A rede social TikTok está cada vez mais próxima de ser proibida nos Estados Unidos da América. A Câmara dos Representantes dos EUA aprovou esta quarta-feira, 13 de março, um projeto de lei que visa banir a aplicação do país, devido às suspeitas de espionagem, se esta decidir não vender a grande maioria dos ativos que tem nos EUA. 

Morreu jovem com cancro que ficou viral no TikTok. "Nunca deixaremos que sejas esquecida"
Morreu jovem com cancro que ficou viral no TikTok. "Nunca deixaremos que sejas esquecida"
Ver artigo

No total, foram 352 deputados democratas e republicanos que votaram a favor da proposta de lei e 65 contra, segundo o jornal “Público”. Agora, para que esta lei realmente entre em vigor, é preciso que o Senado aprove a proposta e, se isso acontecer, esta será enviada para o presidente dos EUA, Joe Biden, para uma terceira e final aprovação.

Se a proposta for aprovada tanto pelo Senado como pelo presidente, a proprietária da aplicação terá 180 dias para a vender — ou deixará de ser possível utilizá-la no país.

Na tarde de quarta-feira, foram vários os manifestantes que estiveram a protestar à porta da Câmara dos Representantes, com cartazes a explicar o porquê de não quererem a aplicação banida, muitos deles a dizer que foi graças ao TikTok que o seu pequeno negócio cresceu. De acordo com um estudo do instituto Pew Research Center, citado pelo meio de comunicação português, 32% dos jovens norte-americanos entre os 18 e os 29 anos usam a rede social como veículo preferencial para se manterem informados sobre a atualidade nacional e internacional, sendo a sua principal fonte de informação. Mas, afinal, porque é que os EUA quer banir o TikTok e qual foi a resposta da aplicação? Entenda a situação.

1. EUA acreditam que a China usa o TikTok para espionagem

A plataforma TikTok cresceu por todo o mundo no início da pandemia e é hoje uma das redes sociais mais utilizadas. Quem a lançou foi a empresa chinesa ByteDance, uma das mais valiosas do mundo, que vê agora a possibilidade de entrar em confronto com os EUA e ser banida do país. Em causa está a acusação, apoiada tanto pelo partido republicano como pelo partido democrata, de que o TikTok representa uma ameaça à segurança nacional dos norte-americanos, de acordo com o jornal "Diário de Notícias", por ser um veículo de propaganda do Governo chinês junto da população dos EUA.

De acordo com um relatório do gabinete do diretor da Inteligência Nacional dos EUA, citado pela "SIC Notícias", o governo chinês utilizou o TikTok para prejudicar os candidatos dos partidos democrata e republicano durante as eleições de 2022, advertindo também que  poderá tentar influenciar as próximas eleições, nas quais o presidente democrata Joe Biden enfrentará  o ex-presidente republicano Donald Trump.

Além disso, os 352 deputados nos Estados Unidos a favor do projeto de lei estão preocupados com as possíveis ligações entre a rede social e as autoridades chinesas, alegando existir um risco de os dados pessoais dos mais de 170 milhões de utilizadores norte-americanos do TikTok serem transferidos para a China.

2. Ou vendem, ou são banidos

O projeto de lei da Câmara dos Representantes dos EUA quer uma de duas coisas: ou a ByteDance vende pelo menos 81% dos seus ativos nos EUA a várias empresas norte-americanas ou a um país aliado, ou as empresas como a Apple e a Google vão ser proibidas de disponibilizar e atualizar a aplicação.

Se esta proposta for aprovada tanto pelo Senado como pelo presidente Joe Biden e se os ativos não forem vendidos num período de seis meses, a ByteDance será obrigada a pagar uma indemnização "equivalente à multiplicação de cinco mil dólares [4575 euros] pelo número de utilizadores" do TikTok nos EUA, segundo o "Diário de Notícias".

"Demos ao TikTok uma escolha clara", disse a deputada republicana Cathy McMorris Rodgers, citada pelo mesmo meio de comunicação. "Ou [o TikTok] se separa da sua empresa-mãe, a ByteDance, que é controlada pelo PCC [Partido Comunista Chinês] e pode manter-se operacional nos Estados Unidos, ou se mantém do lado do PCC e enfrenta as consequências. A escolha é do TikTok", explicou.

3. Qual foi a reação da ByteDance?

A rede social TikTok alertou na quarta-feira, depois do projeto lei ter sido aprovado, para o impacto que a eventual proibição da aplicação nos EUA terá nos seus 170 milhões de utilizadores e na economia do país, nomeadamente em sete milhões de pequenas empresas.

"Este processo foi secreto e o projeto de lei foi aprovado por uma razão: é uma proibição. Esperamos que o Senado considere os factos, ouça os seus constituintes e compreenda o impacto na economia, em sete milhões de pequenas empresas e nos 170 milhões de americanos que utilizam o nosso serviço", afirmou uma fonte do TikTok à Lusa, citada pelo "Diário de Notícias".

O presidente executivo do TikTok, Shou Zi Chew, publicou um vídeo na plataforma sobre a aprovação do projeto de lei, explicando que ao longo dos anos sempre investiram em "manter os dados de todos os utilizadores seguros" e "livre de manipulações". "Nós comprometemo-nos e vamos continuar a fazê-lo. Esta legislação, se for aprovada, vai realmente banir o TikTok dos EUA. Até admitem que é esse o objetivo final, e nós sabemos o quanto o TikTok é importante para alguns de vocês", disse o presidente executivo. "Nós não vamos parar de lutar e de lutar por vocês", acrescentou.

4. China diz que aprovação é um tiro no próprio pé

O governo chinês afirmou que esta posição contra a aplicação do TikTok nos Estados Unidos é uma intimidação, e que acabará por "sair o tiro pela culatra" aos EUA. A proibição da aplicação "perturba as operações comerciais normais, prejudica a confiança dos investidores internacionais no ambiente de investimento e destrói a ordem económica e comercial internacional", disse o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin, citado pela "SIC Notícias".

Numa conferência de imprensa, Wenbin acusou os EUA de não "competirem de forma justa" e de "nunca terem encontrado provas de que o TikTok ameaça a sua segurança nacional". "Os EUA vão acabar por sentir as consequências desta decisão", acrescentou, segundo o "Público".