Depois das conservadoras Margaret Thatcher (1979-1990) e Theresa May (2016-2019), Elisabeth Truss, 47 anos, foi a escolhida pelo partido conservador britânico para suceder a Boris Johnson. Após oito semanas de eleições internas, cujo resultado foi anunciado ao fim da manhã de segunda-feira, dia 5 de setembro, a atual ministra dos negócios estrangeiros derrotou Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças, tendo obtido 81.326 votos.
Nas primeiras palavras como líder do partido conservador, Truss deixou uma promessa. "Fiz campanha como uma conservadora e irei governar como uma conservadora”, disse a futura primeira-ministra do Reino Unido, que deixou ainda algumas palavras ao seu antecessor, Boris Johnson. “Boris, conseguiste o Brexit, esmagaste Jeremy Corbyn, arranjaste a vacina e enfrentaste Vladimir Putin. Foste admirado de Kiev a Carlisle."
Mas afinal quem é Liz Truss? Descubra em quatro pontos.
Da ala esquerda para a ala direita
Nascida em Oxford, em julho de 1975, Truss cresceu em torno das políticas de esquerda, mas rapidamente adotou uma atitude mais conservadora na Universidade de Oxford.
Durante grande parte da sua infância, Truss viveu em zonas do país onde o partido conservador não tinha uma presença muito forte, nomeadamente em Paisley, nos arredores de Glasgow, na Escócia, e em Leeds, no norte de Inglaterra. No seu seio familiar, a orientação política, como cita o "Público", era “à esquerda do Partido Trabalhista”, uma vez que a mãe, Priscilla Mary, era membro ativo da campanha pelo desarmamento nuclear que teve como figura principal Jeremy Corbyn, representante da ala mais esquerda do partido trabalhista.
O pai, professor de matemática, juntamente com a mãe de Truss, também pertencia à ala mais à esquerda, sendo militante do Partido Verde.
A associação ao Partido Conservador durante a universidade, onde estudou Política, Filosofia e Economia, chocou a família e amigos. Numa entrevista à BBC, recordou o “míssil” de três metros de alcatifa e papel de parede feito pela mãe para levar a uma manifestação contra Thatcher, a primeira ministra conservadora da altura.
Fez campanha contra o Brexit, mas mudou de ideias
No currículo de Truss cabem vários cargos. Entrou no parlamento em 2010 e rapidamente destacou-se, tornando-se ministra do Ambiente, em 2014. Depois de Cameron renunciar o cargo em julho de 2016, Truss foi nomeada Secretária de Estado da Justiça.
Após as eleições gerais de 2017, foi nomeada secretária chefe do Tesouro. Em 2019, Boris Johnson nomeou a conservadora para secretária de estado do Comércio Internacional e presidente da Junta Comercial. Ainda no mesmo ano, assumiu o cargo de ministra da Mulher e da Igualdade. O seu último cargo foi como ministra dos Negócios Estrangeiros.
A estes seis cargos que ocupou nos últimos oito anos em governos conservadores, fez também campanha contra a saída do Reino Unido da União Europeia. Assim como todo um leque de decisores políticos, Truss teve de tomar partido no debate mais importante da história recente da democracia britânica: o “Brexit”. "Uma tragédia tripla: mais regras, mais formulários e mais atrasos nas vendas para a UE””, foi assim que Truss definiu o referendo de 2016 ao "The Sun", citado pelo "Público".
No entanto, a conservadora mudou de ideias após a inesperada vitória do Brexit, em junho de 2016, referindo as “oportunidades” que o acordo poderia trazer — entre elas, os novos acordos de comércio livre. Esta mudança repentina no seu posicionamento favoreceu e aumentou a sua lista de opositores.
Do célebre discurso em 2014 ao caso extraconjugal com o deputado conservador britânico (e a defesa pela legalização da cannabis)
Liz Truss, de 47 anos, chegou a ser notícia devido a um excerto cómico de um célebre discurso que apresenta nas redes sociais desde 2014. "Dois terços das maçãs e nove décimos das peras que comemos são importadas. Para não falar de dois terços do queijo. É uma vergonha", exclamou a agora futura primeira-ministra, zangada, no congresso do partido, citado pela TSF.
Nos últimos meses, de acordo com a TSF, também foram descobertos outros vídeos da conservadora em 1994, numa altura em que era militante ativa dos liberais democratas e defendeu a abolição da monarquia. Mas ao longo das últimas semanas, Liz Truss tem-se reinventado à imagem da antiga Dama de Ferro, Margaret Thatcher, assumindo-se como eurocética, militarista e defensora dos impostos baixos.
A sua ascensão rápida nas fileiras é um marco diferenciador na carreira de Truss, mas esteve por um fio. Em 2009 quase foi impedida de se candidatar ao parlamento por ter tido um caso extraconjugal com o deputado Mark Field, quando tinha 25 anos. Estiveram juntos durante 18 meses, quando Field terminou com o casamento de 12 anos para estar com a futura primeira-ministra do Reino Unido. Atualmente é casada com o contabilista Hugh O'leary desde 2020 e tem duas filhas: Liberty, de 16 anos, e Frances, de 13.
Para além disso, Truss foi uma das 60 personalidades a defender a legalização da cannabis e a apoiar o fim do regime monárquico.
Fã de Bruce Springsteen e Taylor Swift, Truss também gosta de cantar
Quem é Liz Truss por detrás da política? Numa entrevista ao TV GB New, Truss confessou que adora música dos anos 80 e que o karaoke é um dos seus passatempos preferidos.
A sua música favorita? “I wanna dance with somebody” de Whitney Houston, mas como cantores predilectos nomeia Taylor Swift e Bruce Springsteen. Além disso, é fã de um bom queijo.
A passagem de testemunho terá lugar na terça-feira, dia 6 de setembro, quando o primeiro-ministro, Boris Johnson, apresentar a demissão à rainha Isabel II.