Kathleen Folbigg foi condenada a 30 anos de prisão pela morte dos quatro filhos, que morreram todos nas mesmas circunstâncias entre 1989 e 1997: de forma repentina, durante o sono, entre os 19 dias e os 18 meses de vida. A mulher australiana recebeu a sentença depois de o tribunal considerar que tinha asfixiado os bebés, mas uma nova investigação sugere que Kathleen pode ser inocente destes crimes.

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Carola García Vinuesa, uma imunologista espanhola, descobriu que uma malformação congénita pode explicar a morte dos bebés, salienta a CNN PortugalEm 2018, a investigadora falou com um antigo aluno, David Wallace, estudante de Direito, sobre o caso de Kathleen Folbigg, e este referiu que a mulher foi condenada com provas circunstanciais, algo que não costuma acontecer em Direito Penal.

Depois desse contacto, a investigadora espanhola, David Wallace e um terceiro elemento, Todor Arsoy, começaram a selecionar todas as possíveis causas das mortes das crianças. Carola García Vinuesa conta que listaram 400 genes, desde doenças cardiovasculares ou até epilepsia. O passo seguinte foi recolher a amostra da saliva da conhecida assassina em série australiana.

Ainda em novembro de 2018, descobriram que Kathleen Folbigg tinha uma mutação rara no gene CALM2, que é responsável por modificar a proteína calmodulina, que serve para regular o funcionamento cardíaco, ou seja,  controla a entrada e saída de células do coração.

De seguida, era necessário perceber se as crianças tinha herdado esse gene. Por isso, analisaram os dados dos testes à nascença dos bebés, bem como os tecidos congelados nas autópsias. Resultado: apenas as duas meninas que morreram em último lugar apresentaram a presença do gene.

A imunologista explicou ao “El Mundo” que “os dois bebés também tinham mutações, mas num gene ainda pouco estudado”. O primeiro filho, Caleb, tinha uma laringomalácia, uma doença que não o permitia engolir e respirar ao mesmo tempo. O outro menino, o quarto bebé, faleceu aos 8 meses com um ataque epilético. Quanto às duas meninas, também foram identificadas infeções respiratórias poucos dias antes de morrerem, referiu o “Público”.

Depois de todas estas descobertas, a especialista contactou o juiz para pedir a revisão do caso, tendo como base a teoria da mutação genética. Mas o magistrado não considerou relevante e negou o pedido.

Com isto, a imunologista decidiu reunir um grupo de 27 especialistas mundiais, que acreditou na sua investigação e acabaram por publicar um estudo sobre o tema em 2021, na Universidade de Oxford. O caso ganhou maior amplitude e 150 cientistas escreveram uma carta ao governador do Estado de Nova Gales do Sul a pedir a absolvição de Kathleen Folbigg.

A carta foi enviada a 3 de março, e o indulto não foi possível. Mas depois de vários anos presa, o caso de Kathleen Folbigg está agora a ser revisto.

Em 2003, o julgamento de Kathleen Folbigg durou mais de sete semanas. Uma das provas mais relevantes para a sua condenação foram as passagens do seu diário. Sobre a morte da filha Laura, a mãe escreveu: “Sinto-me como a pior mãe do Mundo. Com medo, ela vai deixar-me ,tal como Sarah fez. Eu sei que era cruel com ela algumas vezes, e ela foi embora. Com uma pequena ajuda”, referiu o “Jornal de Notícias”.