmente construída para ele, com uma estrutura de betão a servir de cama.

Dentro dos 25 metros quadrados estão uma mesa e uma cadeira feitas de cartão comprimido, um lavatório e o lava-loiça aparafusados ao chão e uma porta de aço que se abre para um pequeno compartimento revestido em vidro com uma ranhura para passar a comida. A hora restante do dia é passada no exterior a fazer exercício.

Este pormenor solitário da vida problemática do assassino em série foi, no entanto, utilizado pela Sétima Arte em “O Silêncio dos Inocentes”. O filme de 1991 conta a história do psicopata, canibal e assassino em série Hannibal Lecter. Em determinada altura do filme, Lecter também é preso numa cela bastante parecida à de Robert Maudsley que serviu, na verdade, de inspiração para esta cena.

O Silêncio dos Inocentes
O Silêncio dos Inocentes créditos: Youtube

Em 1990, Maudsley encontrou-se com o psiquiatra Bob Johnson na prisão de Parkhurst, na Ilha de Wight, Inglaterra, que acreditava estar a fazer progressos na redução da violência latente de Maudsley. No entanto, as sessões foram subitamente interrompidas ao fim de três anos e Maudsley foi devolvido à prisão de Wakefield, onde permanece desde então. Johnson tentou contactá-lo várias vezes, mas as suas cartas ficaram quase sempre sem resposta, até que recebeu uma mensagem pelo correio: "All Alone Now" (“Agora estou sozinho” em português).

O trabalho do psiquiatra é retratado num dos episódios da série da Apple TV + "Making a Monster".

Há cinco anos, Paul Harrison, um antigo detetive da polícia especializado em entrevistar assassinos em série, incluindo Jeffrey Dahmer, falou com o jornal “Manchester Evening News” sobre a altura em que entrevistou Robert Maudsley. "Muitos [assassinos em série] são muito intensos e narcisistas e falam sobre si próprios, e eu não achei nada disso. Foi o único em que pensei: 'Uau, isto é diferente de qualquer outro assassino em série. Maudsley é diferente". 

O ex-detetive diz ainda que sentiu uma empatia pelo assassino, e que existiam pessoas piores que ele no sistema. Confessa ter escrito à rainha Isabel na altura, mas que não obteve resposta. "Ele matou dois pedófilos, mas senti uma grande empatia”, disse.

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Em 2020, Maudsley pediu que lhe fosse facilitada a solitária ou que lhe fosse permitido pôr termo à vida com uma cápsula de cianeto. Quando o pedido foi indeferido, o homem de Liverpool escreveu uma carta a um jornal, segundo o “Daily Record”, a perguntar qual era o objetivo de o manter preso durante 23 horas por dia. “Para quem é que eu represento de facto um risco? Por que não posso ter um periquito em vez das moscas, baratas e aranhas que tenho atualmente?”, escreveu.

Sem qualquer tipo de facilidade, Maudsley continua preso na mesma cela de vidro. No início deste ano, o assassino completou 70 anos de idade atrás das grades e estabeleceu um novo recorde mundial para o maior número de dias passados na solitária.