Sob grande vigilância das forças de segurança e sem a presença de cidadãos nas ruas de Washington, o evento da tomada de posse de Joe Biden e Kamala Harris foi, contrariamente ao que tem sido a tradição, diferente. Com as ruas sob forte controlo policial, a plateia do evento foi composta por um total de 200 mil bandeiras em representação dos 50 estados que compõem a nação e que, devido aos efeitos da pandemia, não puderam estar fisicamente presentes na cerimónia de inauguração.

O evento começou às 16 horas, horário de Lisboa. Na lista dos presentes estiveram, entre outros, Barack e Michelle Obama, Bill e Hillary Clinton, George W. Bush e Laura Bush. Mike Pence, o vice-presidente cessante, também esteve presente. Só Donald Trump recusou assistir à transferência de poder, sendo esta a primeira vez em mais de 150 anos que o presidente dos EUA não esteve presente na tomada de posse do presidente eleito.

Minutos antes de se apresentar ao país, Joe Biden recorreu à sua conta oficial do Twitter para homenagear a mulher. "Amo-te Jilly. Não poderia estar mais grato por ter-te comigo nesta jornada que terei pela frente", lê-se na publicação. Mas antes da muito esperada chegada de Biden, Kamala Harris, a primeira mulher a assumir o cargo da vice-presidência dos EUA, fez acompanhar do marido, Doug Emhoff, mas também de Eugene Goodman — o agente da polícia que fez frente aos manifestantes responsáveis pela invasão do Capitólio.

Recebido por aplausos de todos os presentes, Joe Biden e a primeira-dama, Jill Biden, foram conduzidos ao lugar que lhes tinha sido atribuído no palanque e começava assim a cerimónia de transferência de poder.

A primeira a discursar foi a democrata Amy Klobuchar, recordando o ataque sem precedentes à democracia americana de há duas semanas.

"Depois do vil ataque ao Capitólio que devastou o país, hoje é o dia em que a nossa democracia começa a ser construída. Porque foi a partir desse momento que fomos alertados para a nossa grande responsabilidade enquanto cidadãos americanos. Hoje é o dia em que saudamos o novo presidente dos EUA e a primeira mulher vice-presidente", referiu.

Entre o início da cerimónia e o juramento de Kamala Harris, intercedeu-se mais um discurso, desta vez do reverendo O'Donovan, amigo de longa data do presidente eleito que pediu "sabedoria" para que o amigo pudesse "governar o povo", sabendo "a diferença entre o bem e o mal". Terminado o discurso, Lady Gaga subiu ao palanque para cantar o hino nacional, numa interpretação emotiva.

Após a interpretação, Kamala Harris tomou posse da vice-presidência jurando, de mão erguida, "servir e defender a constituição dos EUA". Da plateia, Joe Biden reagiu com entusiasmo por aquela que será a sua grande companheira nos primeiros quatro anos de presidência.

Após o juramento formal, Jennifer Lopez, vestida inteiramente de branco, viu-se acompanhada por um militar para a interpretação da canção "This Land Is Your Land". A meio da canção, Lopez reforçou, desta vez em espanhol, que este era um "país marcado pela liberdade e a justiça", pedindo igualdade d direitos para todos os cidadãos.

"Há muito para reparar e para curar"

Era a vez de Joe Biden subir tomar o púlpito para o seu juramento como próximo presidente dos EUA. O exercício foi semelhante ao do juramento de Harris: mão direita erguida, mão esquerda sobre a Bíblia e jurando defender e preservar a constituição do país. Naquele momento, a presidência conturbada e intolerante de Donald Trump tinha chegado ao fim e os EUA tinham agora o seu 46.º presidente.

Tomado o púlpito, Biden falou ao país. "Esta é o dia da América, é o dia da democracia e da renovação. Hoje celebramos não o triunfo dos candidatos, mas da democracia. A vontade do povo foi ouvida. Fomos alertados e aprendemos novamente que a democracia era importante e neste momento, meus amigos, a democracia triunfou", começou por dizer Joe Biden.

O discurso de Joe Biden omitiu, desde o início, o nome de Donald Trump — mesmo depois de o novo presidente ter agradecido a presença de todos os presentes, até a do vice-presidente Mike Pence. "Há muito para reparar, para restaurar e para curar. Mas também há muito para ganhar. Somos boas pessoas. Ao longo dos séculos, durante momentos de paz e de guerra, fizemos um caminho muito longo. Mas ainda temos mais caminho para percorrer", recorda.

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"A partir de agora, toda a minha alma estará no objetivo de unir a América e sarar as feridas do nosso povo. Nunca falhámos como americanos. Vamos aproveitar que estamos aqui hoje e comecemos do início: respeitando-nos uns aos outros. Ultrapassando os obstáculos como americanos unidos. Temos de rejeitar a cultura em que os factos são manipulados. A América tem de ser mais do que isto e tenho a certeza de que somos melhor do que isto", continuou sem nunca referir o nome de Donald Trump.

"Não me digam que as coisas não podem mudar neste país", declarou, elogiando a eleição de Kamala Harris. E continuou: "O facto de discordarmos, enquanto povo, de um qualquer assunto não tem de, nem pode ser, motivo para uma guerra total. Prometo-vos: serei o presidente de todos os americanos. Dos que me apoiaram, mas também dos que não o fizeram."

Falando sobre o descontrolo no combate à pandemia, Biden apelou a uma união entre Democratas e Republicanos. "Ponhamos de parte a política para que possamos enfrentar esta pandemia como uma nação. Acabemos com a guerra pouco civil que opõe o vermelho e o azul [as cores dos partidos Democrata e Republicano]. Prometo-vos que vamos enfrentar isto juntos." Na fase final do seu discurso, apelou a uma oração coletiva em homenagem a todas as vítimas da COVID-19.

O hino norte-americano foi interpretado por Lady Gaga.