Sarah Everard, 33 anos, foi vista pela última vez a 3 de março. Na altura, encontrava-se no apartamento de um amigo em Clapham, Londres, de onde terá saído perto das 21 horas. O regresso a casa, em Brixton, deveria ter demorado entre 30 a 50 minutos, mas esta mulher nunca chegou ao seu destino e teme-se agora que possa ter sido atacada e assassinada brutalmente.

As imagens captadas pelas câmaras de videovigilância espalhadas pelas ruas londrinas mostram-na a caminho de casa num percurso que, sabe-se agora, Everard estava habituada a percorrer a pé.

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E ainda que as autoridades não tenham conseguido confirmar se esta mulher, especialista na área do marketing, terá ou não chegado a Brixton, sabe-se que a conversa com o namorado, ocorrida por telemóvel durante o caminho de regresso, foi desligada às 21h28.

Foi o próprio, aliás, que alertou as autoridades quando, no dia seguinte, a Everard não apareceu no local em que tinham combinado encontrar-se. Desde então, nunca mais ninguém viu Sarah. O telemóvel permanece desligado e foi montada uma megaoperação especial para descobrir o seu paradeiro.

Na quinta-feira, 11 de março, foram encontrados restos mortais na região de Asford, Kent, local a onde foram alargadas as buscas.

O desaparecimento e a descoberta do corpo

"O desaparecimento de Sarah nestas circunstâncias é o o pior pesadelo para qualquer família. Esta tarde [referindo-se à de quinta-feira], as equipas envolvidas nas buscas encontraram aquilo que parecem ser restos mortais", comunicou Cressida Dick, comissária da polícia metropolitana de Londres, no Reino Unido.

Embora numa fase inicial ainda não fosse possível confirmar a identidade do corpo, a confirmação foi dada esta sexta-feira, 12. "O corpo foi recuperado e podemos confirmar com exactidão de que se trata de Sarah Everard", explicou a polícia em comunicado.

A 9 de março já as autoridades inglesas tinham feito duas detenções que significavam, nas palavras do departamento, um "desenvolvimento significativo na investigação". Os principais suspeitos são Wayne Couzens, 49 anos, e uma mulher com cerca de 30 anos — ambos suspeitos de raptar e matar Sarah Everard.

Para que as autoridades inglesas conseguissem identificar os dois primeiros, e principais, suspeitos, apoiaram-se nas imagens recolhidas pela câmara de videovigilância de um autocarro que, no preciso momento em que este se cruzou com o percurso percorrido por Sarah, identificou o carro deste homem nas imediações da localidade.

Não se sabe de que forma é que a mulher suspeita terá ajudado no rapto ou qual a sua relação com Couzens.

O principal suspeito do rapto é um polícia

Couzens, sabe-se agora, é um agente e pertence à unidade especial de proteção parlamentar e diplomática da polícia britânica. Os detetives responsáveis pela investigação acreditam que o ataque terá sido aleatório e que não havia qualquer ligação entre Everard e este homem.

Uma das principais linhas de investigação passa pela ideia de que Sarah terá sido conduzida a afastar-se do percurso que a levaria de regresso a casa, e que terá sido nesse momento que foi atacada, escreve o "The Times", citando fontes próximas da investigação  que estão "a trabalhar sobre a assunção de que Sarah não conhecia o seu agressor".

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Sabe-se também que este homem está envolvido num outro inquérito, depois de ter sido alvo de uma denúncia por parte de outra mulher que o acusa de ter exibido os seus órgãos genitais num restaurante em Londres, escreve o jornal britânico "The Guardian".

Esta quarta-feira, 11, surgiu uma nova atualização às investigações quando a polícia metropolitana de Londres anunciou que o principal suspeito do ataque tinha sido encontrado inconsciente na sua cela depois de ter sofrido uma série de lesões na cabeça.

Detido há dois dias para interrogatório, não se sabe exatamente o que terá provocado as lesões em Couzens. "Não estamos prontos para falar disso", revelou fonte oficial da polícia à imprensa sem adiantar mais. O homem foi de imediato transportado para o hospital, de onde já teve alta. Encontra-se, atualmente, novamente detido e sob forte vigilância policial.

Sarah Everard. O desaparecimento de uma mulher que está a chocar o Reino Unido
Sarah Everard. O desaparecimento de uma mulher que está a chocar o Reino Unido A última imagem de Sarah Everard com vida, quando se preparava para regressar a casa e conversava com o namorado por telefone.

À medida que as investigações avançam, a família de Sarah, que a descreve como uma mulher "ativa", "bonita", "forte" e "incrivelmente bondosa", tem saído à rua para colar cartazes com o seu rosto. A esperança é a de que, pelo menos um cartaz se materialize numa chamada com informações crucias que permitam chegar ao seu paradeiro.

O desaparecimento, que está a chocar o Reino Unido, voltou a trazer para a discussão pública os crimes de ódio contra as mulheres e a insegurança perpétua a que estão sujeitas quando saem sozinhas.

Foi, aliás, a polícia britânica que, numa primeira fase da investigação, aconselhou todas as mulheres que vivessem perto do local onde Sarah foi raptada a não saírem sozinhas.

"Se estiverem a caminhar atrás de uma mulher, mesmo que com alguma distância, passem para o outro lado da rua"

Stuart Edwards, uma mulher que vive a cinco minutos do local do rapto, fez uma publicação no Twitter através da qual pediu uma reflexão sobre os comportamentos que os homens podem ter para reduzir o stresse e a ansiedade de uma mulher que estiver sozinha na rua. A publicação tornou-se viral.

"Além de dar o máximo de espaço possível nas ruas e manter o rosto sempre visível, o que é que os homens podem razoavelmente fazer para reduzir a ansiedade e minimizar o susto [de mulheres que estejam sozinhas, à noite, nas ruas]?", escreveu.

Foram centenas de respostas. "Se estiverem a caminhar atrás de uma mulher, mesmo que com alguma distância, passem para o outro lado da rua. Já alguns homens fizeram isto e tirou-me um enorme peso de cima", diz uma utilizadora. Já outra utilizadora pediu para que, nestas situações, os homens fizessem "barulho".

"Pode parecer tolo, mas se estiveres atrás, nós não conseguimos ver-te. Se fizeres barulho, poderemos saber exatamente onde estás e isso ajuda. Também passa a ideia de que não estás a tentar atacar ninguém por trás", escreve outra utilizadora.

"Se estiveres a caminhar atrás de uma mulher e forem na mesma direção, atravessa para o outro lado da rua e passa-a à frente para que ela te possa ver", diz outra mulher.