A tecnologia pode ser muito inovadora, mas também perigosa – e parece que, nos Estados Unidos, há um novo esquema que está a elevar esses perigos a um nível extremo. Isto porque no estado do Arizona, uma mãe atendeu um telefonema, no qual ouvia a filha a chorar e a implorar por ajuda, dando a entender que havia sido raptada. Mas era tudo um esquema para extorquir-lhe dinheiro, realizado por alguém que recorreu à Inteligência Artificial para simular a voz da jovem.

Jennifer DeStefano, a mãe, recebeu uma chamada de um número que desconhecia e estava decidida que não ia atendê-la. No entanto, depois de se lembrar que a filha, Brie, de 15 anos, estava numa viagem de esqui, acabou por voltar atrás, uma vez que queria certificar-se de que não se passava nada de mal. E essa decisão acabou por deixá-la com o coração nas mãos.

"Eu atendo o telefone e oiço a voz da minha filha a dizer 'Mãe!', enquanto chora desalmadamente", descreveu a mulher, citada pelo "The New York Post". Assustada, Jennifer quis logo saber a que é que se devia a crise de choro da filha, questionando-a sobre o que se passava. "Mãe, fiz porcaria", continuou a jovem, entre lágrimas, enquanto uma voz masculina de fundo lhe dizia, agressivamente, para se deitar.

"Esse homem começa a falar [com Jennifer] ao telefone e diz: 'Ouve bem, tenho a tua filha'", continuou a mãe de Brie, acrescentando que aquilo que se seguiu foi uma descrição do que poderia acontecer, caso não fizesse exatamente o que agressor mandava. "Se ligares à polícia ou a alguém, vou enchê-la de drogas", afirmou o homem, sugerindo que ia abusar da menor e, de seguida, deixá-la no México.

No seguimento destas afirmações, que deixaram Jennifer completamente petrificada, podia ouvir-se a suposta voz de Brie a implorar pela ajuda da mãe. Foi então que o agressor pediu um milhão de dólares (quase 904 mil euros) em troca do resgate da adolescente, valor que acabou por baixar para 50 mil dólares (mais de 45 mil euros), depois de a mãe dizer que não tinha aquela quantia para oferecer.

O pesadelo só acabou quando Jennifer ligou para as autoridades e para o marido, que se certificaram de que Brie estava na sua viagem e que nada lhe havia acontecido. Ainda assim, foi difícil de acreditar. "Nunca duvidei de que fosse a minha filha", confessou a mãe, acrescentando que, da voz à forma como chorava, parecia tudo demasiado real para não ser verdade.

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A identidade deste burlão ainda não é conhecida, mas as autoridades confirmaram que este terá utilizado um programa de Inteligência Artificial para replicar a voz da jovem. E softwares deste género tiveram uma evolução tão grande que, atualmente, é possível replicar o timbre de qualquer pessoa, mesmo com excertos de som extremamente curtos – mais especificamente, com apenas três segundos, de acordo com um especialista e professor da Arizona State University, citado pelo "The New York Post".

No caso de Brie, que não tem redes sociais públicas, Jennifer acredita que a única forma de a sua voz ter sido replicada é através de uma série de entrevistas e projetos escolares que foram divulgados na página de Facebook da escola que frequenta. "Isto é algo com que as pessoas se devem preocupar ainda mais nos casos das crianças que têm contas públicas", conclui a mãe.