O julgamento de um dos casos mais tenebrosos a chegar às salas de tribunal francesas começou esta segunda-feira, 2 de setembro. Ao longo de uma década, Dominique Pélicot drogou com medicamentos a mulher, Gisèle, com quem esteve casado 50 anos. Depois, convidou, através de fóruns na internet, mais de 70 homens para a violarem. 

Um descuido permitiu que em 2020, Pélicot fosse detido e os seus crimes finalmente descobertos. Foi apanhado num supermercado a fotografar a roupa interior de mulheres e foi esse episódio que serviu de rastilho para serem descobertos os pormenores da verdadeira casa dos horrores. Os investigadores encontraram no computador do homem milhares de fotos e vídeos de Gisele, visivelmente inconsciente, muitas vezes em posição fetal, a ser violada por dezenas de estranhos. Os abusos aconteciam na casa da família. As autoridades também descobriram fotografias da filha do casal, fotografada a dormir, em roupa interior, bem como das noras de Dominique.

Caroline Darian, filha do casal, lançou em 2022 um livro intitulado "Parei de te chamar Pai", onde relata os crimes cometidos pelo pai. Explica que, juntamente com os irmãos, assistia sem entender às perdas de memória da mãe. "O meu pai explicava-lhe que ela tinha desmaiado, que estava cansada, que era a forma dela descomprimir do stresse e da fadiga. Havia uma forma de controlo emocional e de manipulação", disse em 2022, em entrevista à TF1.

Gisèle, atualmente com 72 anos, escolheu que o julgamento, no qual está presente, seja à porta aberta e com a presença da comunicação social. Está presente na mesma sala de tribunal do que o marido e alguns dos homens que a violaram. Surgiu na segunda-feira, 2 de setembro, rodeada dos filhos, de óculos escuros. O advogado que a representa disse que a família quis que assim fosse. "Esta é uma forma de ela dizer que é possível ultrapassar isto. As pessoas têm de saber que isto aconteceu e a vergonha não é dela."

Os detalhes relatados na sala de tribunal fizeram com que a filha do casal abandonasse por duas vezes o local, em lágrimas. Dominique entrava em chats online relacionados com abusos sexuais e era aí que convidava os homens para se dirigirem a sua casa e violarem a sua mulher. Os homens eram instruídos a estacionarem o carro num determinado lugar, a não usarem perfume e a despirem-se na cozinha, para que não se esquecessem da roupa. A alguns, como detalha a GB News, dizia para não usarem preservativo. Um desses homens tinha HIV.

Como relata Caroline no seu livro, o pai nunca cobrou por estas visitas. "Ele fazia isto apenas por prazer". Em casa, Dominique filmava os abusos e guardava todos os registos no computador. Quando foi detido, Caroline relata que o pai não mostrou qualquer espécie de arrependimento, mas sim alívio. 51 homens foram detidos e estão a ser julgados, mas estima-se que sejam mais de 70. Dos acusados, 35 negam ter tido qualquer intenção de violar a mulher.

O julgamento de Pelicòt e dos restantes acusados decorre em França até 20 de dezembro. Esta quinta-feira, 5, é a vez de Gisèle Pelicot falar.

A violência doméstica é crime público e pode ser denunciado por qualquer pessoa.

Contactos úteis

  • Linha SMS 3060 (denúncia por mensagem)
  •  116 006 (Linha de Apoio à Vítima)
  • 800 202 148 (7 dias por semana, 24 horas por dia)
  • violencia@cig.gov.pt
  • Queixa electrónica aqui

Mais informações:

Porta da Violência Doméstica
APAV