Foi a 28 de fevereiro de 2007 que em Nivelles, cidade a sul de Bruxelas, Genevieve Lhermitte foi encontrada em casa gravemente ferida ao lado dos cinco filhos que esfaqueou violentamente. As crianças, um menino e quatro meninas, tinham idades compreendidas entre os 3 e os 14 anos. A belga de 56 anos pediu para ser eutanasiada e o seu desejo foi cumprido.
Ao abrigo da lei belga, uma pessoa que esteja num sofrimento psicológico extremo e insustentável, sem cura possível, pode recorrer à eutanásia. Contudo, a pessoa deve estar consciente para tomar a decisão e conseguir expressar e fundamentar claramente a sua intenção. A mulher escolheu ser eutanasiada no dia 28 de fevereiro de 2023, exatamente 16 anos depois de ter matado os filhos.
Em 2007, depois dos crimes, tinha sido internada. Foi interrogada no quarto de hospital e formalmente acusada pelo homicídio das crianças, a juíza de instrução de Nivelles emitiu então um mandado de detenção.
Genevieve foi condenada a prisão perpétua em 2008 e em 2019 foi transferida para um hospital psiquiátrico. O argumento utilizado para requerer a mudança de instituição foi que a belga tinha perturbações mentais graves e que, como tal, não devia cumprir pena num estabelecimento prisional. Ainda assim, o juiz considerou que os homicídios foram premeditados.
Dois anos depois da tragédia, Lhermitte processou um ex-psiquiatra por este não ter feito o que estava ao seu alcance para impedir que matasse os cinco filhos. Inclusivamente exigiu ao médico uma indemnização até três milhões de euros. Travou esta batalha legal durante 10 anos, até que eventualmente desistiu.
Numa primeira fase de investigações, as autoridades apuraram que Lhermitte estaria em depressão profunda há vários anos e que frequentava o psiquiatra desde os 6. Desta forma, as autoridades chegaram a considerar que aqueles crimes teriam sido um ato de desespero. No entanto, o porta-voz do tribunal que julgou o caso, Bernard Goethals, referiu que os homicídios foram "metodicamente" executados.
A mulher escreveu uma carta a uma amiga onde dizia estar perante "uma situação sem saída", apenas 13 horas antes de assassinar as crianças. Ao início da tarde, quando os filhos regressaram da escola, Lhermitte sentou-os em frente à televisão da sala. Foi chamando as crianças uma a uma aos respetivos quartos, degolando-as à vez.
Yasmin de 14 anos, Nora de 12, Miriam de 10, Mina de 8 e Mehdi de 3 anos morreram enquanto o pai estava em Marrocos a visitar a família. A mãe tentou suicidar-se, esfaqueando-se no coração com a mesma arma branca que utilizou para tirar a vida aos filhos. Deixou mensagens à porta de casa e pediu ajuda.
Os crimes chocaram a vizinhança que tinham Genevieve Lhermitte e Bouchaid Mokadem, o marido que na altura tinha 43 anos, como pessoas "gentis, bem-educadas e afáveis", cita a "Visão". No entanto estariam conscientes que a mãe era instável emocionalmente. O mesmo foi confirmado um dia depois dos crimes pela irmã da homicida — foram "maltratadas emocionalmente" pelos pais durante a infância e adolescência.