O nome de João Galamba e a palavra polémica podem andar de mãos dadas nos últimos tempos, mas o culminar aconteceu esta terça-feira, 2 de maio, quando o atual ministro das Infraestruturas apresentou a sua demissão a António Costa, o primeiro-ministro português.
Mesmo depois de uma conversa com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, onde este terá explicado ao primeiro-ministro que João Galamba não teria condições para continuar no governo, referiu o jornal "Expresso", António Costa não aceitou a demissão apresentada por Galamba. Este continua então em funções no atual executivo por vontade do primeiro-ministro.
A dissolução do governo faz parte da conversa, as polémicas multiplicam-se. Mas como é que chegamos aqui? E, mais importante, o que é que vai (ou pode) acontecer no seguimento desta iminente crise política? Entenda tudo em 14 pontos.
Como é que chegámos ao cenário atual?
- João Galamba teve uma reunião preparatória da audição de Christine Ourmiéres-Widener, CEO da Transportes Aéreos Portugueses (TAP), na comissão parlamentar de Economia. Esta audição vem no seguimento da polémica associada à TAP desde o ano passado, relata o "Eco";
- O Ministério das Infraestruturas “desmente que a TAP tenha sido convidada para uma reunião com deputados do PS”. Alega que foi a TAP que demonstrou interesse em participar e o ministro João Galamba não se opôs, explica a RTP Notícias;
- Continua por determinar quem tomou iniciativa para marcar a reunião, onde foi confirmado que os presentes ensaiaram as perguntas e respostas para a audição da CEO da TAP no dia seguinte, avança o “Público”;
- A audição resulta no despedimento de Christine, mas a agora ex-CEO da TAP considera ilegal a forma como o processo aconteceu, como pode aprofundar no “Observador”. Continua em funções até agora, confirma a SIC Notícias;
- Entretanto, Frederico Pinheiro, até então adjunto do ministro João Galamba, foi acusado de omitir a existência das notas da reunião entre a ex-CEO da TAP, Christine Ourmiéres-Widener, e o grupo parlamentar do PS durante dois meses;
- A polémica sobre a reunião e consecutiva entrega de documentos à comissão parlamentar de inquérito sobre a TAP levou ao despedimento de Frederico Pinheiro, explica a SIC Notícias;
- Os dois políticos têm versões diferentes do que aconteceu. Frederico Pinheiro enviou um comunicado de imprensa às redações, no qual não só contradizia João Galamba, como o acusava de querer omitir as notas tiradas na reunião com a ex-CEO da TAP à comissão de inquérito;
- Uns dias depois, dirigiu-se ao Ministério com o objetivo de levar um computador que era propriedade do Estado e agrediu duas pessoas que, alegadamente, o tentaram impedir, refere o Sapo;
- João Galamba discursou para o País com uma mensagem focada no incidente que decorreu no Ministério das Infraestruturas, deixando por esclarecer a controvérsia associada à reunião;
- O “Presidente explicou ao primeiro-ministro que João Galamba não tem condições para continuar” no Governo, porque “o que se passou naquele Ministério, incluindo o recurso ao SIS, põe em causa a credibilidade do Estado”, conta o "Expresso", sobre uma chamada entre os dois políticos no sábado, dia 29 de abril;
- Depois de uma longa reunião na terça-feira, João Galamba comunicou o seu pedido de demissão, reforçando que o faz “no atual quadro de perceção criado na opinião pública”, como está indicado na SIC Notícias. Uns minutos depois, o primeiro-ministro declara que não aceita a sua demissão;
- António Costa admite, num comunicado de imprensa transmitido pela SIC, que se trata de um “deplorável incidente ocorrido no ministério das Infraestruturas” e que tem “consciência de que a demissão do ministro das Infraestruturas é insistentemente reclamada pela unanimidade dos comentadores e pela generalidade dos agentes políticos". Mas, ainda assim, não aceita o pedido de demissão de João Galamba;
- Sobre um possível “braço de ferro entre o primeiro-ministro e o Presidente da República, Costa assegura que é normal terem “posições divergentes”.
O que pode acontecer a partir daqui?
"Não saiu bem aos olhos dos portugueses a ideia de haver uma iniciativa reunindo deputados, Governo e gestão da TAP para preparar o que seria a intervenção parlamentar", disse Marcelo Rebelo de Sousa ao “Diário de Notícias”.
Quando questionado sobre a possível dissolução do Governo, António Costa afirmou, a partir de São Bento, que não faz especulações. Já o Presidente da República demonstrou estar confiante ao desafiar a oposição a reunir números até terem uma "realidade suficientemente forte para os portugueses dizerem: no futuro, temos esta alternativa".
No que diz respeito à TAP, Fernando Medina, ministro das Finanças, garante que "apesar da "conjuntura, por mais significativo e relevante que seja, [...] nem o valor da empresa nem o processo de privatização fica beliscado por isso", referindo-se às polémicas com o Ministério das Infraestruturas, relata a SIC Notícias.