Não se pode falar da noite de Lisboa, do seu lado mais undeground, sem falar de Mónica e do seu show erótico diário que já se tornou uma referência do pequeno e quase sempre lotado bar Viking, no Cais do Sodré. Sempre que se aproxima a hora do espetáculo, o porteiro, o Sr.Loureiro, coloca-se junto ao pequeno palco ao fundo da sala. Não é segurança, mas a sua presença é suficiente para garantir o distanciamento entre a dançarina e o público. O show dura 20 minutos e depois disso, Mónica desaparece.

Há uma legião de fãs que se aproxima do palco em todos os espetáculos, enquanto grita o nome de Mónica e tenta tocar-lhe. Há os repetentes, os novatos, os curiosos, mas todos vieram para ver o show que começa com uma dança sensual e alguns movimentos no varão. Num sábado normal, o Viking recebe cerca de 400 pessoas e a grande maioria está ali para ver o espetáculo erótico. Mas quem é Mónica? Qual é a sua história?

“Já não sou nova e o bar vai mudar com o tempo e vai ter outra pessoa mais nova.”
“Já não sou nova e o bar vai mudar com o tempo e vai ter outra pessoa mais nova.”

São 22h20 de quinta-feira, 7 de novembro, e estamos à porta do Viking Bar. A noite não está tão fria como prometia e para a maioria dos estrangeiros que aqui se encontram até está bem quente. Mónica ainda não chegou. Combinámos às 22h30. "Alô. Já estamos na entrada", dizemos-lhe através de uma mensagem no Facebook. Alguns segundos depois, a resposta: "Ok. Já vou".

Não demorou. Vinha a falar ao telefone e de cigarro na mão. O tabaco é o único vício que admite ter, contou-nos mais tarde. Esperamos alguns minutos pelo Sr. António e pela responsável pela comunicação do espaço, Inês Coelho. Entrámos e sentámo-nos numa mesa ao canto, do lado direito do palco.

Mónica pediu um RedBull — não bebe álcool. Acendeu um cigarro e começou a conversa. Tem 42 anos e chegou ao Viking a 1 de julho de 2013, para substituir Fabiana, a stripper que "deu vida à casa". Antes disso, trabalhou noutros bares e voltou à Roménia, país onde nasceu.

Mónica tem 42 anos e veio para Portugal em 2005
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Na rua cor de rosa, depois da ponte, à direita, todas as noites se forma uma fila para assistir ao show de dança mais conhecido na cidade. Depois de Fabiana, chegou Mónica que manteve a fasquia lá em cima, mas num registo diferente, admite. "A Fabiana era diferente. Ela é brasileira e as brasileiras são mais comunicativas. Eu gosto de ficar no meu cantinho, não gosto assim muito de falar com as pessoas”.

Não aceita pedidos de amizade no Facebook, não mantém contacto com as pessoas depois do show e não tira fotos com ninguém — Mónica é reservada. E é por esse mesmo motivo que da vida pessoal, pouco quer revelar. Mas adiantou que é casada há dois anos e meio.

Chegou a Portugal vinda da Roménia em 2005 através de uma agência. Entre idas e voltas — durante um ano e meio não tinha visto de residência —, Mónica acabou por se estabelecer no País em 2009.

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Trabalhou durante algum tempo noutro bar, aprendeu a dançar com uma amiga, e entrou no Viking em 2013, onde não prevê ficar por muitos mais anos. “Já não sou nova e o bar vai mudar com o tempo e vai ter outra pessoa mais nova.”

Eram 22h30, hora de abertura do Viking, e já havia fila à porta. A gerência pediu que aguardassem um pouco. Mónica manteve-se na conversa, acendeu mais um cigarro e continuou a falar com a MAGG.

Em seis anos de casa, os clientes têm mudado. Já não são só homens que procuram o Viking e há cada vez mais mulheres a subir ao palco. Todos vêm atrás do mesmo: passarem pela experiência de estar no palco com a durona Mónica. Pouco lhes interessa a dança, todos querem é passar pela parte em que ela chicoteia, como nos conta a dançarina.

Quando sobem ao palco, fazem o que Mónica manda. Deita-os no chão, coloca-se em cima deles e tira as cuecas. Mas nada é o que parece. Mónica nunca fica nua, as cuecas só desapertam do lado da plateia. A parte preferida do público é quando bate no convidado. Coloca-lhe as mãos no varão e manda-o debruçar-se. Pega no cinto e bate-lhe. "Eu não gosto de aleijar as pessoas. Mas as pessoas gostam do barulho do cinto com mais força. É só brincadeira."

As fotografias não estão permitidas
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Por aqui passam mais de 400 pessoas numa noite de sábado. Não se lembra de todos os que subiram ao palco, mas há um ou dois que não esquece. O ator Pedro Teixeira é um deles. Inês Coelho, responsável pela comunicação do bar, interrompe Mónica: "O caso do Pedro Teixeira foi muito grave". Mónica continua. Em 2014, o ator e o elenco da novela "Beijo de Escorpião" dirigiram-se até ao Viking. Mónica não o conhecia — não vê novelas portuguesas. Depois de subir ao palco, Pedro Teixeira foi tratado como qualquer outro convidado — só não se comportou como a maioria.

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"Deu-me palmadas no rabo, faz parte do show, mas depois quando me ia ferrar no rabo, ferrou com muita força e magoou-me" continua, garantindo de seguida ter ficado "com as marcas" dos dentes do ator. Mónica quis processá-lo e só não o fez por razões financeiras. "É preciso muito dinheiro", revela, por isso deixou passar. Aos meios de comunicação que lançaram a noticia, o ator negou o sucedido. À MAGG, Pedro Teixeira não respondeu até à publicação deste artigo.

Mas por aqui os abusos são comuns. “Eu tirava as cuecas [quando se senta na cara do convidado], metia a mão e sentia a língua na minha mão. Agora peço ‘fecha a boca’. Queriam-me lamber", afirma com algum desprezo.

Nunca fez mais do que dançar, conta à MAGG, mas o preconceito que liga uma dançarina de strip a uma prostituta já vem do início da sua carreira. "[Num dos outros bares] pediram-me que fizesse um privado. Eu não sabia o que era, achei que era uma dança privada. Quando entrámos ele perguntou-me o que fazia e eu disse que não fazia mais do que dançar, e que nem me podia tocar. Não era isso que ele queria", pediu desculpa e saiu.

Aos 42 anos, Mónica sabe que não vai ficar no Viking por muito mais tempo. Nem nesta vida. Continua a alimentar o desejo de constituir uma família com o marido, ou seja, ter filhos. Para já, leva apenas uma vida relaxada, sem grandes preocupações. Não vai ao ginásio, não tem cuidados especiais com o que come, fuma, mas não toca em álcool.

Eram 23h10 quando a conversa terminou. Era hora de Mónica se vestir para o seu show. A primeira atuação estava marcada para a uma da manhã — a segunda seria às três. Era só mais um dia igual a tantas outros, com strip, chibatadas no rabo e muita gente em delírio. São assim as noites do Viking.