Desde 2020 que permanecem as dúvidas sobre como é que o vírus da COVID-19 proliferou por todo o mundo. Mas dois novos estudos publicados esta terça-feira, 26 de julho, na revista científica "Science" apontam para que a origem da pandemia seja o mercado de Wuhan, na China, onde foi registado um maior número de primeiros casos.
Tal foi possível apurar num primeiro estudo de análise geográfica, que mostra que os primeiros casos detetados em dezembro de 2019, cerca de 174, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estavam concentrados no mercado de Wuhan, e numa segunda investigação, genómica, em que os investigadores perceberam que é muito improvável que o vírus tenha circulado amplamente entre humanos antes de novembro de 2019.
Apesar de, ao longo destes últimos dois anos, terem sido levantadas outras hipóteses, como a fuga do vírus num laboratório de Wuhan, as novas evidências vêm dar enfâse à primeira teoria levantada desde o início da pandemia.
"Simplesmente não é plausível que o vírus tenha sido introduzido de outra forma que não seja através do comércio de animais no mercado de Wuhan", disse um dos autores destes estudos, Michael Worobey, virologista da Universidade do Arizona, em conferência de imprensa, que chegou a apoiar a teoria laboratorial sobre a COVID-19.
Os investigadores dos estudos publicados na revista cientifica concluíram então que "o mercado de Wuhan foi o epicentro da pandemia de COVID-19 e que o SARS-CoV-2 surgiu de atividades associadas ao comércio de animais selvagens vivos", como comprovaram testes positivos para o SARS-CoV-2, por exemplo, em gaiolas e também numa barraca que vendia mamíferos vivos.
"Essas descobertas sugerem que animais infetados estavam no mercado de Wuhan no início da pandemia da COVID-19; no entanto, não temos acesso a nenhuma amostra de animais vivos de espécies relevantes", ressalvam os investigadores dos estudos, que afirmam precisar de informações adicionais para testar em que espécie poderá ter começado o vírus.
O que se sabe para já, tendo em conta as novas evidências, é que o mercado é o epicentro do vírus, que foi depois para os bairros em redor antes de espalhar-se pelo mundo. Contudo, ainda há assuntos por explicar.
"Uma das principais descobertas do nosso estudo é que os primeiros doentes com COVID-19 'desvinculados', aqueles que não trabalhavam no mercado ou conheciam alguém que o fazia, não tinham visitado o mercado recentemente ou residiam significativamente mais próximo do que pessoas infetadas com ligação ao mercado", afirmam e ligam a nova descoberta com dados anteriores.
"A observação de que uma proporção substancial de casos iniciais não tinha vínculo epidemiológico conhecido já havia sido usada como argumento contra um epicentro da pandemia no mercado de Wuhan. No entanto, esse grupo de casos residia significativamente mais próximo do mercado do que aqueles que trabalhavam lá, indicando que foram expostos ao vírus no mercado de Wuhan ou perto dele. Para os trabalhadores do mercado, o risco de exposição era o local de trabalho e não os locais de residência, que estavam significativamente mais distantes do que os casos não formalmente vinculados ao mercado", concluem.
Ainda assim, há muitas hipóteses em aberto, uma vez que é preciso "entender que há cenários possíveis e outros prováveis", defende Kristian Andersen, do Scripps Research Institute e coautor dos novos estudos.