Não querem um trabalho para a vida, renegam estruturas rígidas e não sonham com aquilo que a geração anterior sonhava. O contexto económico que os recebeu na vida adulta mudou o paradigma dos desejos. Não querem casa comprada, família numerosa ou casamento celebrado. Preferem uma vida mais flexível e valorizam mais as experiências. Rompem com os preconceitos, defendem a igualdade e o livre arbítrio. Vivem num mundo acelerado, em que tudo é instantâneo. Estão sempre ligados porque, apesar de terem visto televisão, cresceram ao passo do avanço tecnológico.

Fazem parte da geração millennial — ou geração Y — aqueles que nasceram entre a década de 80 e 2000, um período de transição entre a televisão e o telemóvel, entre a compra de casa e o arrendamento, entre os produtos processados e os orgânicos, entre o preconceito e a queda de tabus.

Não há mortes absolutas, mas há transformações em curso. A MAGG reuniu 12 alterações provocadas pelos contextos em que esta geração cresceu.

Sexo

Um estudo realizado pela University College London, no Reino Unido, que acompanhou desde os 14 anos 16 mil pessoas que nasceram entre 1989 e 1990, concluiu que oito em cada 26 millenials são virgens até aos 26 anos. O resultado vai ao encontro de outra investigação, realizada em 2017 e publicada na revista Behavior, que recebeu 26.707 respostas: 15% dos participantes com 24 anos ainda não tinha tido relações sexuais. Em causa poderá estar a banalização do sexo e da sexualidade. Desta estimulação constante nascem medos e receios, porque se criam elevadas expectativas quanto à performance. A média de parceiros sexuais tem vindo a descer: na década de 60 a média era de 11 parceiros por pessoa, na de 70 dez por individuo e oito após os anos 80.

O contacto humano e o flirt pessoal

Este ponto está relacionado com o anterior. Com as novas tecnologias, os millennials contactam mais por via tecnológica do que pessoal. Trocam-se mensagens de cariz sexual, mesmo antes de se verem. As amizades criam-se e fortalecem-se através de janelas de chat, de memes trocados, de comentários e de likes. O contacto humano, sem ecrãs e quilómetros pelo meio, está a cair e é visto com normalidade pela geração Y — ao contrário da anterior, que continua a achar a alteração do paradigma esquisita. Como diz Justin Garvia,do Instituto Kinsey, nos Estados Unidos, com a geração Y, "os sentidos e a linguagem corporal estão a perder terreno para o contacto digital".

As relações e o casamento

Publicados pela aplicação de encontros Tinder, e conduzidos pela Morar HPI, dados de uma investigação mostram que 62% dos millennials — sobretudo mulheres — escolheu estar sozinha.

Preferem uma vida amorosa, sem compromissos, tanto que 78% dos inquiridos revelou que estar sozinho foi uma escolha consciente e 81% concordou que estar solteiro os beneficiava mais do que estar numa relação, porque sentem que há mais espaço para se dedicarem ao trabalho, às amizades e ao bem-estar pessoal.

25% das mulheres revelaram que, sem ninguém, se sentiam mais concentradas nas suas vidas, o que também lhes acrescia uma sensação de poder. Nos homens, os números são mais baixos: apenas 17% preferiam concentrar-se exclusivamente na sua vida e só 47% decidiram estar conscientemente solteiros.

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O ceticismo

De acordo com as conclusões de um estudo levado a cabo pelas consultoras Multidados e CH Business Consulting, em 2017, que incluiu um inquérito a cinco mil millennials (portugueses, espanhóis, franceses e ingleses), com idades entre os 18 e os 34 anos, a geração Y é otimista. Acreditam que a sociedade pode ser mais justa e levam a sério o seu papel como cidadão. Apesar de um contexto económico mais frágil, confiam que vão ter sucesso na vida, ainda que na Península Ibérica o nível de satisfação seja inferior ao de França.

O trabalho das 9h às 18h, no escritório

Dados do mesmo estudo mostram que a geração Y é mais flexível. Três em cada cinco inquiridos preferem não seguir horários rígidos, com hora de entrada e de saída, porque isto é uma coisa desatualizada. 77% dos inquiridos revelaram gostar mais de trabalhar fora da empresa, ainda que apenas 67% dos portugueses tenham indicado que preferiam trabalhar remotamente.

A televisão

Diziam os The Buggles que a televisão tinha matado a rádio. Agora é a vez de dizermos que a internet e os serviços de streaming mataram a televisão, pelo menos na geração dos millennials, uma vez que os baby boomers, nascidos entre meados da década de 40 e 60,  ainda são adeptos deste ecrã.

