A atuação de uma mulher de 27 anos num concurso de música evangélica no Brasil está a viralizar nas redes sociais. Aymeê, com a música  “Evangelho de fariseus”, emocionou os jurados (e todos aqueles que viram ao vivo) com a mensagem que quis passar ao cantá-la: na Ilha de Marajó, localizada no Pará, perto de Belém, existe exploração sexual infantil e tráfico de órgãos.

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A apresentação da cantora aconteceu na sexta-feira, 16 de fevereiro, na semifinal do concurso de música evangélica intitulado de “Dom Reality”, que passa no Youtube, segundo o jornal brasileiro “O Tempo”. Na letra da música interpretada por Aymeê consegue-se ouvir a artista a cantar “Enquanto isso, no Marajó, o João desapareceu esperando os ceifeiros da grande seara. A Amazónia queima, uma criança morre, Os animais se vão, superaquecidos pelo ego dos irmãos”.

No final da atuação, Aymeê explicou a denúncia que quis fazer enquanto cantava. "Marajó é uma ilha a alguns minutos de Belém, a minha terra. E lá, as crianças, lá tem muito tráfico de órgãos, é normal. Lá tem pedofilia em nível hard [muito alto] e as crianças com 5 anos, quando veem um barco vindo de fora com turistas, Marajó é muito turística e as famílias lá são muito carentes, as criancinhas saem numa canoa, 6,7 anos, e elas se prostituem dentro do barco por cinco reais", desabafou, claramente emocionada.

Veja a atuação

Durante o discurso final, segundo o jornal “O Globo”, Aymeê também criticou a apatia da população brasileira, dizendo que preferem atirar as culpas para o governo em vez de tratarem daquilo que é da responsabilidade deles. "Jesus me fala que às vezes nós, cristãos, terceirizamos muito para o governo o que é de responsabilidade nossa, como cristãos", concluiu a jovem cantora.

Nas redes sociais, várias foram as celebridades brasileiras que se pronunciaram sobre o assunto. A ex-participante do "Big Brother Brasil", apresentadora e atriz Rafa Kalimann afirmou que o vídeo com a performance de Aymeé "reacendeu" um tema "tão delicado e urgente". "É nosso dever, enquanto pessoas públicas, tomar iniciativa, partido e ajudar a tornar esse caso ainda mais conhecido pelas pessoas”, escreveu numa publicação do Instagram.

Juliette, também ex-"BBB" e cantora brasileira, foi outra das vozes que se manifestou. "Clamamos aos políticos, autoridades e órgãos públicos ações e respostas. Aymeê, sua voz ecoou. Nós estamos juntos. Justiça por Marajó", escreveu.

O Ministério dos Direitos Humanos informou na quinta-feira, 22 de fevereiro, de acordo com o jornal brasileiro "Metrópoles" que algumas ações começaram a ser adotadas na Ilha de Marajó para o combate do abuso e da exploração de crianças. "As ações do Cidadania Marajó contam com apoio das forças de segurança federais, a exemplo da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, do Ministério da Defesa e da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará, no sentido de desarticular redes de exploração, abuso e violência sexual”, destacou o ministro Silvio Almeida, citado pelo mesmo meio de comunicação.

No entanto, esta não foi a primeira vez de que se falou nos casos de exploração sexual infantil e tráfico de órgãos na Ilha do Marajó. Em abril de 2006, de acordo com "O Globo", o bispo emérito de Marajó, Dom José Luiz Azcona, apresentou uma queixa ao governo federal e ao presidente da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial na câmara dos deputados sobre os casos de adolescentes vítimas de exploração sexual em Portel, também na Ilha de Marajó.

O presidente da comissão na altura, Luiz Couto, viajou para o Pará no mês seguinte, e abriu uma investigação para apurar o assunto.  Segundo o "Jornal Extra", citado pelo jornal "O Tempo", vários documentos revelaram o envolvimento de políticos locais nos casos de exploração e tráfico, e dois deles foram acusados de violação. 

Em 2015, o bispo emérito chamou a atenção para novos casos, estes sobre crianças que se ofereciam aos turistas com o consentimento da própria família. Sete anos depois, em 2022, a ex-ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, denunciou a exploração na Ilha durante um culto evangélico, onde chegou mesmo a dizer que crianças na região eram submetidas à remoção de dentes para "facilitar os abusos sexuais", segundo o mesmo meio de comunicação.