O maravilhoso e intrigante mundo do cérebro é o mote da nova exposição da Gulbenkian. "Cérebro: mais vasto que o Céu" chega à Galeria Principal da Fundação Calouste Gulbenkian este sábado, 16 de março, e por lá vai ficar até 10 de junho. Com o objetivo de incentivar ao diálogo sobre o principal órgão do nosso corpo, a exposição não procura um abordagem meramente científica, adotando pelo contrário uma perspetiva de diálogo e procura de harmonia entre áreas como a arte, a história, a ciência e a tecnologia.
Esta quinta-feira, 14 de março, a MAGG esteve na visita pré-inaugural de "Cérebro: mais vasto que o céu". Na companhia do especialista Rui Oliveira, neurobiólogo comportamental, fizemos a visita guiada pela exposição, que está dividida em três módulos: o primeiro remete-nos para a história da origem do cérebro; o segundo leva-nos a reconhecer complexidade e o mistério em torno da sua atividade; e o terceiro conduz-nos até às suas potencialidades de evolução e desenvolvimento, principalmente através da processos e mecanismos de inteligência artificial.
Apesar de existirem três peças centrais que fazem a ligação entre cada módulo da exposição, os visitantes podem criar os seus próprios percursos dentro da exposição. Só não pode mesmo é de deixar de ver estas 7 instalações que lhe mostramos de seguida — são imperdíveis.
1. Olhar o cérebro num espelho ao som de Rodrigo Leão
É a instalação de vídeo que abre a exposição, e que nos proporciona uma experiência imersiva, emocional e sensorial, levando o nosso cérebro a olhar-se e perspetivar-se enquanto cérebro. Tal e qual como um espelho, a obra “Self-reflected” do artista e neurocientista americano Greg Dunn transporta-nos para uma viagem introspetiva e contemplativa, repleta de cores e vibração. As imagens reproduzidas pela “câmara-escura” têm cerca de três minutos de duração, e são acompanhadas por um ambiente sonoro expressamente criado para a instalação pelo compositor Rodrigo Leão.
2. Um neurónio com 12 metros de comprimento
Esta é a peça que irá fazer a ligação entre o primeiro e o segundo módulo da exposição, ilustrando um neurónio gigante com 12 metros de comprimento suspenso no teto, que dispõe de sensores que respondem aos estímulos dos visitantes, simulando uma sinapse (elo de ligação neurónios) na direção do terceiro módulo da exposição. É sem dúvida a peça maior e mais estimulante de um ponto de vista físico e visual.
3. Papiro cirúrgico com cerca de cinco mil anos
Neste papiro cirúrgico de Edward Smith, encontrado no Egito e com cerca de cinco mil anos, descreve-se o cérebro com grande pormenor anatómico, e revela-se um caso de perturbação da fala, associado a uma lesão temporal. Curiosamente, nesta época o órgão associado à mente era o coração, sendo que nos processos de mumificação era o único a ser preservado no corpo. Os restantes ficavam em vasos funerários. O cérebro era descartado e visto como irrelevante para a vida humana. Ideal para quem nunca teve oportunidade de ver ao vivo uma relíquia de tempos tão antigos.
4. Um quadro de Bridget Riley
A obra “Metamorphosis” da artista Bridget Riley que faz parte da coleção do Museu Gulbenkian, é um verdadeiro marco da corrente artística OpArt, e irá deixar os cérebros dos visitantes a vibrar, com os efeitos de ilusão ótica tão bem demarcados. Ao desafiar a nossa perceção espacial e sensorial, este é um dos elementos do mundo da arte escolhidos para contracenar com as restantes instalações científicas e tecnológicas de carácter mais factual. É uma verdadeira viagem cerebral.
5. Ouvir as suas ondas cerebrais
Esta é a peça que promete a ligação entre o segundo e o terceiro módulo, fazendo-nos recordar a instalação “Self-reflected” apresentada na abertura da exposição. A "Orquestra de Cérebros" é uma instalação multimédia na qual quatro visitantes têm a oportunidade de visualizar e escutar, em simultâneo, a atividade das suas ondas cerebrais. Os sinais captados por cada headset (capacete) são projetados numa tela de grandes dimensões, e representam a atividade cerebral através de imagens e sons dos seus próprios cérebros.
Existe um som de base que foi produzido e desenvolvido por Rodrigo Leão, sendo que consoante a intensidade da atividade cerebral de cada visitante, serão sobrepostos novos sons associados a essa mesma experiência. Manifesta-se aqui também um objetivo de descoberta interior, relaxamento e contemplação.
6. Robôs que pintam telas em tempo real
Segundo Leonel Moura, “o artista não deve controlar a obra, deve deixá-la ser independente”. Foi isso que fez: os cinco robôs de Leonel Moura pintam telas em tempo real durante todo o período de exposição, e segundo o artista, “eles também descansam quando acaba a bateria, e querem que lhes deem de comer”. No entanto, no dia seguinte estes robôs recomeçam a pintura no ponto em que estavam, e não do início como seria de esperar. Será que as máquinas também podem ser criativas? Será que robôs a pintar telas são arte?
“Este é o meu papel enquanto artista”, refere Leonel Moura, “criar o debate”. O algoritmo que desenvolveu tinha como fim conferir a maior autonomia de decisão para os robôs, e foi curiosamente criado a partir do comportamento animal das formigas e não dos humanos. “Os robôs trabalham em total cooperação, observando-se mutuamente através de múltiplos sensores que os impedem de chocar, e que lhes permitem tomar decisões sobre onde irão colocar o próximo traço”.
7. Crie um cérebro coletivo através das redes sociais
Por fim, a última obra da exposição apela à criação de um cérebro coletivo através de uma instalação multimédia associada a uma base de dados, que tem como fim recolher todas as fotografias públicas no Twitter ou Instagram utilizando o hashtag #collectivebrainx. Recorrendo a um sistema de inteligência artificial, as melhores fotografias serão colocadas num mosaico dinâmico, refletindo o que cada um de nós sente que melhor representa o cérebro humano. A proposta é do artista e cientista ALAgrApHY.