Depois de mais de 24 horas em silêncio, os pais de Ana Clara Benevides, jovem de 23 anos que morreu durante o concerto de Taylor Swift da “The Eras Tour” na noite de sexta-feira, 17 de novembro, no estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, Brasil, falaram com a imprensa brasileira sobre o momento difícil. Em conversa com o site “G1”, José Weiny Machado e Adriana Benevides explicaram como receberam a notícia e o que estava planeado para aquela sexta-feira.

Segundo os pais de Ana Clara, divorciados, a jovem tinha combinado com a amiga da faculdade, Daniele Menin, irem juntas ao concerto, e criou um grupo no WhatsApp para relatar tudo sobre o que se estava a passar, já que era a sua primeira viagem de avião, indo de Mato Grosso para o Rio de Janeiro.

José Weiny Machado e Adriana Benevides ficaram com receio por o concerto ser no Rio de Janeiro, devido à violência que existe na cidade, mas uma mensagem de Ana Clara tranquilizou-os. “Mãe, é o show da minha vida”, escreveu a jovem no grupo que criou para comunicar com os pais.

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Depois de trocarem mais algumas mensagens, a mãe da jovem brasileira pediu à filha para ter cuidado, comer e não se esquecer de beber água, ao que a filha respondeu que ia ter tudo em consideração. “Mãe, eu vou comer bastante barrinha de cereal, porque eu vou ficar muito tempo lá. Eu quero ser a primeira da fila, eu quero ficar pertinho dela, mãe”, escreveu Ana Clara. Na sexta-feira, 17, o último contacto com os pais foi às 09h43, quando a jovem disse aos pais que estava a ir para o concerto.

Daniele Menin, amiga de Ana Clara, também falou com o site “G1” sobre o que se passou no momento em que a jovem brasileira desmaiou. "Estava todo mundo suando. Aí, antes de começar o show, algumas pessoas já saíram mal. Não chegavam a desmaiar, mas eles carregaram. Outras saíram meio cambaleando", conta Daniele.

A sexta-feira do concerto foi um dos dias mais quentes no Rio de Janeiro, com temperaturas a chegar aos 40ºC e a sensação térmica a bater nos 60ºC. Os bombeiros contabilizaram mil desmaios durante o espetáculo, para além de várias pessoas terem vomitado e ficado desidratadas. Daniele contou também que no local onde estavam existiam seguranças a distribuir garrafas de água, a pedido de Taylor Swift.

Assim que o concerto começou, foi logo na segunda canção que Ana Clara caiu. "Ela foi caindo em cima das pessoas. Aí eu não sei como eu tive força, botei ela por cima da minha perna e eles puxaram para o outro lado da grade. Eu pulei atrás dela e a gente correu para o posto", disse Daniele. 

A jovem disse que quando chegaram ouviu a médica a dizer “código azul”, o que significa que Ana Clara estaria sem pulso. Os médicos presentes no recinto tentaram reanimar a jovem durante 40 minutos, depois desta sofrer uma paragem cardíaca. Depois de entrarem na ambulância, seguiram até ao hospital e o médico abordou Daniele, dizendo que era melhor contactar a família de Ana Clara. "Aí eu entrei em desespero", recorda.

Foi por volta das 19 horas que o pai da jovem brasileira recebeu a chamada do hospital. José Weiny Machado disse ao “G1” que o médico lhe contou o que aconteceu e que Ana Clara tinha morrido, depois de ter sofrido uma segunda paragem respiratória na ambulância. "Eu não ouvi mais nada. Larguei o celular para lá, minha esposa veio falar comigo. Eu saí andando pela rua. Fiquei atónito, não sabia o que fazia. Tentando não acreditar, como até agora tento não acreditar", confessou o pai. "Ainda não caiu a ficha. É difícil você, porque está vindo buscar a sua filha... E morta. Isso é difícil, difícil, difícil mesmo", disse.

"Minha filha é o meu anjo. Deus a levou, mas levou ela no momento mais feliz da vida, que era só o que ela queria, era isso”, contou Adriana Benevides. “'Mãe, se eu não conseguir ir nesse show, eu morro', ela falou pra mim", acrescentou a mãe de jovem brasileira.

Para além do luto, a família de Ana Clara tem também de lidar com as burocracias de transportar o corpo da jovem de volta para Mato Grosso. "O pessoal do show, que montou, não está dando suporte pra gente trazer ela pra casa. Sei que essas coisas nem passam pelos cantores, os artistas nem ficam sabendo disso. Mas a gente queria que eles dessem o suporte, para trazer ela pra casa. Porque, infelizmente, a gente está arcando com tudo. E a minha filha ainda não chegou", desabafou Adriana com o “G1”

A prefeitura do Rio de Janeiro informou que a responsabilidade pelo sucedido era inteiramente da empresa contratada para realizar o concerto, a Time For Fun, que contactou a família de Ana Clara e lhes ofereceu assistência psicológica. A Polícia Civil, segundo o site, disse que o relatório final sobre a morte da jovem brasileira estaria finalizado num prazo de 30 dias.

Taylor Swift manifestou-se sobre o ocorrido nas redes sociais na sexta-feira, 17, onde publicou um texto escrito à mão. “Eu nem vos consigo dizer o quão devastada estou com isto”, começou por dizer a cantora norte-americana. Depois do momento frágil, Taylor Swift prestou, alegadamente, uma homenagem a Ana Clara no seu segundo concerto no Rio de Janeiro, no domingo, 19. Segundo o jornal “Público”, o concerto de sábado foi adiado para segunda-feira duas horas antes de começar, devido às temperaturas elevadas. Mais tarde, o local onde iriam estar milhares de fãs, o estádio Nilton Santos, foi atingido por dezenas de raios.

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Em lágrimas, a cantora norte-americana de 33 anos apresentou como canção surpresa (algo a que habituou os fãs desde o início, cantando sempre uma canção que não está na lista, diferente em todos os concertos) “Bigger Than the Whole Sky”, música sobre uma dor bastante forte e difícil de suportar. Visivelmente emocionada, Taylor Swift lutava contra as lágrimas enquanto cantava. Apesar de não ter referido o nome de Ana Clara enquanto cantava, as emoções que transmitia fizeram os fãs acreditar que estaria a prestar uma homenagem à jovem brasileira.

Para além da morte de Ana Clara na sexta-feira, 17, também no domingo, 19, um fã da cantora Taylor Swift morreu, desta vez à facada. De acordo com o jornal "DailyMail", Gabriel Milhomen Santos foi morto poucas horas depois de ter assistido ao concerto no estádio Nilton Santos, numa praia, na madrugada de domingo para segunda-feira. O jovem de 25 anos, que tinha feito a viagem de Belo Horizonte para Rio de Janeiro de propósito, estava com duas primas e foi abordado por um grupo, quando estavam na famosa praia de Copacabana para tomar banho.

Segundo as primas, Gabriel estava a dormir quando os três assaltantes se aproximaram, e foi esfaqueado de repente quando acordou a meio do assalto. O grupo levou as chaves do carro e dois telemóveis, mas dois deles foram apanhados mais tarde pela polícia. Alan Ananias Calvacante e Anderson Henriques Brandão tinham sido libertados horas antes do ocorrido, depois de terem sido detidos por roubarem cerca de 80 barras de chocolate. Jonathan Batista Barbosa, o terceiro assaltante com mais 10 crimes na ficha criminal, ainda está em fuga.