Frederico Pinheiro fez o seu depoimento na comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP (CPI) esta quarta-feira, 17, onde prestou algumas declarações polémicas. Esta quinta-feira, 18 de maio às 17h30, é a vez de João Galamba relatar os acontecimentos da sua perspectiva e enfrentar a controvérsia que se prolonga há cinco meses.

Da sua audição à comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP (CPI) esperam-se alguns esclarecimentos sobre as inconsistências que dizem respeito à demissão do ex-adjunto, à intervenção do SIS para recuperar o computador e à origem de tudo isto: a reunião preparatória com os deputados do PS e a ex-CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener

No mesmo dia de Frederico Pinheiro, a 17 de maio, foi ouvida a chefe de gabinete do ministro, Eugénia Correia. Eis as principais dúvidas que surgiram com as duas audições e eventuais pontos a esclarecer por parte de João Galamba.

1. Como surgiu a reunião preparatória da ex-CEO?

As acusações viajam de uma figura política para a outra. João Galamba começou por garantir que a TAP não tinha sido convidada para a reunião com o grupo parlamentar do PS. Mais tarde, foi divulgada uma conversa de WhatsApp entre o ministro das Infraestruturas e Frederico Pinheiro, na qual o ministro consentia a presença da ex-CEO da TAP nessa mesma reunião.

Frederico Pinheiro relatou ao pormenor, na sua audição, a ordem de acontecimentos até à reunião que espoletou esta polémica. O ex-adjunto detalhou que foram os deputados do PS a abordar inicialmente o ministério com a ideia da reunião, abordagem à qual João Galamba terá pedido ao adjunto na altura para confirmar, caso o grupo parlamentar do PS considerasse necessária. Ainda na troca de emails, concluíram que sim. Fica por confirmar esta versão de Frederico Pinheiro e ainda quem convidou a ex-CEO da TAP a estar presente.

2. O que aconteceu às notas tiradas na reunião?

Frederico Pinheiro contou que foi despedido em chamada com João Galamba. A razão? Na versão de Galamba, o ex-adjunto terá resistido enviar as notas da reunião de 17 de janeiro (com a ex-CEO da TAP), solicitadas pela CPI – notas essas que comprovariam o ensaio de perguntas e respostas de Christine Ourmières-Widener com o grupo parlamentar do PS.

Na audição de Frederico Pinheiro, o mesmo confirmou que já tinha reforçado a existência das notas ao ministro das Infraestruturas, e afirma que houve uma tentativa por parte do ministro de impedir que as notas fossem submetidas e divulgadas. Esta declaração surge também no âmbito da alegada limpeza de mensagens que sofreu no seu telemóvel por parte do ministério. O ex-adjunto acrescentou, ainda, que foi a sua motivação de divulgar as notas que causou a sua exoneração a 26 de abril.

Eugénia Correia contradisse a versão de Frederico Pinheiro na sua audição, quando afirmou que o mesmo dizia que “não se lembra do que aconteceu, não tem notas e não se lembra de pessoas que estiveram presentes”, ainda sobre a reunião de preparação com a CEO da TAP na altura da polémica. “As notas foram remetidas após um pedido de prorrogação de prazo nunca havendo a intenção de esconder notas, que até 24 de abril nem eu própria nem o senhor ministro sabia existirem”, alega também a chefe de gabinete.

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3. O que aconteceu no episódio do Ministério?

O discurso público de João Galamba, apoiado por António Costa, ditava que Frederico Pinheiro teria sido fisicamente agressivo no episódio do computador no Ministério das infraestruturas. Bicicletas a voar e vidros a partir foram duas das descrições feitas pelos ministros.

Na audição de Frederico Pinheiro, este contra-argumentou dizendo que não só não foi agressivo, como ainda foi o agredido no meio da situação. “Não agredi ninguém, libertei-me em legítima defesa e chamei a polícia”, assegurou o ex-adjunto. Fica também por sustentar a versão de Frederico Pinheiro sobre o seu alegado sequestro, bem como a tentativa de “roubar” o computador.

A esta polémica adiciona-se ainda a acusação feita por Frederico Pinheiro no momento da sua exoneração, por telefone: o mesmo afirma que João Galamba o ameaçou fisicamente. Na audição de 18 de maio, espera-se saber o testemunho de Galamba sobre o sucedido.

4. Qual foi o papel do SIS na controvérsia? E foi legal?

Os Serviços de Informações de Segurança (SIS) também estão envolvidos na polémica, em concreto se o recurso a estes serviços foi justificado, ou sequer legal.

Eugénia Correia garantiu ter recebido ordens para chamar o SIS e justificou, alegando que se tratava de um crime, em referência ao roubo do computador. Contudo, a chefe de gabinete afirmou que Galamba não autorizou a chamada feita pelo SIS a Frederico Pinheiro, e acrescentou que o ministro não teve conhecimento do sucedido até mais tarde. Esta declaração contradiz a de Galamba em conferência de imprensa, que afirmou ter tomado a decisão em conjunto com a sua chefe de gabinete e com o gabinete de António Costa.

Fora as contradições, levanta-se outra questão ainda mais séria: a intervenção do SIS foi legal? Segundo Frederico Pinheiro, o mesmo foi abordado por um agente do SIS, primeiro via chamada e depois numa deslocação à sua residência para recuperar o computador. A opinião de peritos parece ser unânime, consoante este artigo do “Público”: o agente não tinha o direito de tomar esta abordagem (de persuasão a um cidadão). Acrescentam que as suas competências se limitam a “recolher, processar e difundir informações no quadro da Segurança Interna, nos domínios da sabotagem, do terrorismo, da espionagem”, como está explícito no site dos Serviços.

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5. João Galamba fica por aqui?

De olhos postos no futuro, os partidos políticos (à exceção do PS) demonstraram o seu desagrado face à polémica que envolve o ministério liderado por Galamba nos últimos cinco meses. O presidente da República também já deixou clara a sua visão: João Galamba não tem condições para permanecer no cargo.

Relembre-se que foi António Costa que impediu a demissão do ministro das Infraestruturas, mesmo considerando a perspetiva do presidente da República, situação que criou um ambiente de discórdia sem precedentes entre chefe de governo e chefe de Estado. Resta saber se o primeiro-ministro mantém a sua posição e se João Galamba volta a apresentar a demissão como no início deste mês de maio.

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