Enquanto os humanos lutam, os animais sofrem. Cerca de 20 animais selvagens e de grande porte já foram resgatados rumo à Polónia, mas ainda há cerca de quatro mil animais presos no jardim zoológico de Kiev, na Ucrânia. Sem opção de fuga à vista.
O zoo de Kiev fechou ao público a 24 de fevereiro, na sequência de ordens governamentais, mas cerca de quatro mil animais, de 200 espécies diferentes, permanecem no interior, num ambiente hostil e prejudicial ao seu bem-estar.
De acordo com o jornal "Público", muitos deles já foram encaminhados para galerias subterrâneas e outros para espaços isolados para maior segurança, mas não há forma de os isolar do barulho da guerra. Pelo menos desde 26 de fevereiro, à medida que a ofensiva russa se aproxima, o pânico e stresse dos animais aumenta.
Elefantes e outras espécies mais sensíveis têm sido sedados, mas os funcionários garantem que é insustentável sedar a totalidade dos animais. Ainda assim, retirá-los do zoo, nesta fase, não é opção. "É impossível providenciar transportes e acompanhamento veterinário adequado", avança o diretor do zoo, Kyrylo Trantin, em declarações citadas pela CNN Portugal. "Estão aterrorizados devido aos barulhos fortes, mas os nossos veterinários estão constantemente a monitorar o seu estado", acrescentou.
Atualmente, já são várias as imagens de animais enjaulados ou em abrigos subterrâneos que circulam nas redes sociais, mas o momento em que Kyrylo Trantin passa a mão na tromba de Horace, na esperança de que o gesto possa acalmar o elefante, é um dos principais registos do ambiente que se vive dentro do jardim zoológico.
À data de publicação deste artigo, cerca de 50 funcionários e respetivas famílias permanecem no interior do jardim zoológico de Kiev — com o principal objetivo de assegurar os cuidados possíveis aos animais e, face ao cenário instável, acalmar o stresse que manifestam. Esta quinta-feira, 3 de março, o diretor do zoo avançava que havia comida para, pelo menos, dez dias, mas já não se sabe qual o ponto da situação. Os funcionários temem não ter os meios necessários para garantir a sobrevivência dos animais.
Já há animais a salvo, mas o processo de fuga não foi fácil
De acordo com o jornal "Público", a salvo, fora de território ucraniano, estão já seis leões, seis tigres, dois linces e um mabeco (uma espécie de cão selvagem africano) que viviam num santuário junto ao aeroporto de Kiev. Foram transferidos para Poznan, na Polónia, onde chegaram esta quinta-feira, 3 de março.
O grupo de animais já está a salvo, mas o processo de transporte não foi fácil e a primeira tentativa de fuga acabou mesmo por falhar depois de o camião se ter cruzado com tanques russos e não ter conseguido passar.
"Tiveram de fazer um longo caminho para evitar Zhytomyr e outras zonas de bombardeamentos. Tiveram de voltar para trás várias vezes porque as estradas estavam desfeitas, cheias de buracos, impossíveis de passar com uma carga como aquela, por isso é que demoraram tanto tempo", disse a porta-voz do zoo de Poznan, Malgorzata Chodyla, em declarações citadas pelo jornal "Público".
"Mas já estão aqui, e nem podemos acreditar", acrescentou, com a ressalva de que a ajudar o condutor estavam três homens mais velhos, sem qualquer experiência ou formação para lidar com animais selvagens, que agora voltaram para Kiev para defender a sua cidade das tropas russas.