Esta quarta-feira, 2 de dezembro, marca o sexto dia de greve de fome dos nove empresários do setor da restauração e da noite em frente à Assembleia da República, em Lisboa. O grupo de manifestantes, que fazem parte do movimento Sobreviver a Pão e Água, encontra-se em São Bento desde sexta-feira passada, 30 de novembro, e exigem ser recebidos pelo primeiro-ministro, António Costa, ou por Siza Vieira, ministro da Economia.
Nos últimos dias, o grupo recebeu várias visitas de apoio, mas nem todas foram totalmente pacíficas. Esta terça-feira, Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS-PP, conversou com os manifestantes, mas foi rapidamente interrompido por Ljubomir Stanisic, um dos empresários que cumpre a greve de fome, assim que mencionou o CDS.
"Se voltares a falar de partidos, vou ter de te pedir para saíres", disse Stanisic, reforçando que o movimento é apartidário. A visita de Francisco Rodrigues dos Santos durou menos de dez minutos, e em declarações à RTP, o líder garantiu que foi convidado. "A minha vinda foi solicitada, não foi aparecer e colar-me a um movimento espontâneo da sociedade civil", disse o presidente do CDS-PP, que acrescentou que ainda "nenhum membro do governo ou mesmo um deputado da Assembleia" tinha descido as escadas para conversar com o grupo.
No entanto, o movimento Sobreviver a Pão e Água garante que não convida líderes partidários. "Convidados, não são. Têm-nos abordado para aparecer, e a única coisa que a gente pede é que os líderes dos partidos venham enquanto cidadãos preocupados com a nossa situação", afirmou José Gouveia, da Associação Nacional de Discotecas, e membro do movimento, também à RTP.
No mesmo dia, também André Ventura visitou os manifestantes em greve, garantindo que a sua presença era apenas como cidadão. "Acho que estes homens e estas mulheres estão a fazer uma luta heróica por algo que lhes é devido e justo", disse o líder do Chega. No entanto, apesar da garantia que visitava o acampamento só como cidadão comum, horas antes, o partido enviou um comunicado a comunicar a visita do presidente do Chega aos manifestantes em greve de fome.
Movimento já é notícia nos meios internacionais
Ao sexto dia de greve de fome, a manifestação do movimento Sobreviver a Pão e Água já chegou aos meios internacionais espanhóis, franceses, brasileiros e norte-americanos, entre outros. Publicações como a "Courrier International", a Euro News, o "Metro US" e a agência Reuters já deram conta do protesto.
A agência noticiosa fez mesmo título com a frase "precisamos de apoio" e citou Alberto Cabral, um dos empresários em greve de fome, que garantiu que todos tentam "manter a cabeça à tona de água". A notícia também salientou que os manifestantes estão a viver há vários dias apenas de água, chá e café, e que só voltam a comer assim que forem recebidos por António Costa ou Siza Vieira.
No entanto, não parecem existir intenções da parte do governo português de realizar o encontro. Num comunicado divulgado pelo ministério da Economia em reação ao movimento, o ministério voltou a afirmar que mantém um diálogo permanente com as associações representativas dos diversos setores de atividade económica.
No mesmo documento, o governo lembrou que já abriram as candidaturas a apoios para o setor da restauração, dizendo que o programa já recebeu 26 mil candidaturas. O programa Apoiar prevê um montante global de 750 milhões de euros, 267 milhões dos quais a fundo perdido, escreve a "RTP".
Manifestantes recebem apoio e visitas de figuras mediáticas
As redes sociais encheram-se de partilhas de apoio ao movimento Sobreviver a Pão e Água: Dânia Neto, João Baião, Gisela João e Inês Aires Pereira foram apenas algumas das figuras públicas que partilharam vídeos de apoio aos empresários em greve de fome.
Já outros preferiram mesmo visitar o acampamento em São Bento, como Eduardo Madeira, e os dj's Kamala e Magazino, e têm existido vários mini-concertos em apoio aos empresários. Bárbara Bandeira, Kasha, dos D.A.M.A. e o The Legendary Tigerman foram alguns dos artistas que tocaram para os empresários, que também já receberam a visita de bandas e fadistas.
A par da greve de fome, existe a circular uma petição pública criada pelo movimento a pedir uma audiência com o primeiro-ministro ou com o ministro da Economia. No documento, pode ler-se que os membros do movimento Sobreviver a Pão e Água só querem ser ouvidos. "O que pedimos é que olhe para nós. Que nos ouça. Que nos deixe ser parte da solução e não nos deixe para trás, como um problema."
"Até hoje, fomos bandeira do nosso país. Levámos o nosso nome por esse mundo afora e trouxemos o mundo até nós. Conquistámos prémios em nome de Portugal, usando o país no peito. Trouxemos investimento, turismo, prestígio, receita. Pedimos que o nosso país nos escute agora e nos apoie como sempre o apoiámos", escrevem os membros do movimento no texto que apresenta a petição pública que, até à data de publicação deste artigo, já conta com mais de 65 mil assinaturas. Um vídeo divulgado no Instagram do movimento mostra também o momento em que os manifestantes mostram as mais de 119 mil assinaturas recolhidas fisicamente.