Após a entrevista exclusiva que Harry e Meghan Markle concederam a Oprah Winfrey, o Palácio de Buckingham está a ser pressionado para comentar as acusações de racismo e de negligência. No domingo, 7 de março, a duquesa de Sussex revelou como, durante a primeira gravidez, começaram a ser levantadas questões sobre o tom de pele do filho e de como este não teria direito a título ou segurança caso a sua pele fosse mais escura.
Até à data da publicação deste artigo, no entanto, a família real britânica optou pelo silêncio, mesmo depois de o casal ter confirmado que "um dos principais motivos" da mudança do Reino Unido para os EUA foi o facto de a imprensa britânica, especialmente os tablóides, partilharem destas ideias racistas.
Questionado pelos media, o governo britânico optou não comentar. "A única coisa que talvez possa dizer é que sempre tive uma enorme admiração pela rainha e pelo papel unificador que ela desempenha no nosso país. Relativamente a outros assuntos que envolvam a família real, é sabido que ao longo de todo este tempo optei por não comentar o que quer que fosse e não tenho quaisquer intenções de começar hoje", referiu o primeiro-ministro Boris Johnson nesta segunda-feira, 8, citado pelo jornal "The Guardian".
Mas entre as fileiras do governo, as opiniões dividem-se com Zac Goldsmith, ministro e parte integrante do partido Conservador liderado por Johnson, a acreditar que Harry está a "explodir" contra a sua família ao participar na entrevista ao lado de Meghan Markle. Já Vicky Ford, também ministra, diz que "não há lugar para o racismo na sociedade" britânica.
Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista que compõe a oposição ao governo, argumenta que as questões levantadas pela duquesa "são muito mais relevantes do que a família real" e que, por isso, não devem ser ignoradas, escreve o mesmo jornal.
As declarações do primeiro-ministro e de vários ministros surgem no mesmo dia em que Thomas Markle, pai de Meghan, falou em direto para o "Good Morning Britain", o programa da manhã do canal ITV. Em entrevista, nega que a sociedade britânica seja racista e diz que, caso tenha sido levantada a questão do tom de pele do filho do casal, "provavelmente terá sido apenas uma pergunta idiota".
"Não acredito que a família real britânica seja racista. Nem acredito que os britânicos o sejam. Los Angeles e Califórnia, por exemplo, são [regiões] racistas. Mas os ingleses não."
"O casal atirou uma granada à família e, neste momento, não há como voltar atrás"
Thomas Markle aproveitou ainda para pedir desculpa à filha, em direto, por ter negociado a encenação de fotografias em 2018, antes do casamento real. "Gostava de pedir, novamente, desculpa pelo que fiz. Isto foi há dois anos e tentei, desde então, fazer as pazes com ela. Nunca deixei de a amar. Posso não concordar com muitas das coisas que os meus filhos fazem, mas nunca deixarei de gostar deles."
Thomas refere-se ao momento em que, questionada por Oprah, Meghan Markle considera ter sido traída pelo pai. "Se vamos usar essa palavra, a de traição, é porque quando soubemos que estava para sair uma história destas, ligámos ao meu pai, perguntámos-lhe se era verdade e ele disse que não."
Numa altura em que se espera uma reação oficial por parte do Palácio de Buckingham, teme-se que nem depois disso o fantasma das declarações de Meghan e Harry desvaneça. "O casal atirou uma granada à família e, neste momento, não há como voltar atrás. Esta história vai perdurar porque aborda mais do que as personalidades [do Palácio]. É um testemunho em primeira mão de uma família disfuncional", argumenta Penny Junor, biógrafa da família real, à mesma publicação.
Charles Anson, o anterior responsável pela comunicação à imprensa da rainha, diz crer que, após a entrevista, "o Palácio estará a procurar refletir sobre a entrevista de modo a encarar de frente algumas das questões sem exacerbar nada, procurando sempre a reconciliação".
Fontes anónimas, no entanto, garantem que desde que a entrevista foi exibida a rainha Isabel II e os príncipes Carlos e William estão isolados nos aposentos reais e a debater de que forma vão reagir às revelações do casal, escreve o tablóide "The Daily Mail".