À partida, somos levados a pensar que o ser humano só funciona com o cérebro completo, certo? Aparentemente não e até a ciência se espanta com este facto.
Um estudo — publicado a 19 de novembro na revista científica "Cell Reports" — indica que é possível um ser humano funcionar de forma plena apenas com metade do cérebro. A investigação foi realizada com seis participantes que passaram por um processo de hemisferectomia — um método que remove um dos hemisférios cerebrais durante a infância para tratar de um tipo raro de epilepsia quando os medicamentos não resultam. O neurocientista Dorit Kliemann, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, que fez parte da equipa, revela que se esquece da condição dos pacientes quando os encontra pela primeira vez. "Quando me sento em frente ao computador e vejo estas imagens de ressonância magnética a mostrar apenas metade do cérebro, ainda me surpreendo que as imagens sejam provenientes do mesmo ser humano que acabei de ver conversar e andar", como escreve o site "Science Alert".
A investigação analisou a forma como o cérebro humano realiza várias tarefas, mesmo com a metade ausente. Kliemann e a sua equipa compararam exames de ressonância magnética de seis participante com metade do cérebro removido com o de seis pessoas que têm o cérebro completo — juntamente com um banco de dados com 1482 cérebros digitalizados para o Projeto de Superestrutura da Genômica Cerebral. Descobriram que a atividade dos cérebros era muito idêntica e os participantes que apenas tinham uma metade inteira a trabalhar, ainda apresentavam mais conexão entre as redes cerebrais, que controlam fatores como a atenção, atividades sensoriais e límbicas — responsáveis pela emoção e memória— e que envolvem os dois hemisférios. "É realmente incrível o que estes pacientes podem fazer. Sim, eles têm desafios, mas as suas habilidades cognitivas ainda são notavelmente altas, tendo em conta que lhes falta metade do tecido cerebral", explicou Kliemann segundo o site "Science Alert".
O aumento nas conexões entre redes mostra como a parte do cérebro presente compensa a que está em falta, de forma a manter a função cognitiva e a consciência, como explicam os investigadores.
Mais? Estudos publicados da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos revelam que as conexões entre as redes são essenciais para as habilidades executadas. Marlene Behrmann, neurocientista da Universidade Carnegie Mellon, não participou no estudo, mas disse ao jornal "The New York Times", que "as suas redes cerebrais parecem ser multitasking [conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo]", como escreve o site "Science Alert".
No entanto, os investigadores do estudo indicam que a amostra com apenas seis cérebros é ainda muito pequena para poderem estabelecer conexões entre as diferenças na atividade cerebral específicas ou analisar a cognição com base no QI. Por esta razão, em pesquisas futuras, a equipa pretende analisar de que forma as redes cerebrais funcionam para compensar a restante parte do cérebro em falta em tarefas especificas. E acreditam que até pode ajudar a descobrir tratamentos para outras lesões cerebrais."Por mais notável que haja indivíduos que possam viver com metade do cérebro, às vezes uma lesão cerebral muito pequena, como um derrame ou uma lesão cerebral traumática como um acidente de bicicleta ou um tumor pode ter efeitos devastadores", assume Kliemann .