Um relatório de novembro de 2018, da eMarketer, descobriu que 64.2 milhões de pessoas nascidas entre 1981 e 1996 veem vídeo através de streaming ou download, pelo menos uma vez por mês. Por outro lado, e num número inferior, 59 milhões veem televisão, pelo menos, uma vez por mês. Conclusão: 9% dos millennials preferem o streaming à TV.

Os preconceitos

Os direitos LGBT, a legalização do aborto, das drogas leves e da eutanásia. A geração Y é aquela em que vários preconceitos começam a cair. Está em consonância, sobretudo, em relação à eutanásia: em França 99% dos inquiridos defendeu a morte assistida — em Portugal este número desceu para 88%. Segundo o estudo da Multidados e CH Business Consulting, 85% dos millennials defende que os homossexuais têm os mesmos direitos relativamente à família e, na mesma percentagem, apoiam também a interrupção voluntária da gravidez. São também mais aqueles que apoiam a legalização das drogas leves, ainda que os jovens portugueses desta geração não estejam bem alinhados com os restantes, porque mais de metade não concorda com este último ponto.

A calma

Se, por um lado, são otimistas, por outro, vivem numa bolha de stresse. É uma geração que sofre mais de perturbações do foro mental, como depressões e ansiedade. Vivem num mundo rápido e competitivo. Põem mais pressão no bom desempenho das suas tarefas, são mais perfeccionistas e, ao mesmo tempo, têm estruturas de vida mais instáveis. Gostam de conviver e estão sempre ligados, restando-lhes pouco tempo para se focarem apenas em si. Um estudo da BDA — Morneau Shepbell, de 20015, revelou que um em cada cinco millennials, nos Estados Unidos, sofriam de depressão.

O Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental, realizado em Portugal, em 2010, revelou que as perturbações psiquiátricas em Portugal são um problema de larga abrangência na população adulta — mais de um em cada cinco dos inquiridos apresentou uma perturbação psiquiátrica no ano anterior. Destas doenças, a ansiedade surge em primeiro lugar, seguindo-se as de controlo de impulso por abuso de substâncias.

A habitação própria e as casas grandes

A geração Y mudou o paradigma do mercado imobiliário. Procuram casas mais pequenas — entre T1 e T2 — e preferem arrendar. De acordo com um estudo realizado pela imobiliária Century 21Portugal, 65% dos jovens preferem o arrendamento, face aos 34,4% que pretendem comprar casa. 61% preferem casas nos centros urbanos, enquanto 40% preferem estar junto do local de trabalho, sendo que apenas 31,3% mostrou preferir viver em áreas residenciais. 78% querem casas com rendas até aos 600€, sendo que só 19,5€ paga valores acima disto, até aos 1000€.

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As dietas cheias de processados

Comida saudável já não significa low-carb ou light. Os millennials querem uma alimentação mais orgânica, natural, sustentável e menos embalada, segundo o  Department of Agriculture dos Estados Unidos. Estima-se que 60% exijam alimentos que não tenham sido geneticamente modificados — característica presente nos ingredientes de cerca de 70% dos alimentos processados. Por outro lado, também faz parte das preferências de 55% dos jovens inquiridos para este relatório, de 2017, a conveniência, sendo que gastam mais do que a geração anterior em comida pronta a levar. Não querem ter muito trabalho e valorizam os alimentos práticos.

O álcool

E se a tendência vai ao encontro de estilos de vida mais saudáveis — com contas de Instagram a mostrarem smoothies, a celebrar os dez quilómetros de corrida percorridos ou o estado de mindfulness promovido pelas práticas de yoga e meditação — então é natural que o álcool tenha perdido terreno — face à geração anterior, atenção. Foi esta uma das conclusões do National Drug Strategy Household Survey, em 2016. Além disso, esta é uma geração que valoriza experiências o que poderá levar a uma contenção de gastos financeiros em prol de viagens, restaurantes bons, workshops, cursos e outras atividades culturais, como espetáculos.

De acordo com a empresa ligada a viagens, a Expedia Media Solutions, os millennials são a geração que mais viaja, sendo capazes de abdicar de uma série de outras atividades. Segundo o estudo, que envolveu 1500 pessoas com idades dos 18 aos 35 anos, 73% dos inquiridos abdicaria do álcool e 77% do café para viajarem. 80% abdicava da sua conta de Netflix pela mesma atividade.

As marcas de comida de animal tradicional

A preocupação estende-se aos animais de estimação, a quem dão comida mais cara e com níveis de qualidade mais elevados. Como consequência disto, marcas tradicionais como a Pedigree ou Purina estão a ter problemas, porque as vendas desceram, segundo o que revelou um relatório do "The Wall Street Journal".