"Psychotic Nerd" era o nome de utilizador que João, estudante de engenharia informática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 18 anos, usava na darkweb. Pretendia executar um assassinato em massa e, se não fosse a detenção atempada da Polícia Judiciária, esta sexta-feira, 11 de fevereiro, teria matado vários colegas de faculdade, com recurso a facas, a uma besta (arco e flecha), garrafas de gás e até de gasolina.

O que leva um jovem a planear um ataque? Quais os sinais de alarme? Falámos com especialistas
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João foi detido e encontra-se em prisão preventiva. No entanto, não foi preciso qualquer confissão para desvendar a estratégia por detrás do ataque. O jovem anotou os passos ao pormenor, com o intuito de executar o plano durante a realização de exames. E tinha o atentado meticulosamente planeado, desde o minuto em que entrava até à hora da fuga. Se tudo corresse conforme tinha idealizado, o massacre teria a duração de apenas cinco minutos e mataria "o maior números de colegas possível".

João foi "traído" por um americano com quem partilhou o plano

O jovem participava e intervinha regularmente em grupos da darkweb, um lado oculto da internet, que assumiam fascínio por tiroteios em massa contra alvos indiscriminados e escolas. Foi aí que terá revelado a um dos membros que pretendia fazer um atentado numa universidade de Lisboa, adiantando que já tinha armas para o fazer. Confessou ainda que era estudante dessa universidade e terá, segundo o "Diário de Notícias", justificado a sua intenção por se sentir injustamente acusado de plágio.

E foi um membro norte-americano da darkweb quem denunciou ao FBI (polícia federal dos EUA). À PJ chegou o alerta de que um utilizador com o nome de utilizador "PsychotycNerd" ('cromo' psicótico), revelara o plano do atentado para matar o maior número de colegas possível na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

O alerta chegou na sexta-feira, dia 5 de fevereiro, e a PJ localizou-o na quarta-feira, 9. As escutas e vigilância de quarta-feira levantaram alarmes e as buscas arrancaram às primeiras horas de quinta-feira, 10. Já são conhecidos todos os detalhes da estratégia do jovem, divulgados pelo "Correio da Manhã".

5 minutos de massacre e uma fuga de autocarro

No plano manuscrito tanto em português como em inglês, tinha detalhes como uma saída de casa, nos Olivais (Lisboa) — onde o jovem, natural da Batalha, residia —, às 15h00 uma paragem no centro comercial, onde às 15h15 estaria a comprar um isqueiro. Indicações como "preparar tudo para amanhã" e, às 17h00, "comer", denunciam que planeava tudo, há meses.

Esta sexta-feira, 11, dia que marcara para o massacre, deveria acordar às 08h00. Às 12h00 apanhava o autocarro para a faculdade, esperava que os colegas iniciassem às 13h00 os exames e, escondido no WC, aguardava até à hora prevista para o ataque.

O massacre estava marcado para as 13h20, no bloco C3, piso 1, salas 9, 11, 15 ou 16, onde decorreriam os exames de melhoria de nota na cadeira de Programação, curso de Engenharia Informática. O plano seria usar gás e combustível para engenhos artesanais explosivos ou incendiários, que não matariam ninguém, mas fariam com que os alunos e professores corressem para os corredores, onde ele os esperaria com a "faca preferida de 20 centímetros" e a besta.

A ataque terminaria às 13h25, teria a duração de cinco minutos, e a fuga estaria programada em prol do horário do autocarro que João escolhera como transporte para fugir do local.

Afinal, quem é o João?

É natural da aldeia da Lapa Furada, concelho da Batalha, e tem 18 anos. Até ao ano passado, era lá que vivia, com os pais e um irmão mais velho. É aluno do primeiro ano do curso de Engenharia Informática da Universidade de Lisboa. Vivia nos Olivais, na zona oriental da capital portuguesa, numa casa partilhada com outros estudantes.

Na terra de onde é natural, é conhecido por andar sempre sozinho, pela timidez e por, de acordo com a família, sofrer de Asperger (perturbação do espectro do autismo). Condição pela qual foi alvo de bullying durante anos, tanto na faculdade como na Batalha.

"Estou surpreendido pela maneira como ouço falar do meu neto. Ele estava sempre em casa, no computador", lamentou esta sexta-feira, 11, o avô, Fernando Carreira, referindo que o neto "tem uma doença" que lhe afeta a fala. E, por isso, João era mais reservado e "falava menos com as outras pessoas", assumiu o familiar, de 89 anos, em declarações ao "Correio da Manhã".

A PJ acredita que João iria ser o primeiro homicida em massa português, mas o ataque planeado para a sua universidade foi travado e o jovem encontra-se, neste momento e até ordem judicial em contrário, em prisão preventiva, indiciado por crimes de terrorismo e posse de arma proibida.

Ainda assim, o advogado do jovem já anunciou que vai recorrer da prisão preventiva aplicada pela juíza após o interrogatório no Tribunal Central de Instrução Criminal, cuja data ainda não é conhecida.