Há quem tenha confinado por obrigação devido à pandemia da COVID-19 e depois existem 15 pessoas que confinaram numa gruta em Lombrives, França — e por opção. A 14 de março de 2021, o grupo de voluntários entrou na gruta no contexto de uma investigação. Esta era destinada a estudar a reação do cérebro dos seres humanos a um ambiente de isolamento social de longa duração em condições extremas, sem qualquer perceção de tempo, a propósito do projeto “Deep Time".

O estudo contou com 15 voluntários, entre os 27 e 50 anos, que passaram 40 dias dentro de uma gruta, de onde saíram este sábado, 24 de abril. Durante este período, os indivíduos não viram qualquer raio de sol, ponteiro de relógio a mover-se, nem tiveram contacto com pessoas do exterior. No fundo, é um confinamento como o nosso, mas levado ao extremo — podemos dizer que ainda tivemos a sorte de poder fazer videochamadas com quem estava mais distante e ir ver o sol à janela.

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Antes de partirem para a experiência, cada um dos 15 participantes foi submetido a testes físicos e mentais e, enquanto estavam dentro da gruta, os cientistas foram acompanhando, através de sensores, todas as necessidades fisiológicas: padrões de sono, comportamento social, sinais vitais e temperatura corporal.

Durante os 40 dias, cada voluntário — sete mulheres e oito homens, desde médicos especialistas a um joalheiro —, tinha tarefas atribuídas, sendo que, entre outros afazeres, era preciso recolher água, o único bem essencial que não levaram para a gruta.

Durante o isolamento, algumas fotografias foram publicadas no Facebook de Christian Clot, explorador que liderou os voluntários e fundador do Human Adaptation Institute — que tem como objetivo compreender os mecanismos cognitivos e fisiológicos de adaptação do ser humano perante mudanças rápidas ou a longo prazo —, mostrando como estava a ser viver dentro de uma gruta e como o bom humor nunca se perdeu. Isto porque numa das publicações, Clot escreveu: "Da série 'Underground', apresentamos 'Underground cooking' (cozinhar debaixo da terra)'", brincou. 

O projeto está ainda em fase de investigação, uma vez que o impacto destes 40 dias está a ser avaliado e os voluntários foram submetidos a uma ressonância magnética em menos de 24 horas após a saída da gruta.

No momento de abandonar a gruta, após um longo período em que os participantes perderam a noção, ouviram-se aplausos no exterior, onde esperavam os restantes membros da equipa envolvida no estudo do instituto.

"E aqui estamos nós! Saímos passados 40 dias", disse Christian Clot, de acordo com a "Vice", que cita a Associated Press. "Para nós, foi uma verdadeira surpresa... Pensávamos que tínhamos entrado para a gruta há 30 dias", continuou, mostrando que os 15 participantes não se importavam de ficar lá mais algum tempo. Para o explorador, experiências como esta são essenciais para perceber como é que o ser humano vai conseguir enfrentar desafios no futuro: "Temos de aprender como é que os nossos cérebros são capazes de encontrar novas soluções, seja em que situação for". 

Outra das participantes, Marina Lançon, disse à saída que "foi como uma pausa", acrescentado que o som dos pássaros foi revigorante e que poderia ficar facilmente mais alguns dias isolada.